Tem bicho debaixo da minha cama!
Dormia num sono profundo, estava com muito frio e sentia arrepios, e assim acordei assustada com muito medo. Encolhida me enrolei na coberta macia e adormeci outra vez. Tive muitos pesadelos naquela noite, com monstros que se escondiam embaixo da minha cama, apavorada despertei novamente e gritei:
– Mãe! Mãe! Tem um bicho enorme embaixo da minha caminha, quero fazer xixi e não consigo colocar os pés no chão com medo do bicho morder meus pesinhos!
Minha mãezinha veio rapidamente e muito assustada, me abraçou e começou a contar uma linda história. Disse que toda noite quando eu já estava dormindo, ela vinha pé ante pé me olhar e toda vez conseguia ver um monte de anjinhos de mãos dadas ao meu redor, ela não conseguia entender bem o que diziam, mas percebia que cantarolavam baixinho uma doce melodia. Mamãe falou que eles eram os meus anjinhos da guarda.
– Quando estamos tristes e com medo, os anjinhos da guarda não estão perto da gente? – perguntei.
– Quando estamos tristes, nosso coração se fecha e não sentimos a sua presença. O anjo da guarda, sempre nos protege. Não há bicho embaixo da sua cama minha filha. É nossa imaginação que inventa essas coisas.
Mamãe conseguiu me acalmar naquela noite e adormeci tranquila, senti uma paz tão boa.
Em seguida, ouvi minha mãe me chamar:
– Filha vem cá! Vem... Vem depressa ver o que peguei!
Ainda sonolenta e esfregando meus olhinhos fui ao encontro dela, mamãe estava na varanda envolvida por uma neblina e, com as mãos estendidas para o alto dizia:
– Ah! Que pena! Que pena! Escapou, foi embora, escapou...
Curiosa, perguntei:
– O que escapou, mamãe?
– O anjinho que vi e tentei pegar para você poder vê-lo, segurei-o pelas asinhas, só que quando te chamei ele fez muita força para se soltar e com medo de machucá-lo soltei-o.
Fiquei maravilhada imaginando o anjinho, e ao mesmo tempo decepcionada por não tê-lo visto.
Quando acordei percebi que tive um lindo sonho. Chamei a minha mãe e contei meu sonho para ela.
Minha mamãe notou que eu estava triste, me pegou no colo e falou:
– Filha, tem coisas que não podemos ver se não o encanto acaba, se você o tivesse visto, talvez ele não pudesse mais voltar. Vê-lo significaria apegar-se a ele e querer tê-lo. E os anjos representam amor, paz e liberdade, coisas que não podemos ver ou ter, só sentir.
Conformei-me porque preferia saber que os anjinhos estariam sempre pertinho de mim cantando ao meu redor e me guardando por todas as noites, do que tê-lo visto.
e partir desse dia comecei a dormir tranquila, sem pesadelos, sempre sonhava com os anjinhos cantando melodias suaves e nunca mais tive medo de monstro embaixo da minha cama.
RADICH, Sandra Ferrari - Coleção desperta criança poeta – vol.II, “O medo é um estado de Poesia” – Prosa e poesia – Editora Mágico de Oz, Lisboa, 2014, pag. 28, 29 - 1ᵅ edição.