O ipê-amarelo
Ela era uma árvore alta e no meio da rua. E como estava no período da floração, ficou totalmente carregada de flores amarelo-ouro, que se revelaram na manhã como o colorido da paisagem do cerrado. Tinha o tronco e galhos despidos de folhas; mas isso não retirou seu efeito ornamental, pois era um bem para o olhar, para a alma e para a sensibilidade de qualquer um.
E a notícia se espalhou: o ipê-amarelo estava coberto de flores. O resultado foi rápido – as pessoas se demoravam um pouco mais pelas ruas, e teciam comentários sensíveis ao que a árvore sentiu-se cheia de vida com tantos olhares de admiração.
Mas era setembro e, olhares à parte, o ipê-amarelo passou a derrubar flores ao chão.
Uma tarde, não escondeu sua indignação diante de um passante:
_ Logo ficarei sem flores e desconfio que, após isso, não haverá muitas pessoas olhando-me delicadamente.
_Talvez sim, _ ponderou o homem, conciliador _ Mas lembre-se de que os ipês dão cor e vida na época mais seca e quente do ano e, sendo assim, você nos traz um tom de primavera.
_ Ah, sou uma árvore que nasceu para sofrer _ falou bem perto dele, quase num sussurro _ Não fico muito tempo florida.
Enquanto falava não pôde segurar umas flores que fugiram com o vento, porque seus galhos estavam debruçados para ouvir o homem.
_ Você vê?... _ completou ainda numa voz partida de angústia.
Quando o homem ia ponderar, um beija-flor pousou no ipê, beijou algumas flores e saiu para polinizar outras flores, de outros ipês.
O passante desabrochou um sorriso, permaneceu ainda por instantes olhando as pétalas no chão e comentou com outro passante que também admirava as flores:
_ Que beleza de ipê-amarelo!