A PIPA QUE VEIO DO CÉU...
Era uma manhã clara e ensolarada de outono e eu, como de costume, preparava a roupa suja para ser lavada. Enquanto o tanque enchia Gabriel, meu filho pequeno sentado no chão da área de serviço brincava com alguns carrinhos. Era sempre assim quando eu estava de folga do hospital em que trabalhava, Gabriel ficava ao meu redor, para lá e para cá tagarelando, e brincando. Nas minhas folgas eu dispensava a ajuda das minhas filhas, duas filhas mais velha, para que saíssem um pouco, fossem a praia com as amigas, pois cuidavam dele a semana toda, e, diga-se de passagem, Gabriel dava muito trabalho! Não que ele fosse “levado”mas, uma criança com quatro anos de idade e morando em um apartamento no terceiro andar de um prédio, com pouco espaço para brincar, o deixava meio agitado. À tardinha, sempre que possível eu passeava com ele pela pracinha para que andasse de bicicleta, ou andava pela praia para que se distraísse, e gastasse um pouco de energia. Gabriel gostava de brincar na areia da praia ou correr atrás dos meninos que empinavam pipa e ficava fascinado olhando-as tão lindas e coloridas, se agitando lá no céu azul, e corria prá mim e dizia:- - Mamãe um dia você compra uma dessas prá mim, uma bem bonita? Eu concordava é claro, mas eu sabia que ainda iria demorar um pouco prá que ele pudesse brincar com uma pipa daquelas, ele ainda era pequeno e com certeza se atrapalharia todo com as linhas, enfim com a pipa. Certa vez eu comprei uma, que não durou meia hora Mas para satisfazê-lo eu improvisava em casa, umas pipas feitas de um papel qualquer, que ele em poucos minutos destruía enroscando em algum lugar. Muitas vezes eu amarrava uma sacola plástica de supermercado e ele passava horas na sacada do apartamento em pé num banquinho, empinando até se cansar, e se divertia vendo a sacola voar cheia de ar!
Nessa manhã, em que eu me referia no início da minha narrativa, Gabriel sentado no chão, brincava com alguns carrinhos, quando em determinado momento, enquanto esvaziava a água do tanque, eu me debrucei na área de serviço para olhar o pátio do prédio, como eu sempre fazia e, reparei em uma linha que estava enroscada na parede do nosso prédio e seguia junto a uma janela fechada de um apartamento no segundo andar, dali ela seguia esticada e passava por dentro de uma palmeira alta que havia no jardim do prédio vizinho e dali ela subia para o céu azul, limpo sem nuvem! Parecia uma linha de pipa, mas e onde estava a pipa? Acompanhei com o olhar todo o trajeto da linha e não avistei absolutamente nada! O céu estava de um azul lindo, limpo, mas não tinha nenhuma pipa no céu e nem pássaro, nada! Fiquei intrigada pois, com certeza teria que ter alguma coisa na ponta daquela linha para faze-la ficar tão esticada rumo ao céu. Então, peguei uma vassoura e amarrei em uma vara de pescar e tentei alcançar a linha e puxá-la até o andar em que eu estava. Depois de várias tentativas e com muito esforço consegui laçá-la e ela se desprendeu da palmeira e ficou retesada rumo ao céu, foi então que eu disse ao Gabriel:-- Filho, acho que peguei a linha de uma pipa, só ainda não sei onde está a pipa? Gabriel todo eufórico veio rápido até onde eu estava e juntos começamos a puxar a linha. Puxamos, puxamos e puxamos muita linha e nada... Olhávamos para o céu e ele continuava azul e limpo como antes, e dizíamos um para o outro: --O que será que está amarrado na ponta dessa linha toda? A varanda já estava repleta de linha, e de vez em quando parávamos de puxar para olhar o céu, que continuava azul e limpo. Em determinado momento olhamos e vimos um pontinho preto minúsculo, mas que não acreditamos que estivesse ligado a linha pois ele estava muito longe! E continuamos a puxar. Percebi que na medida em que puxávamos a linha, o pontinho preto ia aumentando então pensamos que talvez um pássaro tivesse com a linha enroscada nos pés, mas se fosse um pássaro não teria desaparecido no céu, voaria mais baixo, e ele não resistiria a uma linha tão forte enroscada nos pezinhos? Mas como saber o que estava na ponta daquela linha? O jeito era continuar puxando, agora já se tornara uma questão de honra, para nós! Precisávamos descobrir o que havia na ponta daquela linha? Depois de mais de trinta minutos puxando a linha, e a área de serviço completamente forrada de linha, deu prá perceber que aquele pontinho preto tinha uma cor, ele era alaranjado! Gabriel, que a tudo acompanhava e ajudava, deu um grito eufórico de alegria: Mamãe é uma pipa! É a minha pipa! Ela veio do céu! Empolgados continuamos puxando até que já bem mais perto deu prá ver que se tratava de uma pipa de cor alaranjada e calda preta. A alegria de Gabriel era contagiante! A cada instante a pipa ficava mais perto. Já bem próximo do nosso prédio ela se enroscou no prédio vizinho, e temi que ela se perdesse depois de tanto esforço para trazê-la de tão longe! Parei de puxá-la e com muito jeito fiz com que ela se desenroscasse e a trouxe até nós. Mal acreditei quando segurei a pipa e a coloquei nas mãos do meu filho! Ela estava ali, e a tínhamos trazido de tão longe, do céu! Foi emocionante ver a alegria do meu filho! Nunca imaginei que uma pipa pudesse ir tão distante! A quantidade de linha que ficou no chão da área era indescritível! Não sei até hoje, como explicar o acontecido!
Mas a alegria e a felicidade do meu filho ao segurar aquela pipa nas mãos sabendo o quanto ela estava longe!... Foi demais pra mim!
E foi assim que Gabriel teve sua primeira pipa... uma pipa que veio do céu!
Sonia Maria Piologo
Era uma manhã clara e ensolarada de outono e eu, como de costume, preparava a roupa suja para ser lavada. Enquanto o tanque enchia Gabriel, meu filho pequeno sentado no chão da área de serviço brincava com alguns carrinhos. Era sempre assim quando eu estava de folga do hospital em que trabalhava, Gabriel ficava ao meu redor, para lá e para cá tagarelando, e brincando. Nas minhas folgas eu dispensava a ajuda das minhas filhas, duas filhas mais velha, para que saíssem um pouco, fossem a praia com as amigas, pois cuidavam dele a semana toda, e, diga-se de passagem, Gabriel dava muito trabalho! Não que ele fosse “levado”mas, uma criança com quatro anos de idade e morando em um apartamento no terceiro andar de um prédio, com pouco espaço para brincar, o deixava meio agitado. À tardinha, sempre que possível eu passeava com ele pela pracinha para que andasse de bicicleta, ou andava pela praia para que se distraísse, e gastasse um pouco de energia. Gabriel gostava de brincar na areia da praia ou correr atrás dos meninos que empinavam pipa e ficava fascinado olhando-as tão lindas e coloridas, se agitando lá no céu azul, e corria prá mim e dizia:- - Mamãe um dia você compra uma dessas prá mim, uma bem bonita? Eu concordava é claro, mas eu sabia que ainda iria demorar um pouco prá que ele pudesse brincar com uma pipa daquelas, ele ainda era pequeno e com certeza se atrapalharia todo com as linhas, enfim com a pipa. Certa vez eu comprei uma, que não durou meia hora Mas para satisfazê-lo eu improvisava em casa, umas pipas feitas de um papel qualquer, que ele em poucos minutos destruía enroscando em algum lugar. Muitas vezes eu amarrava uma sacola plástica de supermercado e ele passava horas na sacada do apartamento em pé num banquinho, empinando até se cansar, e se divertia vendo a sacola voar cheia de ar!
Nessa manhã, em que eu me referia no início da minha narrativa, Gabriel sentado no chão, brincava com alguns carrinhos, quando em determinado momento, enquanto esvaziava a água do tanque, eu me debrucei na área de serviço para olhar o pátio do prédio, como eu sempre fazia e, reparei em uma linha que estava enroscada na parede do nosso prédio e seguia junto a uma janela fechada de um apartamento no segundo andar, dali ela seguia esticada e passava por dentro de uma palmeira alta que havia no jardim do prédio vizinho e dali ela subia para o céu azul, limpo sem nuvem! Parecia uma linha de pipa, mas e onde estava a pipa? Acompanhei com o olhar todo o trajeto da linha e não avistei absolutamente nada! O céu estava de um azul lindo, limpo, mas não tinha nenhuma pipa no céu e nem pássaro, nada! Fiquei intrigada pois, com certeza teria que ter alguma coisa na ponta daquela linha para faze-la ficar tão esticada rumo ao céu. Então, peguei uma vassoura e amarrei em uma vara de pescar e tentei alcançar a linha e puxá-la até o andar em que eu estava. Depois de várias tentativas e com muito esforço consegui laçá-la e ela se desprendeu da palmeira e ficou retesada rumo ao céu, foi então que eu disse ao Gabriel:-- Filho, acho que peguei a linha de uma pipa, só ainda não sei onde está a pipa? Gabriel todo eufórico veio rápido até onde eu estava e juntos começamos a puxar a linha. Puxamos, puxamos e puxamos muita linha e nada... Olhávamos para o céu e ele continuava azul e limpo como antes, e dizíamos um para o outro: --O que será que está amarrado na ponta dessa linha toda? A varanda já estava repleta de linha, e de vez em quando parávamos de puxar para olhar o céu, que continuava azul e limpo. Em determinado momento olhamos e vimos um pontinho preto minúsculo, mas que não acreditamos que estivesse ligado a linha pois ele estava muito longe! E continuamos a puxar. Percebi que na medida em que puxávamos a linha, o pontinho preto ia aumentando então pensamos que talvez um pássaro tivesse com a linha enroscada nos pés, mas se fosse um pássaro não teria desaparecido no céu, voaria mais baixo, e ele não resistiria a uma linha tão forte enroscada nos pezinhos? Mas como saber o que estava na ponta daquela linha? O jeito era continuar puxando, agora já se tornara uma questão de honra, para nós! Precisávamos descobrir o que havia na ponta daquela linha? Depois de mais de trinta minutos puxando a linha, e a área de serviço completamente forrada de linha, deu prá perceber que aquele pontinho preto tinha uma cor, ele era alaranjado! Gabriel, que a tudo acompanhava e ajudava, deu um grito eufórico de alegria: Mamãe é uma pipa! É a minha pipa! Ela veio do céu! Empolgados continuamos puxando até que já bem mais perto deu prá ver que se tratava de uma pipa de cor alaranjada e calda preta. A alegria de Gabriel era contagiante! A cada instante a pipa ficava mais perto. Já bem próximo do nosso prédio ela se enroscou no prédio vizinho, e temi que ela se perdesse depois de tanto esforço para trazê-la de tão longe! Parei de puxá-la e com muito jeito fiz com que ela se desenroscasse e a trouxe até nós. Mal acreditei quando segurei a pipa e a coloquei nas mãos do meu filho! Ela estava ali, e a tínhamos trazido de tão longe, do céu! Foi emocionante ver a alegria do meu filho! Nunca imaginei que uma pipa pudesse ir tão distante! A quantidade de linha que ficou no chão da área era indescritível! Não sei até hoje, como explicar o acontecido!
Mas a alegria e a felicidade do meu filho ao segurar aquela pipa nas mãos sabendo o quanto ela estava longe!... Foi demais pra mim!
E foi assim que Gabriel teve sua primeira pipa... uma pipa que veio do céu!
Sonia Maria Piologo