Os ratinhos do Maurício
Maurício sabia que o sótão de sua casa era o pai dos mistérios. A mãe não o deixava ir lá: dizia que era deposito de coisas velhas e cheias de pó que o fariam ficar espirando a semana inteira. Mas o menino não se enganava.
Todas as noites, quando ia dormir, ele ouvia a movimentação lá em cima. Passinhos miúdos, guinchos abafados pelo teto que o separava do cômodo misterioso. Lá em cima, ele sabia, viviam os ratinhos que volta e meia ele avistava pela casa ou no jardim, em passeios furtivos. Gostava dos bichinhos, eram miudinhos e simpáticos, e quando os via, nada dizia à sua mãe, que os odiava.
Imaginava que eles tivessem uma pequena vila escondida entre as caixas velhas de papelão e as outras tranqueiras que seu pai às vezes levava para o teto, como se ele fosse o cemitério das coisas estragadas. E Maurício tinha certeza de que os ratinhos se alegravam com cada novo objeto e utilizavam as coisas para construir novas casas.
Sabia, também, que eles jogavam futebol. Não havia outra explicação para as correrias lá em cima e os guinchos exaltados. Sim, estavam jogando e reclamavam, com o juiz, assim como gente grande. Devia ser divertido, ele queria assistir a uma partida.
Quando contava para a mãe essas coisas que sabia, ela sorria.
-Que imaginação, guri! – Dizia simplesmente.
“Como a minha mãe é boba! Será que ela não sabe que os ratos moram lá em cima? Nem que um deles é meu amigo e brinca comigo de vez em quando? Acho que os adultos não sabem como é isso... E talvez seja por isso que os ratinhos só brincam comigo!”, pensava.