A menina da chuva
“Olha, que vai chover!”
Mas nunca chovia... E a menina sonhava, olhava para o céu, analisava as nuvens e pedia:
_ Deus, faz chover...!
Então, aconteceu. Um dia a menina vinha da escola e a chuva a seguiu. Os pingos batiam em seu caderno e a menina correu. E a mesma chuva foi com ela.
Ela se escondeu debaixo de uma árvore, mas desciam gotas pequenas e frias molhando-lhe os cabelos, que lhe desceram úmidos pelos ombros.
Ouviu um trovão mais forte... – as nuvens escureceram...
Decidiu-se ir para casa...
A chuva foi atrás...
Ela andava por cima das calçadas, apressada, e a chuva molhava todos os passantes.
Quando entrou em casa, as telhas começaram a derramar água – e na cisterna os pingos de água caindo no fundo.
E, os pais descobriram que a chuva tinha vindo com a menina.
_ Já viu, mulher? Agora nossa roça vai pra frente... Vamos levar esta menina amanhã com a gente pra plantar feijão e arroz...
À noite, a menina rezou ouvindo as gotas que caiam mansinhas, serenando... embalando o sono... esfriando o quarto... que ela dormiu tão bem.
Lá vai ela, com os pais, com um chapéu de palha na cabeça...
E por todo o dia a menina caminhou na roça, enquanto a chuva a seguiu a cada passo que dava.
Mas a menina estava cansada e toda molhada. Sentiu um frio nos braços e pernas quando foi sentar à mesa para jantar.
_ Não vai brincar um pouquinho com sua boneca? Vai, que vou fazer um chá de folhas de laranjeira para você dormir bem...“ _ Era a mãe falando, olhando-a com ar de abençoada.
No outro dia a menina teve de ir à roça e não foi novamente à escola. E, assim, foram mais outros dias que se seguiram. A menina nem parecia querer sorrir, vivia molhada e com frio, na ponta do nariz, até.
Muitas noites quis chorar de medo da chuva que a seguia, e pensava no sol que brilhava logo de manhã com uma expressão tão grande de saudade que o choro se confundiu com o som da água no telhado. Assim ela dormiu.
E como o mundo é cheio de mistérios, com ventos indo e vindo, ele levou a chuva logo que o galo cantou.
Tudo tem um modo particular de ser. Os passarinhos voavam com um canto bem inocente que a menina correu feliz pelo caminho da escola.
É assim... que a vida segue no sertão...