O Menino e o Poeta

Certa manhã um poeta estava caminhando por uma avenida
muito movimentada da cidade onde morava, quando de repente
começou a sentir uma forte dor de cabeça, ao ponto de
ter que interromper sua caminhada para tentar se recuperar.
A dor era tanta que ele foi se sentindo fraco, e mais fraco,
até que se sentou, ali mesmo na calçada.
De repente, um menino que vinha passando, aproximou-se dele
e com olhar preocupado lhe perguntou.

- Moço, o senhor está passando mal ?

O poeta surpreso por ver um garotinho tão jovem, preocupado
e tentando ajudar um desconhecido olhou para o menino.

- Sim mas agora já estou melhorando, porque pelo visto
Deus teve pena de mim e enviou um anjo para me socorrer,
você é um anjo não é mesmo ?

- Não moço, sou apenas um menino, estou indo na padaria
comprar pão para mamãe, mas vi que o senhor estava parado
aqui e fiquei preocupado pois parecia estar passando mal.

- Não eu tenho certeza que você é um anjo.

O garotinho ficou muito curioso e logo perguntou ?

- Mas os anjos não são bons, como posso ser um anjo se
as vezes desobedeço meus pais, brigo com minha irmãzinha,
apronto na escola, e faço um tanto de coisas erradas
igualzinho as outras crianças que eu conheço ?

O poeta, encantado com o raciocínio lógico e crítico
de uma criança, que parecia tão ingênua responde sorrindo.

- Tive certeza que você era um anjo quando vi o seu olhar
ao se aproximar de mim, só um anjo possui esse tipo de olhar.

- Como pode saber como é o olhar de um anjo, já viu um ?

- Oh sim, até tenho dois anjinhos lá em casa.

- É mesmo e como eles são. Perguntou curioso o menino.

- São a coisa mais importante que eu tenho na vida,
e todos os dias agradeço a Deus por eles, são meus filhos.

E aquele garotinho, como qualquer criança curiosa da idade dele
responde ao poeta na maior naturalidade.

- Ora moço, são só duas crianças, não são anjos. Então me prove.

O poeta agora sem nem mais se lembrar da dor de cabeça,
pois após um encontro com uma criança tão agradável,
se levanta, fazendo menção de querer ir embora e diz.

- Dê um sorriso para mim.

O menino atende o pedido e sorri docemente para ele.

- Pronto, está provado que você é um anjo porque
ao se aproximar de mim agora a pouco, o seu olhar
de preocupação comigo me trouxe muita alegria,
e depois desse seu lindo e doce sorriso para mim,
não estou mais sentindo aquela terrível dor de cabeça,
só um anjo pode fazer uma coisa assim acontecer.

Nesse momento, o garotinho se lembrou da tarefa
que sua mãe havia lhe dado para fazer, e disse ao poeta.

- Olha, fico feliz pelo senhor pensar que eu seja um anjo
mas agora preciso correr, se não minha mãe fica brava comigo.

E saindo em disparada calçada afora em direção a padaria,
comprou logo o pão e chegando em casa falou para sua mãe.

- Mamãe, mamãe, eu sou um anjo, eu sou um anjo.

Sua mãe sem entender nada, simplesmente lhe respondeu.

- Tudo bem meu querido anjinho, mas assim mesmo o senhor
vai ter de ir pra escola, quem mandou demorar na padaria,
agora tome logo seu café e acho bom se apressar pois
a escola é longe e você vai cansar de bater suas asinhas.


O mais interessante em toda essa história é que aquele poeta,
que nesse momento já havia retornado para sua casa,
tinha deixado sobre sua escrivaninha o esboço de um poema
que a dois dias ele começara a escrever.
E esse poema falava justamente, sobre a beleza existente
no olhar e no sorriso de uma criança inocente.

Ele então pensou.

- Tenho certeza que aquele menino era um anjo...