"tita, a veadinha domesticada"

Personagens:

Seu Bentinho: dono do sítio

Dona Nenza: Esposa do Seu Bentinho

Toni: filho do Seu Bentinho

Zefa: filha do Seu Bentinho

Joãozinho: filho do Seu Bentinho

Seu Pio: visinho de sítio

Tita: veadinha

Trovão: burro

Personagem principal: Veadinha Tita

Era uma vez ...

No sítio São José, de propriedade do Seu Bentinho, perto da cidade de Montes Claros nas Minas Gerais, uma história triste e alegre ao mesmo tempo.

E assim aconteceu...

Quando o silêncio toma conta daquele paraíso, ar puro e brisa suave, o galo crista de serra, lá empoleirado na mangueira, entoa sua primeira nota: cocoricooooó... canto longo e cristalino; anunciando mais um dia no sítio São José. Parecendo ter um relógio, o galo, na hora certa – lá para as cinco da manhã – começa a cantar, despertando os moradores do sítio.

Como de costume, toda manhã, Seu Bentinho, levanta-se, banha o rosto e caminha para a cozinha. Lá, apanha na prateleira de madeira, feita pelo filho mais velho, Toni; a chaleira – companheira já há muito tempo – põe pelo meio de água e acende o fogão a lenha. Enquanto a água não ferve, abre a porta da cozinha para respirar ar puro; natural. Depois de um tempo, retorna à cozinha e apanha aquele coador surrado, remendado, mas que pode ser usado ainda por um bom tempo; põe quatro colheres do pó de café colhido, torrado e moído por ele mesmo e quando joga a água fervente em cima do pó, o cheiro chega a incomodar os que ainda estão dormindo; espalha pela casa toda. Em seguida, toma uma copada e vai correr o olho nas coisas.

Dona Nenza, despertada com o cheiro bom do café, também levanta-se, banha o rosto e vai até a cozinha espiar o que o marido faz; aproveita e toma um gole do café quente que desce queimando. Da porta da cozinha, vê o marido no curral, preparando para retirar o costumeiro leite de cinco vaquinhas.

Arreador no ombro, balde na mão, banquinho na posição, aparta os bezerros mais novos para a “tiração” do leite.

Enquanto o leite não chega para a fervura – parte dele – já que a outra parte é para fazer queijo que tem freguês certo lá na feira; Dona Nenza, corre a vassoura na casa, como de costume, lembrando do feijão para catar e pôr no fogo, já que lá para as dez horas, o almoço tem que está pronto, na roça se almoça é cedo.

Seu Bentinho, depois da “tiração” do leite, solta as vacas com os bezerros para o pasto; dependurando o arreador e o banquinho no travessão do curral; pega a leiteira com o leite e vai em direção à cozinha; deixando em cima da mesa para Dona Nenza separar; processando o leite, transformando – depois de algum tempo – em massa, que transformará em queijo.

Saindo da cozinha, Seu Bentinho, vai até o quarto de arreio, pega o cabresto e caminha no rumo do mangueiro que está o burro Trovão. Avistando-o, Seu Bentinho, parte em sua direção até a distância que possa pôr o cabresto. Puxa- o até o curral; a sela, já está esperando... Encilha-o e monta-o para sua observação diária; reparando cercas, observando o gado e respirando o ar mais puro do mundo. A passo, vasculha tudo.

Quando estava voltando para casa, depois de um tempão no lombo do burro Trovão, perto da barragem, lá na curva da estrada, próximo dos dois morros; o “Trovão”, assusta, estaca as orelhas, como se estivesse avisando algo, freia bruscamente, dá um soprado; Seu Bentinho, puxa as rédeas e se equilibra para não cair da sela. Quando de relance, cruza na sua frente, um veadinho, desesperado, saltando sem direção; ofegante.

Seu Bentinho, vira o burro na sua direção e acelera atrás do veadinho, que de tanto correr, cansado, n´um salto, se atira na moita fechada, para se esconder. Percebendo que estava ali debaixo, Seu Bentinho, apeia do burro, com bastante cuidado para não fazer barulho e aproxima da moita. Observa e vê o veadinho muito cansado, stressado, ofegante, deitado. Seu Bentinho, dá a volta por trás e pula no veadinho, segurando com força para tirar sua reação. Espera por uns instantes até acalmar e com jeito, segura o veadinho pelas pernas traseiras. Momento em que os dois cães de caça latindo muito, chegam para tumultuar e deixar ainda mais nervoso o veadinho. Com um grito de ordem, manda os cães irem embora. Com medo do Seu Bentinho, afastam-se rapidamente. Com carinho, segura o veadinho e puxa as rédeas do burro a pé em direção da sede da fazenda. Chegando lá sem saber ainda o que fazer com o veadinho, leva-o até o cercado que fez para criar galinhas. Solta-o lá dentro e sai de perto para acalmá-lo. Fica observando de longe as suas reações.

No outro dia... devagar aproxima do cercado e o vê o veadinho no canto da cerca ainda assustado, com olhos arregalados, com medo de tudo, até mesmo de comer e beber.

Seu Bentinho com aquela paciência espera...

Depois de horas, lá no cercado, o veadinho arrisca dar umas voltinhas, não muito longe é verdade e volta rapidamente para o canto da cerca onde parecia se sentir seguro.

Seu Bentinho, pega na horta umas folhas de couve, alface e joga no meio do cercado para ver se a veadinha tem interesse nas hortaliças; mas ela nem se mexe e ele fica preocupado com a situação. Se ele não comer e nem beber, vai enfraquecer e morrer.

Chateado por ter trazido a veadinha – agora tinha certeza que era uma fêmea - para casa e causar um mal para ela, decide até em soltá-la, mas pensa um pouco e decide esperar mais um pouco. Mesmo porquê se soltasse ela os cães com certeza achariam ela e sem chance seria presa fácil.

Já de tardezinha lá para as cinco e tanto, chegando a noitinha, depois do banho e ter aproveitado bem o jantar, Seu Bentinho – como de costume – vai para a varanda assentar na cadeira de balanço para ouvir no radinho uma moda de viola, tomando aquele cafezinho.

De repente, aproxima da porteira que dá acesso ao quintal, o vizinho montado n´um cavalo bem arreado; cumprimenta e faz menção de descer da montaria. Seu Bentinho levanta-se e convida-o para “desapiar” – termo usado na roça para descer do cavalo – e aproximar; o que ele faz.

Chegou, entrou na varanda e foi logo se acomodando n´um banco de madeira que ali estava; Seu Bentinho chega até a porta da sala e pede Dona Nenza uma caneca e a garrafa de café – esse é o costume da roça, quando chega alguma visita, oferece o café com mistura. Dona Nenza, com aquele jeito educado e tranqüilo, aparece na varanda com a garrafa, copos e a bandeja; cumprimenta o vizinho, serve o café e pede licença e se retira, indo até a cozinha dar continuidade nos afazeres.

Seu Bentinho então, puxa a prosa perguntando das novidades. O vizinho, Seu Pio, com aquele jeito matuto, fala que está tudo na mesma; lembrando apenas das noites anteriores que foi dá uma caçadinha e abateu um catingueiro – nome dado ao veado. Seu Bentinho, n´um sobressalto lhe pergunta: Ói Pio, esse catingueiro que o senhor tombou era macho?

Seu Pio responde: Não Bento! Era uma fêmea e pelas têtas – o mesmo que peitos – parecia que tava parida. Mas eu não vi o filhote não!

Seu Bentinho naquele momento com o coração triste, lhe diz: Oi Pio; pois eu vi. Tava parida sim e eu trouxe a cria aqui prá casa.

Seu Pio surpreso, comenta: Ah! Bem que eu vi, mas engraçado... como que os cachorros não achou ela?

Seu Bentinho furioso responde: Seus cachorros quase junta ela lá na moita, eu que não deixei. Raiei – o mesmo que xinguei – com eles e pus prá correr da minha propriedade.

Seu Pio vendo que naquele momento o vizinho estava chateado pela situação, concorda acenando com a cabeça e diz: fez bem Bento! E arrisca uma pergunta: O senhor vai criar a “bichinha” como? Acomodando a cabeça no encosto da cadeira, diz positivamente: Vou fazer de tudo para ela ficar aqui em casa. Vou ajeitando ela de vagarzinho.

Seu Pio, faz um movimento com a boca, sente que está na hora de partir, agradece o café, se levanta, despede e sai.

Isso já passava das oito horas da noite; Seu Bentinho fica por ali com o radinho ligado pensando e Dona Nenza, lá da cozinha, chama o marido para entrar. Ele ouve mas fica ali matutando como vai fazer com o veadinho. Mas como de costume, todos os dias naquele horário, cumprindo um ritual, desliga o radinho de pilha, entra fecha a porta e fica por ali ainda uns minutos. Depois vai para o quarto dormir.

Quando Dona Nenza entra no quarto para se deitar, ele pergunta pelos filhos: Uê Nenza; hoje nem vi os meninos!

Ela paciente responde: Tá prá cidade, não chegou ainda não! Esses jovens gostam é da cidade, das festas. Seu Bentinho acena com a cabeça concordando.

E a noite transcorre tranqüila no sítio São José; nem viram quando os filhos chegaram da cidade...

Ainda escuro... o galo crista de serra, cumpre com seu ofício e ensaia suas primeiras batidas de asas e o primeiro cantado: “tá-tá-tá-tá-tá, cocoricocóóóóó...”

Daí a pouco, Seu Bentinho acorda e olha para a janela para ver se tinha amanhecido. Esperou na cama por uns instantes e logo levanta-se.

Dessa vez, foi direto ver a veadinha e reparou que as hortaliças não estavam lá; daí imaginou que a noite a veadinha tinha comido. Ficou satisfeito e retornou para casa fazer o café como sempre apreciava fazer. Aproveitou para ligar o radinho de pilha para ouvir as modas de viola e saber das notícias. Logo depois, dona Nenza levanta-se e passa em revista no quarto dos filhos, dá uma olhada para conferir e vai até a cozinha ver seu velho. Sentado n´um banco junto do fogão à lenha, Seu Bentinho fala com entusiasmo sobre a veadinha: - Nenza, qual o nome que vamos dar para a veadinha?

Dona Nenza, ainda na dúvida se a veadinha irá escapar ou não, diz: - Ué Bento, você vai criar ela mesmo?

Seu Bentinho, de pronto responde: - claro! Se soltar ela os cachorros do vizinho vão acabar com ela. Prefiro criar! Dona Nenza concordando, faz um aceno de cabeça positivo e arrisca um nome para a veadinha: porquê você não põe o nome dela de Tita. Seu Bentinho gostando do nome, aprova dizendo: - Tita... Tita! É ... um nome pequeno, fácil que vai dar certo com ela. É isso aí, a partir de hoje vai se chamar Tita.

Levanta-se do banco de madeira e vai até a horta colher hortaliças para o almoço, aproveita e tira para a veadinha também e leva até o cercado jogando no mesmo lugar dos dias anteriores. Lembra-se e apanha também umas espigas de milho. Observando, fica uns instantes e quando a veadinha manifesta dar alguns passos na direção da comida, ele afasta lentamente para não assustá-la. Ficou de longe vendo as reações dela; que por sua vez, acenando com a calda sem parar e abaixando a cabeça para comer as hortaliças. Seu Bentinho satisfeito, com a consciência tranqüila, deixa que ela tome a iniciativa de aproximar, sem stressar, com confiança.

E assim, depois de um tempo, aconteceu...

Todos os dias pela manhã e a tardezinha, Seu Bentinho leva a comida para ela, variando o cardápio com capim fresco e flor de ipê. Água, ela aprendeu beber no bebedouro do cercado feito para as galinhas. Em pouco tempo, estava adaptada e passeando no cercado. Seu Bentinho a cada dia foi aproximando um pouquinho dela. Levava a comida, que ela esperava ansiosa, punha no mesmo lugar de sempre e se afastava uns metros e parava; a veadinha Tita vinha bem devagar, ainda desconfiada, mas vinha e cheirando a comida começava a comer; qualquer barulho a assustava e ela corria para seu cantinho na cerca. Mas sempre com os olhos no Seu Bentinho.

Comia um pouquinho, dava as costas e Saia lentamente. Por vários dias Seu Bentinho usou dessa tática para conquistar a confiança da nova moradora do sítio da família.

Um belo dia... Seu Bentinho não levou a comida pela manhã de propósito para ver a reação de Titã; deixou passar do horário costumeiro e aproximando o almoço foi até a horta e colheu algumas hortaliças, capim e grama para ela. Ao se aproximar do cercado onde ela estava, viu que a veadinha o reconheceu e veio em sua direção. Seu Bentinho viu que estava perto de domesticá-la.

Entrou no cercado e puxou a portinhola fechando-a. A passos lentos foi em outra direção da costumeira, esperando que a veadinha o acompanhasse. Olhou por cima do ombro e viu a veadinha com a calda abanando vindo em sua direção com muito cuidado e lentamente. Esperou...

Quando sentiu que já estava uma distância considerada, pôs parte das hortaliças no chão e esperou ali mesmo. Tita aproximou pisando levemente sobre as folhas do quintal e desconfiada parou. Seu Bentinho, para dar mais coragem a ela, afasta-se por uns metros e fica observando-a. Ela entende e vem até a comida, cheira e arriscar pipinar a flor de ipê. Olha para ele com um olhar terno e triste de dá dó. Seu Bentinho faz um bocejo e estala os dedos como se chamasse um cachorrinho; ela dá dois passos para trás e fica reparando os gestos dele. Ele sai bem devagar e pára; ela abaixa a cabeça e vem em sua direção e estaca. Com o resto de hortaliças na mão, abaixa-se e põe no chão perto dele; a Tita aproxima e mais uma vez pára. Seu Bentinho satisfeito com a conquista, sai sem olhar para trás até a portinhola e quando a transpõe, verifica que a veadinha andou alguns metros atrás dele. Sorriu e foi para casa almoçar.

Após o almoço recolheu para tirar uma soneca de umas... meia hora.

Assim que acordou, foi direto para o cercado ver a veadinha, que tão logo o avistou veio em sua direção a passos contidos – mas veio - e abanando a calda. Seu Bentinho abriu a portinhola do cercado, entrou e fechou-a; dessa vez não tinha hortaliças na mão, queria testar a veadinha se todas as vezes que se aproximava era por fome ou se estava sentindo segurança com sua presença.

Deu alguns passos e parou, esperando que a veadinha se aproximasse, abaixou a cabeça e tirou os olhos dela – ao tirar os olhos dela e abaixar a cabeça, a veadinha não se sentiu uma presa dele - e cuidadosamente foi se aproximando.

Ficando uma distância considerável e segura. Estalando os dedos, Seu Bentinho chamou-a na certeza que alcançaria êxito na tentativa. O que não aconteceu. Paciente, voltou para casa deixando a Tita em paz.

Dias se passaram...

A confiança da veadinha a cada dia aumentou e ela mais tranqüila, passeava no cercado majestosa.

Seu Bentinho ao levar a comida, já brincava com a Titã; dando voltas prá lá e prá cá; ela seguindo e querendo sua comida logo; a fome apertava.

Seu Bentinho sempre depositava a comida no mesmo lugar, prá ela acostumar e não rejeitar os alimentos. Era também uma forma de domesticá-la.

Depois de uns meses, sentindo confiança, ariscou abrir a portinhola do cercado e verificar a reação da veadinha Tita fora dali.

No seu entender, confiante e refém da comida, Tita não iria sair daqueles domínios; de perto da sua casa.

Escolheu no domingo pela manhã sua soltura; mesmo porquê os filhos estavam lá e qualquer ajuda que necessitasse, os meninos o ajudariam.

No sábado, a expectativa era grande para o dia seguinte. Pela manhã, caminhou em direção do cercado; Dona Nenza, da cozinha, observava o movimento; espreitando pela janela.

Seu Bentinho abre a portinhola e caminha em direção do local onde costumava pôr a comida. Pára por uns instantes e percebe a Titã – agora a passos mais rápidos – ir em sua direção. Balbuciou algumas poucas palavras e virando as costas, saiu lentamente em direção da portinhola. A veadinha Tita no seu encalço, reivindicando seu “di comê” – comida na roça - , transpõe a portinhola e meio insegura, pára e olha ao seu redor. Seu Bentinho notando sua insegurança, põem a comida no chão e dá alguns passos lateralmente. Aguarda sem gestos ou acenos bruscos a reação da bichinha. Ainda desconfiada, dá sintoma de fome e abaixando a cabeça cheira a comida. Puxa e come um pedaço de comida e com a cauda vibrando, corre os olhos naquele novo ambiente. Seu Bentinho, anda em direção à varanda e pára, esperando que a veadinha Tita viesse ao seu encontro. Parada no mesmo lugar continua ela. Seu Bentinho, acostumado com a lida na roça e com os bichos, sentou-se no banco de madeira na varanda e esperou paciente...

De lá a veadinha Tita observava, paralisada e com medo de andar livremente; Seu Bentinho então lembrou-se da comunicação que sempre fez: estalando os dedos, chamou-a para junto dele. Ela desconfiada, abaixou a cabeça, cheirou novamente a comida e n´uma fração de esperança saltou a comida e lentamente caminhou em sua direção. Continuava estalando os dedos e agora falava palavra de carinho com a veadinha: vem Tita! Vem bichinha! Vem aqui vem! Dando a pensar que ela estava entendendo porque assim que calou, a veadinha Tita aproximou-se e ficando ali por alguns instantes.

Dona Nenza, curiosa, observa agora da sala, sem aproximar para não assustar a veadinha já que não tinha a confiança dela. Seu Bentinho, levantou-se e aproximou ao máximo que dava da Tita e esticando as costas da mão, ofereceu para que ela pudesse cheirar. Tita insegura com aquele mundo novo que estava começando a viver, não hesitou e esticou o pescoço em direção a sua mão e cheirou-a.

Seu Bentinho esperou uns instantes e recolheu a mão indo lentamente para a frente da sede; um gramado bem verde e espaçoso. A veadinha observando, acenando a cauda freneticamente, dando a entender que estava nervosa. Seu Bentinho novamente estalando os dedos chamou-a. Passados alguns minutos a Tita arrisca atender seu chamado e caminha em sua direção.

Alegre, Seu Bentinho – com a experiência que tinha – sentiu que a veadinha iria domesticar. Andou alguns minutos no gramado e a veadinha atrás; de lá da sala, Dona Nenza só espreitava. E balbuciando baixo dizendo: Esse Bento...

Essa rotina se prolonga por vários dias e semanas; agora de segunda a domingo; estava sempre livre; recolhendo somente a noitinha para dormir livrando de possíveis ataques de cães.

Dias, semanas e meses passam...

Os filhos do Seu Bentinho, adquiriram a confiança da veadinha e como um cachorrinho ela segue-os prá todo lado na fazenda.

Quando não quer mais andar, mira em direção a varanda e n´um cantinho especial da varanda, acomoda-se.

O tempo passa...

Já na fase adolescente, começa a criar mais coragem e visitar a mata perto da casa uns trezentos metros. Todos os dias, vai fica lá por um tempo e volta. Diariamente faz esse percurso. Talvez seu instinto animal auxiliando na adaptação ao seu habitat natural.

Dia desses, Seu Bentinho resolve dar uma passeada na mata e ver se encontra a Tita por lá. Depois de alguns minutos de caminhada, perto da aguada, vê alguns rastos no barro ainda úmido. Verifica que é de Tita; olha ao redor e não a ver. Continua andando n´um triero – na roça, triero é um caminho geralmente feito pelo gado onde passam todos os dias – e depois de alguns metros vê a Tita em posição de alerta com olhos vidrados para o triero. Aproxima-se bem devagar para não assustar a bichinha e estalando os dedos a chama: Tita! Titã! Vem cá bichinha! Reconhecendo a voz, ela abaixa a cabeça, cheira a relva e com a cauda acenando vai sem sua direção. Parando alguns metros de distância, observa feliz aquele que a salvou dos malvados cachorrões. Seu Betinho – homem acostumado com a vida – nota que ela passa o maior tempo do dia na mata, sente que logo a Tita fica de vez na mata; é o instinto falando mais alto. E não demora muito a previsão do Seu Bentinho vinga. Agora já adulta, o bichinho de estimação da fazenda cada dia afasta-se mais; indo somente para rever os amigos já que na mata tem tudo que ela precisa para sobreviver; e ainda mais, apareceu por lá um catingueiro – no meio rural nome dado a um veado – saudável e bem forte; um atleta, um perfeito companheiro para a estimada Tita. Numa tarde de sábado, Seu Bentinho avistou no barranco do rio o futuro companheiro de Tita; que ao sentir sua presença pelo cheiro, arrancou-se velozmente em direção a mata fechada. Os veados têem uma sensibilidade no olfato tremendo; percebem em longas distâncias a presença de outros animais e humanos.

Pois bem...

A família triste já não podiam contar mais com a presença do bichinho de estimação, já que ela definitivamente passam os dias e as noites embrenhada na mata com seu parceiro.

Menos mal – é preferível ela ir para seu habit natural e formar uma família, a ser morta por caçadores.

Dias passavam... e Seu Bentinho e Dona Nenza, ficavam olhando em direção da mata na esperança de rever sua veadinha Tita.

Um dia de tardezinha, Seu Bentinho saiu com o burro – a passo – em direção da mata com saudades da veadinha e curioso para ver se ela estava bem; era uns dez alqueires de mata e quando já sem esperanças de encontrá-la, avistou o macho no barranco do rio. Aproximou-se e ele foi saindo apressadamente; quando olhou para o lado direito da margem, Tita com um olhar terno e bem calma – creio que percebesse ser seu amigo bondoso – fita-o calmamente e para sua surpresa, sai do seu lado um filhote saudável e brincalhão. Seu Bentinho não consegue segurar e as lágrimas rolam face a baixo. Esboça um sorriso e agradece a Deus por ter sido ele o escolhido para cuidar daquela maravilha de animal.

O desejo e a saudade tamanha, faz com que ele não se contenha e repetindo o gesto que tantas vezes repetiu, o faz: estala os dedos e chamando-o diz: Tita, Titã, vem cá bichinha! A veadinha observa e agora com os olhos atentos no pequeno, como se estivesse despedindo, sai lentamente com a cria a sua frente brincando como se estivesse em um campo de diversões.

Seu Bentinho emocionado ainda tenta dizer alguma coisa e consegue apenas – devida a emoção – um “tchau Tita.

Puxando as rédeas do animal, a passo, partiu em direção da sede que ao chegar, relatou o acontecido a todos que ali estavam.

Ouve uma alegria incontida e ao mesmo tempo uma tristeza, pois sabiam que agora, Tita não mais adaptaria a vida doméstica. Agora ela tem uma família e viveria no seu habitat uma vida selvagem.

Por muito tempo, Seu Bentinho retornou a mata para vê-los novamente.

Viu algumas vezes e depois raramente via pegadas deles na beira do reio; comentava ele que achava que tinham ido para outro local.

Os dias se passavam na fazenda...

E assim, termina essa história linda de um animalzinho em perigo e um homem com coração de menino.

Narrador: Conheci Seu Bentinho, Dona Nenza, os filhos e a veadinha Tita.