"tininha a mãe de aluguel"
Personagens:
Seu Zito: dono do sítio
Tocão: cachorro
Tininha: galinha
Magali: patinha
Joca / Abgail / Zeca / Tuti / Mini: patinhos
Personagem principal: Galinha Tininha
Sítio Zabelê
Era uma vez... em um sítio agradável, não muito distante da cidade, uma família muito simpática, acolhedora e amiga, vivia feliz. O dono do sítio: Seu Zito; homem acostumado com a lida no campo e apaixonado criador de muitos animais, fazia questão que as pessoas o visitasse compartilhando da sua maravilhosa vida no campo.
Criava vários bichinhos, mas tendo como prediletos o cachorro Tocão ( raça boxe, da cara feia, pelagem curta na cor marrom, alegre, mas que não podia brincar com as aves que sem querer feria ou matava-as ), a patinha Magali ( plumagem lisa e brilhante, na cor preta e branca, rabo em leque, bem nervosinha e encrenqueira ) e a galinha Tininha ( plumagem farta e brilhosa, bem bonita, cor marrom, crista de serra, boa poedeira, tinha sido mãe por duas vezes ). Homem cuidadoso com suas coisas, gostava muito de criar bichos e os entendia também; sabia quando estavam doentes, felizes, assustados e cuidava de todos com muito amor e dedicação.
Gostava de todos, mas tinha uma que era especial, o dodói do Seu Zito. Anos passavam, sacrificava outras galinhas no almoço de domingo para a família, mas a “Tininha”, essa não! Tinha lugar de destaque no terreiro. Se alguém pelo menos insinuasse em sacrificá-la, Seu Zito já tratava logo de dizer: aqui não! Minha Tininha não tem preço. Pode pegar qualquer outra menos ela, é de muita estima – também pudera, já estava no sítio há muito tempo e segundo ele, era muito boa de postura e para chocar também.
E assim, os dias iam se passando...
Certa vez, houve um descuido e a portinhola que dava acesso ao pátio do galinheiro abriu-se e o cachorro Tocão mais que depressa entrou no local e começou a brincar com as aves. Corre daqui, pega dali; Magali – a patinha – não gostando dessa brincadeira, resolveu acabar com a anarquia do Tocão e partiu para cima do cachorro na intenção de expulsá-lo do local. Só que não deu certo e Tocão achou que ela queria brincar também e tacou uma mordida no seu pescoço; que assustada conseguiu se desvencilhar. Sentindo dores e com manchas de sangue naquelas penas alvas e lisas – na brincadeira, os dentes do cachorro, cortou-lhe a pele e atingiu parte do músculo – ela procurou esconder-se nos fundos do galinheiro.
Seu Zito, desconfiado daquele barulho, resolveu verificar o que estava acontecendo; deparando com o cachorro Tocão correndo atrás dos bichos; que logo foi reprimido pelo patrão: Tocão! Passa! Sai daí cachorro! Obedecendo, Tocão saiu em disparada escondendo-se no canavial.
Uns dois dias depois, Seu Zito, sentindo falta da patinha Magali, foi procurá-la; momento que achou-a triste e ferida – ainda mais nervosinha - nos fundos do galinheiro. Pegou-a e levou para tratar os ferimentos. Aplicou uma dose de terramicina e deixando-a separada dos outros bichos para continuar o tratamento. Ela estava muito ferida que causou uma infecção.
No outro dia, levando a medicação para aplicar na patinha, reparou que ela tinha morrido, naturalmente da infecção. Ficou muito sentido, pois, mesmo que fosse nervosinha, gostava muito dela. Pior ainda foi ver aqueles seis ovos da patinha no ninho e agora, o que fazer?
Sensibilizado com a situação, Seu Zito, resolveu apanhá-los e decidiu chocá-los em uma galinha, já que não tinha outra pata para aceitá-los. Assim, teria a raça da Magali no sítio.
Por obra do destino, a galinha escolhida foi a Tininha – bem robusta, muita pena, boa criadeira – daria conta do recado, mesmo porquê a outra galinha disponível não seria uma boa mãe; ainda mais que estava nos dias de começar sua terceira choca – quando eleva a temperatura do corpo para chocar os ovos.
Daí uns três dias, Tininha prostrou no ninho, as penas ficavam arrepiadas quando alguém ali chegava e não quis nem comer; sinal que estava pronta para chocar. Seu Zito, retirou seus ovos, e colocou os ovos da patinha Magali – seis no total.
Dias se passaram...
Na verdade trinta dias. Começaram eclodir os ovos... e ao final daquele dia faltava somente um ovo. Na manhã do dia seguinte, bem cedo, a galinha Tininha e seus estranhos filhotes, saíram do ninho em busca do que comer e beber; deixando para trás no ninho e sozinho o ovo que teimava em não eclodir.
Seu Zito levantou-se bem cedo e curioso como é, tratou logo de percorrer o quintal indo até o galinheiro saber da novidade; deparando com Tininha e seus cinco filhotes. Olhou com ternura e admiração parabenizou a mamãe e foi até o ninho ver o que tinha acontecido com o outro ovo.
Pegou-o e viu que tinha gorado – situação em que o ovo não gera o embrião. Jogou-o fora e retornou para ver os novos moradores do sítio.
Observando a galinha orgulhosa e majestosa dar o primeiro passeio com os filhos, Seu Zito ficou ali encantado, satisfeito em ver naqueles filhotes a imagem da patinha Magali.
Circularam várias vezes parecendo que estava apresentando seus filhotes aos demais bichos. Sempre andando na frente e a prole atrás em fila indiana como se estivessem de mãos dadas. De vez em quando a galinha Tininha parava e eles rodeavam-na, meio desconfiada daqueles filhos diferentes dos anteriores, mas como duvidar se ela viu-os nascer?
Vindo da casa em direção ao galinheiro, Seu Zito, com algumas ferramentas nas mãos; o camarada, conduzia um carrinho com materiais. Passando pela portinhola, caminham em direção a uma bacia de cimento, grande, feita no chão, parecia uma piscina. Naquele momento, o camarada limpa-a retirando as folhas, galhos secos, entulhos. Estava com rachadura no fundo e não segurava água; o material seria para consertá-la. E assim foi feito. No outro dia, com os reparos já secos, poderia encher o tanque – quer dizer: a piscina. Seu Zito, ligou a mangueira que não demorou muito para encher até entornar. A fundura era suficiente para aves aquáticas nadarem.
Vendo aquela água transparente e límpida, os patinhos aproximaram e não se contiveram. Tbum! Caíram dentro e saíram nadando, brincando como se fosse a coisa mais importante da vida deles. A mãe, sem entender, girada a cabeça para um lado e para o outro, tentando entender o que se passava. Preocupada, vendo os filhos dentro da piscina – nunca tinha visto antes, pois suas duas ninhadas anteriores não sabiam fazer aquilo – gritava desesperada:
- Malucos! Saiam daí!
- Vamos mamãe... venha!
- Estão loucos? Se molhar as minhas penas, afundarei!
- Não! Não afunda não! Tente?
- Vamos saiam daí!
Até o Mini – o patinho menor – não dava ouvidos a sua mamãe e continuavam se deliciando.
Pedaladas, mergulhadas, ali ficaram por muitos minutos.
A mãe, sentindo não ter êxito, afasta-se – não para muito longe – aproveita-se para limpar as penas oleosas, despojando-se na terra, ciscando; os olhos sempre voltados para a piscina.
Tempo em tempo, Tininha cacarejava aos filhotes e eles respondiam com piados diferentes aos de costume, participando a mãe que estava tudo bem.
Horas depois...
Um a um, saem os filhotes, sacudindo as penugens, deslizando os bicos sobre o corpo, retirando o excesso de água; indo em direção da mãe com piados graves; expressarem para a mãe como foi o primeiro banho, o primeiro mergulho em uma piscina.
- Joca diz: mamãe, você perdeu. Estava uma delícia!
- Tininha: vocês não tem juízo. Como entram em um local desconhecido?
- Mini: Nós sabemos nadar.
- Tininha: vocês são muito novos. É perigoso!
- Tuti: Para quem sabe nadar não é não!
- Tininha: Vamos procurar algo para comermos, vocês devem estar com uma fome danada.
E assim... saíram para alimentar.
Seu Zito, observando toda aquela cena, impressionado com a dedicação da Tininha, mais uma vez, tira lição de vida na natureza: os ovos não eram seus, no entanto a galinha Tininha chocou-os, trata-os como se tivessem nascidos dos seus próprios ovos.
Dias vão se passando...
Os filhotes crescendo, destacando suas penas em preto e branco; tonalidade que lembrava muito a patinha Magali.
A galinha Tininha orgulhosa dos filhotes, acompanha a independência deles e sabe que logo não mais os terá ao seu lado, terão suas próprias vidas.
Dessa forma, começa um novo ciclo da vida. Porá seus ovos e nascerá outros filhotes, que não terão a mesma coragem que os cinco filhotes atuais.
Ser mãe de aluguel, é tão importante quanto a mãe natural.
Quem cria, tem destaque especial também.
A tarde cai, ouve-se o latido do cachorro Tocão lá nos fundos do quintal; o fogão a lenha aceso, expulsa a fumaça pela chaminé; a noite anuncia sua chegada e o Sítio Zabelê se prepara para mais um novo dia de vida, ensinamentos e encantamentos.