O pássaro azul e a árvore
Era uma velha árvore que o tempo havia esquecido na frente de uma casa. A árvore era certamente o que de mais velho havia por ali. E, solitária, aceitava que o tempo passa e que sempre se anuncia em seus pequenos indícios: primeiro caem as flores (como num instante menor em que um botão de rosas se abre e o vento leva as pétalas) e, por fim, os frutos já não nascem mais.
A aceitação de que os grandes momentos de festa dos passarinhos com toda a beleza dos cantos não mais existia, encravou-se então. E dizem que os dias passaram a ser mais longos e as noites mais curtas, num alongado verão.
E vieram dias em que o sol quis brincar nos galhos da velha árvore. Todavia ele também não encontrou abrigo nas folhas.
Enquanto isso, exposto no céu, um pássaro azul se interrompe no voo e pousa no tronco. Era fim de tarde e depois de um trovão o silêncio foi quebrado pelo gorjeio do pássaro.
Alguns meninos, entre as brincadeiras na rua, não sabiam mais se iam ou se vinham e ficaram para escutar.
O pássaro leve, leve caminhou de um galho ao outro sem parar o canto. Um pouco mais adiante, uns bem-te-vis cheios de extrema amizade, assim quase numa discreta intimidade com a árvore, vieram também cantar.
Em pouco, o vento correndo por sobre todos, algo como que impregnado de um sopro como se fora brisa fresca, distraiu os meninos e os pássaros. Pois que não viram quando o dia escureceu.
Então as nuvens abriram as torneiras e deixaram cair água sobre o chão.
O pássaro azul e os bem-te-vis voaram a procurar um sítio para se abrigar enquanto os meninos correram para casa.
Contam, em conversas com os mais velhos, que as visitas do pássaro azul se repetiram por mais dias, seguidas de interrupções de chuvas finas. E foi assim que um mundo de folhas, de um verde-limão, invadiu a velha árvore naquele verão.
Meu pai estava lá... E me disse com estas palavras, que escrevo aqui.