A bonequinha de pano e o chazinho de segunda
Ah, como era bom aquele tempo...
Um tempo em que as mães se reuniam com as crianças na hora delas deitarem, e a contação de contos começava... Ia mais ou menos até os "chiquititos" dormirem, e como dormiam rápido. Lá ia a mãe, depois de mais um conto contado, quer dizer, meio-contado, até que as crianças dormissem...
Também existia uma pequenina sonhadora na Villa Doce, era Clarinha. Pequena mas grande, era assim que era conhecida Clarinha. Por ser pequena, mas grande, Clarinha ainda adorava brincar de boneca, e o tradicional chazinho de segunda com as amiguinhas. Aos 6 anos, era toda sapeca e arteira, estudiosa e brigona, marrenta e amorosa, pequena... e grande.
Com a mãe, o pai, e mais quatro irmãos, a pequena especial Clarinha dividia os brinquedos. Garota de atitude, sempre sabia o que queria, fazia o que não queria, às vezes.
Aí, um certo dia, brincando de chazinho com a melhor amiga Lily...
Chá vai, chá vem... Duas horas depois estavam rindo adoidamente, todas muito humoradas.
Aí vinha a mãe, tirando a chaleira da mesa rosa e ilustrada:
- Clara, já chega de chá.
Aí vinha a garota e "calava" a mãe, dizendo:
- Ah, mãe, mas é de mentirinha!
Deixava a mãe toda sem graça, mas rindo.
Passava-se a segunda, vinha a terça. Dia de visita. Clarinha acordava cedinho, afinal, era um dia especial: dia da visita do avô Chico.
A vida da garotinha pequena-grande era cheia de rotina, aos 6, tinha despertador e tudo, só para acordar cedinho e dar aquele abraço no avô.
Conversa vai, conversa vem, à tardezinha o avô traz um presente surpresa pra netinha:
- Clarinha, meu anjinho, o vovô tem um presente especial.
E revelava aquela linda boneca de pano, feita à mão, com olhos costurados pela bisavó de Chico, cada traço com muito amor. Deixou a garota encantada, isso antes dela tocar. Pegava a boneca e encantada tentava senti-la, com intensidade e amor.
O avô pedia com carinho para que a neta cuidasse da bonequinha, afinal, era uma "membra" da família há século. Abraçava o avô com entusiasmo e alegria, muito grata pelo que ganhou.
Logo o avô ficava meio de lado, a garotinha já saía correndo, ia montando sua casinha e acomodando sua bonequinha, que carinhosamente a deu nome de Ambrósia, nome da bisavó de Chico.
- Ambrósia, este é seu novo lar. Sente aí que vou servir um chá de terça pra você.
Passou o dia todo grudada à bonequinha, com a canequinha de chá fictício e suas amigas ao lado. Todas brincavam com a Ambrósia, até arrumaram um bonequinho para ela.
Chegava a hora de dormir, nada de sono, mas tentava dormir, abraçada à boneca. Acordava, escovava os dentes, ia pro colégio, depois... Ambrósia!
Clarinha também vivia conversando com Ambrósia, esperando da boneca uma resposta:
- Ambrósia, quantos anos você tem?
- Ambrósia, era legal o tempo que você nasceu?
- Ambrósia, doeu para te costurarem?
E daí ia, várias perguntas, que a garotinha tinha uma esperança de receber respostas.
Semana passava, chegava domingo, e Clarinha e outras amigas mal esperavam pelo chá tradicional de Segunda.
Chegava o dia, com ansiosidade as garotas da Villa Doce reuniam-se, montando a mesinha com as canequinhas, e Ambrósia era a mais nova membra da turma.
Contavam lendas do folclore, histórias e estórias encantadas, e por fim iam brincar na rua, de pique-esconde, pega-pega, amarelinha e tantas outras brincadeiras de passa-tempo.
E aí ficava a Ambrósia, com seu olho de pano, barriga de pano, pernas de pano, braços de pano... observando carinhosamente as garotas brincarem, sempre com um enorme sorriso no seu rosto de pano.
FIM...