É sempre assim no mundo dos bichos
O reino animal está cada dia mais decadente. É uma palhaçada! Sabem que, numa floresta distante, houve o I Festival de Teatro. Foi uma semana maratonal de apresentações. Por todo canto, os bichos se arvoraram em suas performances. Todos queriam fazer melhor que o outro. Que bem ou mal conseguiram.
No entanto chega o grande dia de anunciar o resultado e fazer as devidas premiações, isto é, saber quem se deu bem. Toda bicharada se dirige à beira do lago encantado, lugar magnífico e conhecido como de beleza ímpar no mundo. Local esse combinado para a entrega dos troféus e uma quantia em dinheiro. Um a um vão se achegando e se aboletando na hora marcada e se acomodando da melhor forma. Os macacos estavam empertigados em suas roupas domingueiras: chicos brancos e chicos pretos, eufóricos gritavam de tanta alegria. Os leões se mordiam todos num ranger de dentes estridente que não tem nem como descrever. Os elefantes grandes se admiravam; os pequeninos, se abraçavam. Só vendo as esfusiantes borboletas nos seus modelitos sociais!
Começa então a brincadeira, ou melhor, a farsa. O tigre-boy, por ser o mais bonito e elegante, ficou responsável por ser o apresentador da noite. Estava lindo no seu smoking. A senhorita Rosa Onça Pintada, sua parceira, estava deslumbrante no seu vestido escuro e pintado da mesma cor.
Dá-se início à cerimônia. Tudo perfeito. Nada estava fora dos conformes da Comissão de Assuntos Culturais Avestruz (CACAVESTRUZ). Não se pode deixar de exaltar o discurso do SR. Falcão, presidente da cultura animal. Palavras muito eloqüentes. Premia-se a toda categoria, melhor isso, melhor aquilo. Até mesmo ao melhor gozador. O clown trapalhão-cupim.
Dona Águia, jornalista da Gazeta, registrava tudo nos seus pormenores, prometendo dar o maior furo de reportagem. E, como de costume, os flashs enebriaram a bicharada mais do que as estrelas de hollywood no prêmio do OSCAR.
Então, no dia seguinte, os bichos amanhecem cantando, felizes. Entretanto fora uma felicidade efêmera, pois logo o pior acontece, o jornal local trouxera uma terrível manchete:
‘Teatro da Apelação’.Premiações alopradas.Discursos vazios, júris comprados, pedras marcadas e um monte de aberrações.
A mídia bicharal faz aquele alarde. O reino animal rui num tsuname de futrica.
Acaba, enfim, os bichos se reunindo numa assembléia extra-especial para resolver o impasse.
Por fim, decretam canceladas as premiações e revertem os cheques entregues aos vencedores na construção de um teatro de qualidade que, naquele recanto da mata, ainda não havia.
Assim fecho a minha estória. Que entra por uma perna de pau e sai pela outra. Quem não gostou que conte outra.