Joaninha sendo entrevistada...
Joaninha era criança sapeca e gostava de dar nó na cabeça de seus interlocutores. Sempre tirava de letra as situações mais constrangedoras com a inocência e a humildade infantis. Suas peraltices lembravam, e muito, as ideias mirabolantes da boneca Emília.
Certo dia, a professora Maria ensinava à sua turma como realizar entrevistas. Explicações dadas, exemplos comentados... Chegava a hora da atividade. Em dupla, cada criança entrevistaria e seria entrevistada.
Aquele dia foi muito engraçado! Algumas crianças fizeram de conta que eram as celebridades da TV. Entretanto, o que mais chamou atenção, foram as respostas de Joninha às perguntas do colega, Augusto:
"Qual o ser mais erudito do mundo, na sua opinião?"
"O cupim que devorou os livros da biblioteca da escola. E ele ainda comeu a estante como sobremesa."
"Qual o seu diferencial?"
"Não gosto disso, torna todo mundo desigual. Eu sou gente como todo mundo, sem diferença nenhuma."
"Qual o seu escritor favorito?"
"O nome dele é Anônimo e só tem textos lindos. Escreve muito! Pena que não tenho nenhuma foto dele. E parece que só tem esse nome, pois nunca vi seu sobrenome."
"O que você quer ser quando crescer?"
"Eu mesma, só que maior. Só não quero é ficar chata e rabugenta como alguns adultos."
"O que você espera do futuro?"
"Como eu posso saber? Ele ainda nem chegou... E eu também não gosto muito de esperar. É chato."
"Que personagem da História você mais gosta?"
"Puxa, há muitos! Mas como é da história em quadrinhos, meus favoritos são Calvin e Haroldo e a Mafalda!"
"Se você fosse presidente, o que faria para mudar o país?"
"Ei, eu prefiro presidenta, sou ativista do feminismo! Quando eu for presidenta, não vou mudar o país, mas a cabeça do povo. Nossa terra é boa e generosa, o problema é com as pessoas que são gananciosas. Farei a reforma ideária e criarei o ministério das boas obras. Assim...(fez uma pausa e começou a cantar como um MC):
Onde houver fome e sede,
Teremos um belo banquete.
Onde houver injustiça,
Nada mais acabará em pizza.
Onde houver pobreza,
Se compartilhará a riqueza.
Onde houver exploração,
Haverá conscientização.
Onde houver marginalidade,
Haverá solidariedade.
Onde houver medo e terror,
Haverá fé, paz e amor".
Maria estava, novamente, surpresa com Joana. A menina parecia mestre de cerimônia num show de Hip-Hop. Sua desenvoltura perante a classe e seu jeitinho peculiar de se expressar, renderam a Joana os aplausos da turma toda, e de pé!
Ao fim, a tia Maria perguntou:
"Quando vais te candidatar à presidência, Joaninha?".
A menina pensou um pouco e respondeu:
" Não quero ser candidata, eu quero é ser presidenta".