MILAGRES DA NATUREZA

proverbio popular, (português e brasileiro); Quando os gatos não estão em casa os ratos passeiam por cima da mesa

Milagres da natureza

Naquele parque imenso, a algazarra dos bichos era tão grande que andando por lá mal se ouvia o rodar e as buzinas dos carros que passavam na estrada. Havia ali uma bela árvore, bem alta e de galhos verdes e generosos que abrigava uma quantidade enorme de aves. No inverno os pássaros se encolhiam cada grupo em um galho e ficavam chilreando e planejando a primavera. As chuvas pareciam intermináveis para eles. E os mais jovens se lamentavam:

-Como vamos construir nossos ninhos? Com este aguaceiro as plumas, gravetos, e torrões de terra ficam pesados e difíceis de carregar.

Os mais velhos mais acostumados com as estações tentavam acalmá-los, dizendo:

-Calma passarada, quando a primavera chegar e com ela os ventos, tudo irá secar, teremos amoras, ameixas, gabirobas e outras frutinhas em abundância. As flores irão colorir os jardins, as crianças brincarão faceiras e nós, Ah! Nós vamos voar bem alto, elegeremos um guia para nos conduzir e faremos passeatas sobre as nuvens. Vamos namorar, namorar muito, faremos então nossos ninhos, as fêmeas colocarão seus ovos... e tudo há de ser novo e lindo para todos

O tempo passou, o sol voltou a brilhar e o gorjeio dos pássaros encheu de alegria o velho parque.

O trabalho era intenso, papai João- de- barro e sua esposa era o casal que mais trabalhava. Enquanto ele carregava os tijolos, ela construía as paredes. Mamãe joana estava ficando pesada com os ovos crescendo em seu ventre. Era preciso que quando chegasse a ora, tudo estivesse pronto. Não podiam descuidar de nada; o quarto dos bebês, a sala, o corredor, a porta, tudo estava sendo feito com o maior esmero.

Quando a noite chegava , o casal se recolhia e ficava fazendo planos para o futuro. Seriam bons pais, cuidariam de seus filhotes até o momento de empurrá-los para fora do ninho, e vê-los voar. Sabiam que neste dia iriam piar muito, eram pais experientes, mas abraçados se consolavam.

Nossos filhotes serão belos, fortes e quando alçarem seu primeiro voo, estaremos por perto e os protegeremos com nosso amor incondicional, até que possam construir seus ninhos para depois darem a luz a nossos netos.

Chegou o dia da postura dos ovos, e imediatamente, mamãe Joana passou à aquecê-los. Papai João era incansável. Levava comida para a esposa, dava-lhe bicadinhas de carinho até que um dia começou a cansar daquela vida. Queria passear, conhecer outros parques outros animais e então piou:

Joana, vamos dar uma volta por aí ?

Mas João, preciso cuidar dos ovos, e se vier uma cobra e comê-los? Além do mais eles não podem esfriar!

Mas tanto João insistiu que Joana concordou.

Tá bom... mas só uma voltinha!

Saíram os dois espiando para os lados a ver se os predadores não estavam por perto. Não perceberam que Anú estava esperando a chance de se aproximar e quando viu a casa vazia chamou Ana, sua passarinha que estava prestes a dar a luz seu primeiro ovo e sorrateiros entraram na casa. Ana sentou-se no ninho e catapum, o ovo estava posto, no ninho da Joana.

Os dois preguiçosos que não haviam construído seu ninho, saíram rápido e foram pousar perto para ver os donos da casa que já estavam voltando.

Joana entrou depressa foi logo cobrindo os ovos, e dizia:

Ah meu passarinho, parece que emagreci , está difícil acomodar meus futuros filhos. Mal sabia Joana, a passarinha que o trabalho que teria quando saíssem da casca seria ainda maior.

Chegou o grande dia do nascimento e Joana gritou esbaforida:

João, João! Venha depressa me ajudar.

Mas o que posso fazer meu amor? chilreava sem jeito papai João.

-Olha! dois já colocaram as cabeças para fora, mais umas bicadinhas e... pronto, três saíram da casca e já abriam os bicos pedindo comida.

Mas Joana viu com certa preocupação que um ovo, que era bem maior, permanecia fechado. Os pequenos filhotes se agitavam com fome mas ela se remexia no ninho tentando trazer à luz o último passarinho. João saíra em busca de comida, agora tinha muitas bocas para alimentar.

No outro dia o ovo se rompeu e enfim nasceu o filho postiço de Joana. Era o mais esquisito e esfomeado dos quatro, mas para o casal, era filho como os outros, lindo como todos os outros. Quando todos começaram a espiar o mundo foi uma trabalheira, o casal se revesava nos cuidados para que estivessem em segurança. Haviam pensado em tudo, menos que teriam quadrigêmeos, se soubessem teriam colocado tela na porta.

Passaram-se semanas, os filhotes cresceram e chegou afinal o dia da separação! Primeiro deram uns pulinhos por perto, depois um pouco mais longe, sempre sob o olhar atento dos pais.

Até que cada um foi voando mais longe. Só o grandão, permaneceu lerdo por mais um bom tempo. Com uma fome insaciável, piava em volta da Joana, o que deixava a pequena mamãe exausta e logo ele ultrapassou o seu tamanho.

Enquanto isto... Outros oportunistas, na ausência dos donos, ocupavam ninhos alheios.

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