Cabo-de-guerra
Eu morava numa rua de terra batida. À noite, toda a meninada brincava de pés descalços na frente da casa de seu João Perninha. A areia era fofa e fria (sei que era pela sombra do velho tamarindo). Olhando-nos de cima da linha de ferro do trem, Tina, mãe de minha amiga Dadá.
Então, observei umas meninas correndo para trás da casa e a agitação começou. Dadá, que se divertia brincando de amarelinha na calçada, foi empurrada por uma menina indo de encontro à parede da casa. Eu senti que não ia ficar por isso mesmo.
Como eu estava sentada no muro da casa em frente, pude ver algumas das meninas voltando e fazendo uma espécie de círculo, num silêncio tão repentino como se o barulho de há pouco fosse simplesmente coisa de menina quando vê um sapo enorme. E era.
Os meninos ficaram tão interessados que esqueceram a bola. Eu deslizei pelo muro e me aproximei de Dadá.
_Eu fico do teu lado! – eu disse afobada – Você deixa, Dadá?
Ela me olhou preocupada. Juro que senti o quanto ser pequena e magra é um problema em certas ocasiões!
_Você fica só olhando, Nena! – comentou apressada com um tom de voz que me lembra minha filha mais velha quando quer dar uma bronca nos sobrinhos.
O Pior foi ver as outras meninas rindo de mim como se eu fosse um graveto de ciriguela. Meu rosto mais parecia era o fruto maduro de vermelha que fiquei.
Felizmente a Tina chegou e me pegou por uma das mãos. Eu sabia ser aquilo um socorro para minha vergonha. Ficamos de pé na ponta da calçada para assistir à disputa do cabo-de-guerra.
_ Que lado do cabo-de-guerra você acha que vai ganhar, Nena? _ Ouvi de um menino enquanto as meninas se dividiam em duas correntes humanas no meio da rua.
A lua tinha passeado por trás de umas nuvens escuras e agora brilhava íntima da rua.
Eu era exatamente a toda criança – queria ver quem ia ganhar, então procurei um lugar com melhor visibilidade da cena, mas sem esquecer que meu coração pulsava dizendo que era Dadá a menina mais forte da rua.
O espírito competitivo dos meninos fez um deles ser o juiz e, após fazer uma linha na areia com os pés determinando que venceria quem puxasse o grupo adversário para depois da marcação, deu um grito por falta de um apito.
Nunca vi gritaria maior que naquele dia. Descobri que a palavra de ordem em algumas brincadeiras é não ter medo de perder. Imaginem que no grupo de Dadá eram apenas ela, a prima dela e minha irmã Gislene; e o grupo adversário com quatro meninas, uma delas (a que foi o pivô do motivo do cabo-de-guerra) maior que Dadá, perdeu! Mas escutem o que eu digo: uma criança sempre vê brincadeira em tudo. Foi assim que ainda hoje todos os meninos da rua da beira do rio são amigos.
* Peço desculpas aos amigos do Recanto por estar um pouco ausente do texto de vocês, é que venho rapidinho publicar um texto e saio para questões de trabalho escolar. O meu carinho a todos.
Teresa Cristina.