JÁ É TEMPO DE NATAL – FINAL –
— Que cê tá fazeno aqui Pepê? Seus pai incontraro ocê, agora cê mora é lá com os rico e eu aqui nas rua.
— Só volto se você voltar Fareco. Por que foi embora, você achou maneiro, não quer morar lá?
— Num é lugar pra mim Pepê, num sei lê, num sei nem falá direito igual ocê.
— Não disse que ia te ensinar, e meu pai prometeu colocar você na mesma escola que eu.
— Seu pai é bacana brodi, ma sua mãe num gostô de eu. — Se vai ficá, bora pro morro, a gente tem que escondê, que eles já vêm procurá nois.
— Bora, brodi.
Na mansão da família Galvão estavam todos aturdidos com o novo sumiço de Pedrinho. Desta vez tinham endereço certo para procurá-lo e o pai de Pedrinho colocou novamente o detetive nas ruas para trazer de volta o filho único e querido.
— Viu como ele me olha mãe, com olhos de acusação pela fuga do Pedrinho, não tem dó dos meus sentimentos, também estou sofrendo.
— Calma, Helena. Ele está descontrolado com medo de passar tudo de novo com o desaparecimento do Pedrinho, mas logo ele estará aqui e tudo se acalma. — Agora quanto ao Rafael, minha filha é Deus te dando uma segunda chance.
— Não sei o que fazer...
O diálogo foi interrompido por gritos descontrolados de Denis Galvão, que avisado pelo detetive ligou a televisão para assistir uma notícia extraordinária que mostrava um confronto numa comunidade e uma briga de traficantes, onde Rafael e Pedrinho se meteram sem querer. Rafael defendeu seu amigo ficando na mira dos bandidos, mas Pedrinho entrou na frente e foi atingido por uma bala fatal.
Era noite de natal, Helena fitava pela janela as luzes do condomínio luxuoso, esse sempre fora seu maior sonho, morar e viver de forma luxuosa, agora nada fazia sentido, seu filho estava morto, se aproximou da arvore de natal e pegou a cartinha que Pedrinho tinha escrito antes de sair de casa. Leu com lágrimas nos olhos, chamou um taxi e saiu em meio a um temporal. Encontrou Rafael sentado na escadaria.
— Oi Rafael.
— Meu nome é Fareco, dona. Que cê tá fazeno aqui, tá toda moiada.
— É estou... Hoje é natal... Rafael... E eu queria passar com meus filhos e perdi os dois, mas você, eu gostaria de resgatar, assim, acho que o Pedrinho ficaria feliz e o sentiria mais próximo.
— Intendi nada não, dona.
— Que faz com esta foto na mão? É meu pai e o Pedrinho.
— É o Papai Noel do Pepê. Vê ali ó, o Pepê sempre via ele sentado ali.
— Meu Deus! Rafael, o meu pai está cuidando do Pedrinho, isto me conforta. E agora eu quero te pedir perdão, Rafael.
— Perdão de que, dona?
— Por ter te abandonado um dia, meu filho.
— A sinhora é a dona que largô eu? Ingraçado, bem que o Pepê dizia que nois era irmão mermo, mais qui brodi. Tem nada não, dona, agora pod’imbora.
— Quero que leia a carta que o Pedrinho deixou pro Papai Noel.
— Bacana dona.
— Você nem leu... Desculpe-me, Rafael eu leio pra você.
“Querido Vovô ou Papai Noel, sempre fiz minhas cartinhas pedindo um monte de coisas. Mas de verdade mesmo eu sempre quis um irmão, e ganhei o irmão melhor do mundo, então não preciso de nada, só quero agradecer o melhor presente do mundo. Agora somos uma família completa. Não ligo se moro nesta casa ou nas ruas, se o Fareco estiver sempre comigo, é o que me importa.”
— O Pepê é legal, dona, oia não quero que vê eu chorano, vai imbora, tá.
— Não tenho para onde ir Fareco, é assim não é, Fareco, contei a sua história para o meu marido e sai de casa.
— Vai morá nas rua, igual eu e o Pepê? Intão senta nesse canto seco.
Os dois ficaram segundos, que pareciam horas, calados até que o carro de Denis Galvão para em frente à escadaria. Ele desce convida os dois para a ceia de natal. Depois de relutar um pouco Rafael se levanta e anda cabisbaixo ao lado da mãe em direção ao carro.
Pedrinho e o avô assistem a cena toda, sorridentes, depois seguem conduzindo uma menina de rua, de apenas cinco anos, até o abrigo mais próximo.