"Dentinho, O Tatu."
“Dentinho, O Tatu.”
Naqueles tempos, nossa sabedoria era enorme. Sabíamos que o mundo iria acabar em fogo, mas se estivessem enganados? E se acabasse novamente em água?
Minha mãe já estava nervosa, pois toda hora eu queria detalhes, pois para mim minha mãe tinha a sabedoria do mundo.
Se você tivesse dor de barriga, ela conhecia um chá maravilhoso (curava na hora).
Se tinha dor de ouvido também logo ela nos curava como se fosse médica e das melhores.
Então eu queria saber do fim do mundo.
Tínhamos em casa um coxo, era um tronco de madeira que meu avô com um inxó, espécie de ferramenta, cavara um buraco como se fosse uma canoa. Era usado para colocar ração para os animais domésticos aquele coxo, era a minha piroga, (minha canoa). Com ela, eu iria me salvar caso houvesse uma enchente igual o dilúvio, que acabou com o mundo. Já fazia uns três dias que chovia copiosamente, eu preparara uma trouxa com quase tudo que precisava no caso das coisas piorarem. Olhando pela janela pela décima vez, o que já havia me rendido alguns puxões de orelha, vi algo que entrou no galinheiro e imediatamente esqueci o final do mundo. Meu espírito aventureiro de meus cinco anos me obrigava a tomar mais algumas palmadas. Então coloquei um pano na cabeça e sorrateiramente, saí em perseguição do bicho que para mim seria um (guaxinim) mão pelada, muito comum naquela época.
Ao entrar no galinheiro, não sem alguma dificuldade, pela penumbra pude vislumbrar um bichinho que cavava o chão. Ao perceber a minha presença, começou a cavar mais rápido, porém não o suficiente para escapar de um exímio caçador como eu. Ao tirá-lo do buraco vi ser um pequeno tatu, que além de ser filhote, parecia doente. Fiz-lhe carinho e ele se acomodou no pano que eu havia enrolado na cabeça. Levá-lo para dentro de casa não foi fácil, pois minha mãe que tinha olhos de águia, dificilmente deixaria de ver algo, principalmente quando era eu que trazia para dentro. E não deu outra. Foi só passar a porta para dentro e ela falou àsperamente:
- O que você leva aí?
Na hora, confesso que covarde nunca fui, mas quando minha mãe usava aquele tom... Minhas pernas falharam, e antes de conseguir raciocinar e montar uma de minhas desculpas. Já recebia a ordem para levar para fora aquele "bicho nojento".
Com o coração em frangalhos, me encaminhei para a porta, quando meu pai parecendo um herói falou:
- Deixe ver o que é isto, ah! Um tatu! Até que é engraçadinho... Deixe o menino ficar com ele...
Minha mãe pensou em responder, mas ela nunca discutia com ele, pelo menos em minha frente. Sendo assim, assumi Dentinho como patrão, amo, senhor, e babá. De repente aquele tatuzinho pequeno, pelo excesso de zelo, virou um enorme tatu que no interior chamamos de “canastra”. Dormindo o dia todo para se aventurar a noite, após dormirmos para saciar sua fome de glutão nas saborosas galinhas de minha mãe. Porém aquelas aventuras teriam pouca duração.
Minha mãe teve um ataque de cólera, pois o danado do dentinho achou de comer uma galinha poedeira que era amenina dos olhos, o clima ficou péssimo.
Se eu tivesse mais de cinco anos, pegaria meu tatu e iria embora de casa, mas ir para onde? Vi ela conversando com meu pai em voz baixa e ele concordou com um aceno de cabeça.
Naquele dia o almoço foi apetitoso, comi vários pedaços de carne de porco, mas quase morri ao sentir a falta do dentinho. Desconfiado, ouvi a história de meu pai, que dizia ter visto passar por ali vários tatus, e dentinho não se fez de rogado acompanhou seus irmãos. A história era confirmada por minha mãe que com olhar cúmplice, e meu pai exagerava na historiada fuga do tatu. Esperei vários meses chamando em todo buraco que via pelo dentinho até que caiu no esquecimento.
Hoje sei que aquele malfadado almoço regado a carne de porco não era mais que meu amigo que devorei com requintes canibalescos.
Oripê Machado.
“Dentinho, O Tatu.”
Naqueles tempos, nossa sabedoria era enorme. Sabíamos que o mundo iria acabar em fogo, mas se estivessem enganados? E se acabasse novamente em água?
Minha mãe já estava nervosa, pois toda hora eu queria detalhes, pois para mim minha mãe tinha a sabedoria do mundo.
Se você tivesse dor de barriga, ela conhecia um chá maravilhoso (curava na hora).
Se tinha dor de ouvido também logo ela nos curava como se fosse médica e das melhores.
Então eu queria saber do fim do mundo.
Tínhamos em casa um coxo, era um tronco de madeira que meu avô com um inxó, espécie de ferramenta, cavara um buraco como se fosse uma canoa. Era usado para colocar ração para os animais domésticos aquele coxo, era a minha piroga, (minha canoa). Com ela, eu iria me salvar caso houvesse uma enchente igual o dilúvio, que acabou com o mundo. Já fazia uns três dias que chovia copiosamente, eu preparara uma trouxa com quase tudo que precisava no caso das coisas piorarem. Olhando pela janela pela décima vez, o que já havia me rendido alguns puxões de orelha, vi algo que entrou no galinheiro e imediatamente esqueci o final do mundo. Meu espírito aventureiro de meus cinco anos me obrigava a tomar mais algumas palmadas. Então coloquei um pano na cabeça e sorrateiramente, saí em perseguição do bicho que para mim seria um (guaxinim) mão pelada, muito comum naquela época.
Ao entrar no galinheiro, não sem alguma dificuldade, pela penumbra pude vislumbrar um bichinho que cavava o chão. Ao perceber a minha presença, começou a cavar mais rápido, porém não o suficiente para escapar de um exímio caçador como eu. Ao tirá-lo do buraco vi ser um pequeno tatu, que além de ser filhote, parecia doente. Fiz-lhe carinho e ele se acomodou no pano que eu havia enrolado na cabeça. Levá-lo para dentro de casa não foi fácil, pois minha mãe que tinha olhos de águia, dificilmente deixaria de ver algo, principalmente quando era eu que trazia para dentro. E não deu outra. Foi só passar a porta para dentro e ela falou àsperamente:
- O que você leva aí?
Na hora, confesso que covarde nunca fui, mas quando minha mãe usava aquele tom... Minhas pernas falharam, e antes de conseguir raciocinar e montar uma de minhas desculpas. Já recebia a ordem para levar para fora aquele "bicho nojento".
Com o coração em frangalhos, me encaminhei para a porta, quando meu pai parecendo um herói falou:
- Deixe ver o que é isto, ah! Um tatu! Até que é engraçadinho... Deixe o menino ficar com ele...
Minha mãe pensou em responder, mas ela nunca discutia com ele, pelo menos em minha frente. Sendo assim, assumi Dentinho como patrão, amo, senhor, e babá. De repente aquele tatuzinho pequeno, pelo excesso de zelo, virou um enorme tatu que no interior chamamos de “canastra”. Dormindo o dia todo para se aventurar a noite, após dormirmos para saciar sua fome de glutão nas saborosas galinhas de minha mãe. Porém aquelas aventuras teriam pouca duração.
Minha mãe teve um ataque de cólera, pois o danado do dentinho achou de comer uma galinha poedeira que era amenina dos olhos, o clima ficou péssimo.
Se eu tivesse mais de cinco anos, pegaria meu tatu e iria embora de casa, mas ir para onde? Vi ela conversando com meu pai em voz baixa e ele concordou com um aceno de cabeça.
Naquele dia o almoço foi apetitoso, comi vários pedaços de carne de porco, mas quase morri ao sentir a falta do dentinho. Desconfiado, ouvi a história de meu pai, que dizia ter visto passar por ali vários tatus, e dentinho não se fez de rogado acompanhou seus irmãos. A história era confirmada por minha mãe que com olhar cúmplice, e meu pai exagerava na historiada fuga do tatu. Esperei vários meses chamando em todo buraco que via pelo dentinho até que caiu no esquecimento.
Hoje sei que aquele malfadado almoço regado a carne de porco não era mais que meu amigo que devorei com requintes canibalescos.
Oripê Machado.