O Vestido Encantado
Em uma pequena vila de pescadores havia uma garota chamada Dulce (que quer dizer Doce, Terna, Meiga). A menina adorava costurar, ofício que aprendera com a mãe que aprendeu com a mãe dela que aprendeu com as Ninfas da praia dos Olmos (que são árvores européias de aproximadamente 30m).
Dulce estava revirando o sótão do ateliê de sua mãe quando por acaso viu em um canto um baú velho e empoeirado, puxou-o para a luz que entrava pela pequena vidraça circular e notando que o cadeado estava destrancado, o abriu. Ali dentro ela encontrou as coisas da avó: sete agulhas de prata, um lindo dedal de ouro, retalhos de cetim e a mais curiosa das linhas. Curiosa sim, quando Dulce pegou-a entre os dedos, a linha enrolado no carretel tornou-se rosa bebê.
Dulce, espantada, desceu com a linha, as agulhas e todos os dedais dentro do bolso, colocou a linha na máquina de costura e a linha tornou-se branca novamente. A menina costurava muito bem para a sua idade, ele fez um lindo vestido de cetim com a linha encantada, quando terminou, vestiu-o e o vestido ficara verde oliva. A menina encantada com tal experiência saiu com o vestido pela vila mostrando a todos e contando a façanha e o vestido mudando a cada comentário. Ela tinha várias reações, e conforme ia tendo estes vários sentimentos, o vestido mudava de cor e quando ela se sentiu realmente feliz o vestido se tronou transparente e ela estava nua, ao menos parecia estar.
Os risos das pessoas deixaram-na envergonhada e o vestido tornou-se roxo e ela correu para sua casa e com certa fúria, despejou tinta preta num tacho e jogou o vestido dentro. Quase que instantaneamente o vestido sugou a tinta e tornou-se tão preto que não via pregas, costura ou a linha encantada. Pouco depois, ao perceber que tinha destruído sua criação talvez mais fabulosa, correu ao sótão, remexeu o baú da avó e encontrou um folhetim onde se lia: “Linha encantada das Ninfas da praia dos Olmos, expressa nas cores os sentimentos que sente.”
Ela não entendera o porquê o vestido ficara transparente, incolor, então pegou o vestido e foi à procura das Ninfas na praia dos Olmos, praia deserta a poucos minutos da vila. Ao chegar, não havia sinal de ninguém vivendo ali. Dulce então gritou! Gritou pelas Ninfas e elas surgiram das águas, belas e encantadoras e elas se aproximaram de Dulce e com voz suave uma delas perguntou:
“O que desejas? O que quer de nó?”
Dulce contou o que havia acontecido e entristecida pediu que as ninfas consertassem seu vestido. Mas as ninfas não podiam realizar tal tarefa, pois a alegria, sentimento que Dulce sentira quando estava com o vestido, é sentimento que as ninfas não podem sentir; então Dulce perguntou:
“As senhoras conhecem alguém que possa consertar meu vestido?”
“Sim!” Responderam as ninfas com certa malícia na voz e continuaram a dizer: “Mas se dissermos, podemos ficar com o que tem de mais valioso?”
Dulce nem hesitou e respondeu sim, sem ao menos pensar no que é mais valioso a ela. As ninfas prosseguiram:
“Os duendes do arco-íris podem te ajudar...” Dulce voltava para casa um pouco desencantada, uma vez que não havia arco-íris no céu, mas uma das ninfas chama por Dulce e aponta o lado oposto de onde ela ia, ao olhar, Dulce vira um belo arco-íris onde a ninfa apontava. Ela começa a correr em direção ao arco-íris. A poucos metros de seu destino final, Dulce avista um homenzinho franzino, vestido de fraque e cartola dourados. Era Onizio, o duende do pote de ouro que bradou ameaçador:
“Afaste-se do meu pote de ouro!”
A menina não recuou e explicou o que ela realmente queria então Onizio disse que não podia fazer nada pela garota, mas que ela encontraria ajuda com os Sete Alfaiates na Cidade do Início do Arco-Íris, quando ela tentou subir no arco-íris, Onizio a puxa pela perna gritando:
“Não menina, não... Para atravessar o arco-íris tem de pagar um pedágio!”
Dulce vasculhou os bolsos em busca de um pagamento e entregou o dedal de ouro ao duende, então finalmente atravessou o arco-íris. Ao chegar à Cidade do Início do Arco-Íris, viu uma linda cidade encantada, colorida e cheia de vida, não demorou muito a encontrar a alfaiataria dos Sete Alfaiates, já que ela era a mais colorida de todas.
Dulce bateu à porta e quem a atendeu foi um duende velhinho vestido todo de vermelho que a convidou para entrar e se sentar, ele então apresentou seus companheiros:
“Este é Danja o Laranja, Delo o Amarelo, Dirde o Verde, Darul o Azul, Deril o Anil, Doreta o Violeta e eu sou Duelho o Vermelho”, disse o duende à menina.
Dulce explicou mais uma vez, mas agora eles podiam ajudá-la, pegaram então o vestido das mãos das meninas, puseram-no numa bacia de cobre, formaram um círculo e diziam algumas palavras na língua dos duendes que Dulce não entendia. O vestido ia tornando-se todo colorido, ia ganhando todas as cores do arco-íris, quando terminaram, Dulce o vestiu e o vestido começou a mudar de cor novamente e de tanta alegria o vestido ficou multicolorido desta vez, não mais transparente, em gratidão deu uma agulha de prata a cada um e antes que voltasse para casa, perguntou por que o vestido tinha ficado daquela cor. Eis que os duendes responderam:
“As ninfas não podem expressar o sentimento de alegria, pois não a conhecem, nós, os duendes, não só conhecemos bem este sentimento como encontramos um jeito de transmiti-lo a todos no mundo. O Arco-Íris, sim o arco-íris foi feito por nós, os Sete Alfaiates e é com ele que a alegria é passada a todos vocês, de geração em geração.”
Dulce estava muito feliz, voltando para casa, viu que as Ninfas estavam a sua espera, e uma delas, antes mesmo que Dulce falasse ordenou:
“Queremos o teu bem mais precioso, queremos a tua mãe!”
A menina, assustada e quase chorando, disse que não ia entregar-lhes a mãe. As Ninfas por sua vez queriam a qualquer custo levar a mãe de Dulce para as profundezas do mar então Dulce sorriu, as Ninfas se entreolharam e Dulce disse, com certo pesar:
“Mas meu bem mais precioso é este vestido!” Ela não queria perder a mãe, então lembrou-se das palavras dos duendes: “As ninfas não conhecem tal sentimento: Alegria.” Tirou seu vestido e deu-o as ninfas que puderam conhecer enfim, a Alegria.
Dulce voltou para casa ainda mais feliz, pois em sua jornada, aprendeu uma lição muito importante: “O que mais importa no mundo não é ser feliz sozinho e sim ser feliz fazendo alguém feliz! E com todos viver a Alegria!
Fim.