No coração do monstro com abismo

Eu não entendo porque às vezes fico tão triste. Até penso se não seria um algo de eu ter um monstro residindo o lado direito do peito!

Mas meu coração tem um ritmo em pontuar o milagre da vida. Isso quem disse foi ela que me amava. E eu era ainda um ovo em sua barriga. E o monstro? Será que teve inveja? Daquele meu paraíso redondo e macio!

É tão bonito ver de lá o coração do monstro. Ele batendo asas para atravessar o ovo, aquele que eu residia e tinha tanto sono. E até tinha me esquecido de dizer que o monstro, além de ter muitas asas, também tem vontade grande de se voar por inteiro, como eu.

E voa o monstro, principalmente sobre a cabeça dos meninos. Daqueles que são mais donos de maior silêncio. Mas isso quem sustentava era a mãe da mãe do milagre. E eu via o seu olhar assustado mirando meu monstro. Ele se rindo dela, a boca cheia de dentes e a flor no canto! Disse que era para mim.

O monstro, pois quando mira meus olhos, dentro vê um afinado gosto por tudo que tem vida. E tal visão lhe parece um absurdo: um menininho com um coração no peito, um monstro morando ao lado e um abismo no meio, com afinação pelos dois.

É um perigo dos maiores de se ver, principalmente se o monstro for azul e o menino tiver um olhar enluarado. O feitiço será definitivo se resolves também espiar nos meus olhos.