No país das Orcas

No país das Orcas

Orcolândia era um país diferente... lá não havia terra, só havia mar.

Também não havia gente, só peixes e frutinhos do mar.

A população de Orcolândia vivia feliz nos bancos de areia que havia no fundo, coloridos com os corais e algas marinhas. Os peixinhos adoravam as brincadeiras entre as ondas ou nas cavernas escuras, onde brincavam de esconde-esconde.

Esse país era governado por uma Orca gigante, que defendia todos os moradores do mar, contra os predadores, que sempre vinham com suas armadilhas procurando peixes.

O presidente Orca tinha uma filha linda, uma graciosa orca, toda preta, com bolinhas brancas espalhadas pelo seu enorme corpo. Ela vivia feliz, fazendo piruetas na água e às vezes até se aventurava a dar saltos sobre as ondas, para ver o mundo que havia lá fora, além do mar.

Vivia assim, nadando pra lá e pra cá, quando, um certo dia, encontrou uma lindo delfim que passava na pracinha ...O coração da orquinha disparou quando viu aquele peixe tão esbelto e majestoso, passando por lá.

Seus olhinhos brilharam de emoção quando ele se aproximou e abanou as barbatanas, com o sorriso de peixe mais lindo que ela já vira. Encostou-se num banco de areia, toda dengosa e esperou o delfim chegar.

- por favor, senhorita, pode me informar onde fica a fazenda de camarões mais próxima?

-ca...ca..ca...marões?... claaaaa..ro...ro..ro... vou mostrar o Ca...ca..minho.

A orquinha perguntou a si mesma o motivo de estar gaguejando e morta de vergonha de sua fala picadinha, ficou com as bochechas pintadinhas de vermelho.

- que graça...disse o delfim. Uma orca de bolinhas brancas, com bochechas cheias de bolinhas vermelhas. E disparou a rir.

As bolinhas que até então eram vermelhas, ficaram rosa e logo depois se tornaram roxinhas de raiva. Mas a orquinha foi se acalmando e sua cara voltou ao normal. Foi nadando pelas ondas, levando o delfim ao seu destino. Lá chegando ele sorriu agradecido, e ao se despedir dela, fez um comentário que a deixou estarrecida:

-Muito obrigado, linda orca. Como é mesmo o seu nome?

- Baby, por que?

- Se você não fosse tão gordinha, até que seria legal namorar com você. Mas quem teria coragem de sair nadando por aí, com uma orca tão obesa? Vê se te cuida, menina!

E saiu nadando indiferente à reação da orquinha, que ficou pasma diante de uma ofensa tão grande, vinda daquele peixe, que até então ela achava ser o mais lindo do mundo.

Voltou para casa, triste e deprimida. Deitou-se no seu banquinho de areia e de lá não saiu mais. O papai orca, preocupado com a tristeza da filha, logo cercou-se de cuidados com a coitadinha. Primeiro mandou chamar o dr. Tubarão para ver se a filha estava doente.Dr. Tubarão não encontrou sinal de doença alguma.

Depois, mandou que as cozinheiras do palácio fizessem pratos especiais, para agradar à orquinha. Primeiro vieram toneladas sanduíches de atum, sua comida preferida. Mas a orquinha ao invés de comer, disparou a chorar desesperadamente.

Depois vieram os camarões fritos, salada de lula, sopa de mariscos, peixe de todas variedades e patinhas de caranguejo. Era comida que não acabava mais... e nada. A orquinha chorava ainda mais, quando via toda aquela comida.

O presidente não sabia mais o que fazer... contratou bandas de rock, bailarinos famosos, artistas de circo, mandou que viessem mágicos e todos os comediantes do mar, para tirar a orquinha daquela tristeza imensa... Mas nada disso adiantou.

E assim se passaram os dias. A orquinha começou a ficar cada dia mais fraca e mais magra. Recusava-se a comer e só fazia dormir. Os pais cada dia mais preocupados não sabiam mais o que fazer. Foi então que se lembraram de Lola, uma amiga de infância de Baby, e mandaram chamá-la, para ver se ela descobria o motivo de tristeza da orquinha.

Tão logo Lola chegou, todos saíram de perto das duas, ansiosos pelo resultado da visita.

E conversa vai, conversa vem, Lola ofereceu seu ombro para a amiga desabafar suas tristezas e ficou chocada quando descobriu a decepção da orquinha e sua determinação de nunca mais comer, para jamais ser chamada de obesa novamente...

Lola então se colocou diante dela e toda cheia de glamour, perguntou se a amiga a achava feia.

- É claro que não... você é linda assim. Horrorosa sou eu.

- Para de dizer besteiras, Baby... Você é a orca mais fofinha que há no mar. Por acaso você já viu uma orca magra? Nós somos assim e é por isso que somos lindas. Você nunca reparou que no mar tem peixe de todo jeito? Alguns são grandes, outros pequenos... alguns são cinza, outros todo coloridos... alguns são calmos, outros são feras, de tão zangados que são... Esse delfim pode ser lindo, esbelto, charmoso, mas tem beleza só por fora, porque não viu que cada um tem a sua beleza própria. O importante é a gente ser feliz do jeito que somos, desde que a gente saiba viver a vida.

- Acho que você tem razão, Lola... já estou me sentindo uma idiota, querendo passar fome para ficar igual àquele bocó daquele delfim.

- que bom que você acordou... então vamos lá fora, escorregar nas ondas?

- Vamos, mas primeiro quero pedir desculpas ao papai, pela preocupação...Que bom que você veio para me fazer acordar, minha amiga... Quem tem que achar que eu sou linda, são as pessoas que me rodeiam e não um estranho que nem sabe como eu sou. Daqui pra frente vou ser a orca mais feliz desse mar inteiro!-

- é isso aí, menina! Você vai ver como essa felicidade que você carrega dentro de si vai fazer vai fazer os rapazes orcas se apaixonarem por você. A beleza mais atraente do mundo é aquela que a gente traz no coração. E isso você tem de sobra.

E lá se foram as duas, nadando faceiras e felizes pelo mar a fora.

Maria do Rosario Bessas.

maria do rosario bessas
Enviado por maria do rosario bessas em 13/10/2011
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