O ROUXINOL E SEU ZUZA

O rouxinol cantava e olhava firme em derredor, como se desafiasse os que ali estavam. Desta forma o passarinho dava notoriedade ao seu canto.

Todos os dias pela manhã, ali estava na mesma postura. Do alto da cumeeira do engenho, era como se quisesse dizer: — Aqui canto eu! Aqui mando eu!

Na visão do rouxinol, era uma vista muito bela, por isso não saía dali.

Os outros pássaros, de longe, ficavam escutando o imponente pássaro com seu canto melodioso.

Lá de cima ele via os homens pondo cana na moenda, via a garapa descendo na caldeira, via o mel fervendo. Via os homens chegando com carga de cana, via os morros de bagaceira. Sentia a fumaceira, o cheiro do alfenim. Um ar adocicado.

O rouxinol cantava porque sentia-se feliz. Gostava do engenho e de ver o movimento. Por isso retribuía com seu canto.

Seu Zuza, dono do engenho, considerava-se dono da avezinha. Era também um contador de histórias, e quando lhe sobrava tempo ficava horas contando histórias para a meninada das redondezas. Os meninos que ouviam suas histórias consideravam-no um herói. Nenhum menino se cansava de escutá-lo falar de bichos da Amazônia, de florestas, de histórias relatadas por barbeiros, histórias de papagaios, etc. Tinha prazer em relatar histórias e ficava feliz quando a criançada estava ao seu redor. Achava bom da vida: ter um engenho com boa produção, um cântico de rouxinol e a meninada ao redor.

Pra ele, isso valia mais do que ouro.

Seu Zuza gostava muito de pássaros, mas não criava nenhum. Gostava muito do rouxinol adotado por ele.

Todos os trabalhadores do engenho sabiam da existência do rouxinol e trabalhavam felizes ao ouvir seu cântico.

O engenho rangendo, o homem cantando um aboio , assim terminava mais um dia.

Tanto Seu Zuza como seus trabalhadores, simpatizavam a avezinha.

Um dia a moagem parou. Seu Zuza falecera.

A avezinha sentiu muito a ausência do movimento e morrera.

Gilson Pontes
Enviado por Gilson Pontes em 29/09/2011
Código do texto: T3247768