Ciúme

Foi sem querer. Eu não queria magoá-lo, mas aconteceu. O meu diário era lindo! Suas folhas eram todas coloridas, e em cada página um desenho diferente.

— Ei Carol, não força a ponta da caneta, não. Você está me fazendo cócegas, você esqueceu que o papel das páginas são muitos delicadas ?

Ele era o meu melhor amigo. Além de resmungão, como já deu para perceber, ele era muito legal. Os meus segredos estavam todos lá. Ele era demais, sabia guardar segredo como ninguém. Às vezes ficava todo emocionado com as minhas confissões, mesmo assim, me dava bronca com a voz embargada:

— Pare de chorar, você irá borrar as minhas páginas. Essa tinta se desfaz à toa, cuidado.

Mas um dia conheci outro cara legal que logo se tormou meu amigo.

Era o blog.

Nele eu conseguia escrever e desescrever sem ter que usar o corretivo. Era só digitar e editar. Dava pra colocar fotos sem a sujeira de antes. Cola pritt e durex, nem pensar! Minhas amigas logo o conheceram, foi o maior sucesso. Todos queriam vê-lo, dar sugestões e participar. Era o máximo, e o meu novo melhor amigo ficou muito vaidoso.

— Não sou demais?! Milhares de pessoas já me acessaram — dizia todo convencido.

Logo o danado começou a ficar muito popular. Por isso, muitos invejosos começaram a se meter em nossa vida. Criticando, fazendo brincadeiras bobas, deixando recadinhos grosseiros. E o pior, os antipáticos deixavam os posts, mas não se identificavam, só deixavam os apelidos. Até que eram engraçados: Perna-de-pau, Cachorrão, Gata Mimada, Chulé, Dedo Duro, Se Enxerga, Olho Vivo, Buscapé, Caramba, XD, BV.

Um dia, cansada de ficar com o blog, sentada na minha velha escrivaninha eu ouvi um soluço triste vindo da gaveta:

— Chuif… Ela não escreve mais em mim. Os tempos mudaram. Odeio esse tal de blog.

Então me lembrei do meu diário. Coitado, estava com a cara mais triste do mundo. Cara de amigo abandonado. Fiquei sem-graça e fui logo pedindo desculpas. Coloquei ele pertinho do coração e fizemos as pazes.

Ele ainda estava com a carinha meio triste, então tasquei um beijinho na sua capa e fomos colocando a prosa em dia e, quando vimos, estávamos íntimos novamente.

— Não me fale desse blog — ele reclamou, fechando as páginas correndo.

— Calma, você nem o conhece? Como pode menosprezá-lo?

Logo percebi que ele estava com um tremendo ciúme. Eu disse ao diário que ele, o blog, era um amigo diferente. Era do tipo brincalhão, amigo de festas, diferente dele que sabia guardar os maiores segredos. Disse que eu adorava os dois, cada um do seu jeitão, que ele não precisava ficar enciumado.

E assim os dois ficaram amigos. O ciúme passou.

— Somos demais, não somos? Formamos o trio mais legal do mundo! — disse o blog todo metido.

— Não exagera — respondeu o diário, todo encabulado.

Disso tudo eu aprendi uma grande lição: a valorizar cada amigo por ele ser único, pois acho que a diferença é que nos une.

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Tereza Yamashita
Enviado por Tereza Yamashita em 15/12/2006
Código do texto: T319052
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