URSINHO A PILHA

Era um dia sombrio, com previsão de chuva, mas logo percebi que os raios de sol quentes se aproximavam.

Notei então um homem grande, com ar entediado, e de macacão todo azul turquesa, estava colocando meus olhos e com isso a visão. Tudo que era preto virou colorido e detalhado, como nos meus sonhos, e logo em seguida, vieram minha boca e meu focinho... Percebi que eu era um animal. Tentando adivinhar, chutei e que eu devia ser:

- Aí... Que agonia!O que eu devo ser?Um cachorro de pelúcia, talvez?Ou melhor, uma onça?

Foi quando minha imagem refletiu na vidraça, no que parecia ser uma fábrica:

-Sou um ursinho de pelúcia!Movido a pilhas!Assim, posso falar algumas frases, dar alguns passos, e muito mais!

Surgiu um belo sorriso estampado em meu rosto, fui colocado em uma caixa de papelão cheio de isopor picotado, com outros iguaiszinhos a mim!

Assim, fui colocado em algumas prateleiras de madeira, cada prateleira com um tipo de brinquedo... Bonecas, carrinhos, ursos, etc...

Olhei em volta e percebi que o número de brinquedos na prateleira ia cada vez diminuindo mais e mais, até que notei: todo o estoque de brinquedos estava sendo vendido!

Passava menino, menina, alto, baixo, e nada de me comprarem... Logo uma menininha com cabelo Chanel, gordinha, me pegou, analisou, e eu fui ficando cada vez mais nervoso com a situação. Ela deu um último olhar e. Deixou-me na mesma prateleira, no mesmo lugar.

Escureceu e lá se foi o meu primeiro dia, de muitos, eu imaginava, e só então adormeci em um sono sensível e ao mesmo tempo pesado.

Ouvindo os pássaros cantarem, percebi que o dia havia amanhecido, e na porta de vidro da loja de brinquedos que eu estava, dava para ver o entusiasmo de umas dezenas de crianças, ansiosas para entrar na loja. E assim feito.

A loja foi aberta, e mais de cinqüenta crianças corriam em minha direção com um lindo sorriso em suas faces.

Quando achei que todos iriam me pegar para comprar, veio a surpresa: uma prateleira acima da minha estava o “BIG STONE”, que era um robô gigante que falava com as crianças de modo surpreendente.

Abaixei a cabeça, sem que ninguém visse claro. Até que senti uma mão atrás de mim, que estava me levando até perto de seu rosto liso e brilhante, mas quando olhei direito percebi que era uma moça adulta, com uns quarenta anos, e me mostrando para um homem gigante, mais alto que ela. Assim falaram com um atendente da pequena loja de brinquedos, e ele, por sua vez, mostrou minhas utilidades.

Mas ao me virarem, para mostrar minhas pilhas, observei que na mão daquele o homem e daquela mulher havia uma aliança. Nisso, falaram sobre um tal de “Natal”, que é quando as pessoas se presenteiam entre si. Com base nas informações recolhidas, o casal tinha uma filha, que queria algo com que pudesse brincar. Pensei:

-É agora! Vão me comprar!

Assim dito, e assim feito, fui levado!Que alegria!Fui colocado em um grande embrulho lilás com uma fita rosa, e permaneci lá, sentindo lombadas e movimento no caminho, esperando ansioso para ver quem seria minha dona.

Por alguns instantes o movimento parou e meu lindo embrulho foi rasgado e amassado com ansiedade, até que o lindo momento chegou. Mãos delicadas e pequenas me apanharam, e vi: uma menina de uns quatro anos, de cachos dourados, e olhos azuis claros brilhantes, chamada Letícia.

Letícia deu um grande sorriso, e me abraçou, me presenteando com o meu nome, Espuma

Brincamos muito, vivendo uma aventura a cada dia, como estes tipos de coisas: Letícia me salvou de uma cadela louca e várias outras aventuras

Mas Letícia, como todos, cresceu, conquistando a tecnologia cada vez mais. Deixou-me em uma grande e mofada caixa de papelão, junto com outros brinquedos, quase semelhantes a mim. E assim, ao passar dos anos, fui vivendo lá, naquela caixa, mas não fiquei carente, pois lá tinha a companhia e a amizade dos outros brinquedos, e mesmo assim, longe de minha dona, não deixava de sentir seu amor por mim.

Mas em um dia de verão veio o tão esperado reencontro. O gigante, dizendo ser pai de Letícia, e lá estava, junto a ele, a Letícia, já mais crescida e desenvolvida, que me apanhou e me acariciou com suas mãos levemente, como da primeira vez.

E assim, me levou para vários lugares novamente, realizando o meu único sonho, dormir novamente, em sua cama, com o seu abraço me aquecendo.

FIM