A menina e a borboleta
Era uma vez, um lugarejo muito, muito mágico, onde as borboletas, leves e amarelas, falavam. Mas não eram só elas, como também as nuvens, as plantas, os pássaros – todos eram invenções de uma menina que se escondia numa goiabeira para ler.
Ela inventava uma flor, tinha então com quem brincar por algumas horas... E ficava com a amiga até que precisasse fechar o livro... Isso ocorria quando a menina era chamada para olhar os irmãozinhos ou ajudar nos afazeres da casa.
A mãe estava sempre a dizer-lhe que devia ser mais cuidadosa com a fantasia... Como se a menina pudesse controlar o que imaginava!... E foi assim, que um dia, uma borboleta saiu do livro e seguiu a menina.
E a criança entrou em casa tão cheia de ocupações que nublou os olhos e não via o céu e os pássaros que por lá passeavam num banho de sol. E até as formigas corriam em fila à procura de comida, pois ia chover... também isso a menina não viu.
Depois, mais tarde, um dos irmãozinhos chorou por um pedaço de bolo e, como não tinha, a menina afogou-se em tristeza. E porque a borboleta inteirava-se de tudo, além disso, se entristeceu.
A menina com os pés nas chinelas não podia imaginar numa de suas invenções em horas de trabalho. Mas era verdade...
Na hora de dormir, o vento se acalmou sobre a janela e a borboleta por ali ficou.
Na manhã seguinte, carregada por um tumulto imenso de arrumação na casa, quase foi levada por um espanador – mas sem medo, agarrou-se numa cortina da sala, sem que ninguém a visse.
E no outro dia, veio-lhe uma necessidade de ouvir uma voz amiga, de saber que o lugarejo onde morava ainda estava no livro que, numa ventania boa, voou bem alto... e a menina a viu.
De repente, parece que apenas se ouvia a borboleta a murmurar: “Pensei que não viesse mais!...” e a menina respondieu num tom suave: “Mas eu estava com saudades...” E as vozes que se ouviram eram de um livro que falava.