Entre as lembranças da infância

Numa manhã de segunda-feira, enquanto minha mãe descia a margem íngreme do rio para lavar roupa, sentei-me numa pedra debaixo de um pé de cajuí com um gibi. Eu estava ansiosa pela leitura. Minha irmã Gislene, onze meses mais velha que eu, passou por mim com um ar de cumplicidade e foi ajudar mamãe.

Eu sempre gostei de ficar viajando na leitura, e minha mãe não entendia isso. Portanto ficou me gritando mais de uma vez. Ela queria uma menina prendada nos afazeres domésticos e, eu ao contrário, gostava de me perder na imaginação. Então, fiquei resistindo com um: “Já vou, mãe!”, esperando que chegasse uma fada ou houvesse um tipo de poder que me deixasse num mundo além dos gritos de minha mãe.

Muitas vezes me perguntei se eu não havia nascido na casa errada, se eu não era é uma princesa... E construía em minha mente um lugar onde havia muitos brinquedos e uma boneca tipo a Emília. Sabia que era uma fantasia, mas eu gostava de imaginar. E dizia a mim mesma que eu era uma princesa com meu gibi. Mas naquele dia, acabei indo ajudar com a roupa, pois me senti desleal com Gislene.

Então, quando eu me sentia livre das tarefas de casa, fugia para meu mundo e ficava a ler, com os olhos presos no livro como quem ama o que está fazendo.

Teresa Cristina flordecaju
Enviado por Teresa Cristina flordecaju em 06/06/2011
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