SOCORRO! SOCORRO! TEM RATOEIRA NA CASA!

Certa vez, numa cidadela bem longe daqui, um jovem rato chamado Bimbo (todo preto, esbelto e inteligente), filho único, resolveu olhar pelo buraco da parede do casarão, onde ele e sua família moravam, e viu o dono da casa, Senhor Janjão (um senhor de cabelo branco, pele rosada, baixinho e um tanto cheinho), um brincalhão de dar gosto, com um pacote na mão, cochichando com Dona Florinda, sua esposa.

Bimbo ficou desconfiado, já que pela leitura labial, a palavra RATO entrou no cochicho. Bem sabia ele que quando o assunto era "rato", Senhor Janjão entrava em pânico, só de ouvir falar na tal palavra.

Foi então, que Bimbo viu o casal abrir o pacote, sem muito alarde.

E mais estranha ainda, era a discreta euforia do Senhor. Janjão, retirando de dentro do pacote, um objeto cheio de arames grudados num pedacinho de madeira, meio sem graça...

Bimbo ouviu o que eles falaram e olhou o que Dona Florinda retirou de dentro de outra sacola de supermercado, e foi logo imaginando intrigado, no que deveria ser:

__Será algum petisco diferente...? O que será?

Dona Florinda pegou o objeto, com a base de madeira, levantou um pequeno arco de ferro, e por cima dele, prendeu um pedaço de arame pela ponta, bem na beiradinha, com um pedaço sei lá de que... para se comer.

Foi então, que após muita reflexão, Bimbo descobriu que se tratava de uma ratoeira, e saiu correndo apavorado... , buraco adentro, atravessando o quintal da fazenda até chegar em casa, todo esbaforido, e tremendo que nem vara verde. Chegando em casa, Bimbo foi logo chamando pelos pais, aos berros:

__Paaaieeê...! Manheeê...! Acho melhor todos sairem daqui, e pra ontem!

__Por que meu docinho, o que esta cabecinha descobriu?

Questionou Dona Ratazana, como sempre, batendo nas costas de Bimbo, na tentativa de acalmá-lo. Mas Bimbo, rapidamente, insistiu:

__Mas mãe, você não está entendendo... Eu vi com meus próprios olhos, o Senhor Janjão e a Dona Florinda com uma ratoeira na mão, e ouvi todo o plano dos dois, ou seja, tem ratoeira por ai!

A gritaria foi tanta, que até a Dona Galinha, foi logo se metendo na conversa:

__Desculpe-me Ratazana, mas pelo que vejo isso é um grande problema para todos, inclusive para nós, galos, pintos e galinhas. E mesmo sabendo, que são vocês os alvos de toda esta trama, meus pintinhos curiosos, poderão cair nela, por isso vou levá-los para dentro.

Ao ver que Dona Galinha falou e se trancou no galinheiro, Bimbo foi até o curral e falou aos berros com o porco:

__Senhor Porco, Senhor Porco... Acorda! Tem ratoeira pela casa, ratoeira, entendeu o que isso significa?

O porco foi logo falando:

__ Hora, hora..., só me faltava dormir com essa! Desculpe-me caro Bimbo, mas o que poderei fazer? Acalme-se, senão você vai ter um piripaque daqueles. É isso que você quer, é? Dá licença, tenho mais o que fazer...!

O pobre rato, mais apavorado ainda, foi até o estábulo e falou todo esbaforido:

__Senhora Vaca, Senhora Vaca! Pare de remoer e escute: tem ratoeira pela casa, ratoeira, entendeu o que isso significa?

A vaca soltou um mugido e foi logo falando:

__O que... Ratoeira? Por acaso isso significa que eu corro perigo? Nem precisa responder. Sabe por quê? Porque isto é problema seu, e não me venha com as suas, porque isto poderá prejudicar a decida do meu leite, sabia?

Foi então que o pobre ratinho, exausto, voltou para casa pensando:

__Por essa eu não esperava. Pensei que eles fossem meus amigos. Nem quizeram me ouvir. É o jeito é eu enfrentar aquela ratoeira sozinho. Nem meus pais acreditaram em mim!

Triste por não ter sido ouvido, Bimbo saiu cabisbaixo. Atravessou o quintal, entrou no buraco correndo, e nem ouviu sua mãe chamar por ele, apavorada. Até o Senhor Ratão, pai de Bimbo, também correu ao encontro do filho, ao vê-lo entrar no buraco.

Na tentativa de impedir a fuga de Bimbo, o Senhor Ratão acabou intalado no buraco. Nem a Dona Ratazana conseguiu tirá-lo daquele aperto.

Ainda bem que os vizinhos, ao ouvirem a gritaria de Dona Ratazana, resolveram sair das suas casas para socorrer o Senhor Ratão, que de tanto receber bicada dalí, fuçada daqui e chifrada acolá, finalmente desintalou do buraco apertado. Menos Bimbo, pobrezinho, que entrou no buraco e sumiu!

Naquela noite, ninguém dormiu sossegado. Como alguém poderia dormir com o sumiço de Bimbo? Dona Ratazana, pobrezinha, se ajoelhou de patinhas postas pro alto, suplicando:

__Meu São Francisquinho, traz o meu Bimbo de volta. Ele sempre foi tão bom com todos... Ele é o meu menino, lembra?!

No galinheiro, a Dona Galinha cacarejava de bico empinado:

__Me perdoa meu São Franscisco, por eu ter dado as costas pro Bimbo... Traz ele de volta, traz!

No curral, de fuça levantada, o porco também suplicava:

__O meu São Francisquinho, me perdoa e traz o nosso Bimbo de volta. Eu juro que nunca mais vou dar as costas pra ele!

A vaca, de ventas pro ar, mugindo desesperada, aos berros falava:

__ Estão vendo o que fizemos com o nosso Bimbo? Venham, venham, vamos atrás dele!

E a bicharada toda se reuniu e partiu em busca de Bimbo. Mas lá de fora, todos puderam ouvir lá dentro da casa, o barulho da ratoeira bater forte, pegando algo. Depois do barulho veio o silêncio.

Dona Florindo levantou da cama e saiu correndo do quarto, no escuro nas pontas dos pez, para não espantar os ratos, e ver o que havia caído na ratoeira. Ao chegar próxima da armadilha, especialmente preparada para o primeiro ratinho guloso, Dona Florinda soltou um grito apavorante..., e caiu. Atrás dela veio o Senhor Janjão que, também, ao se aproximar da ratoeira, soltou um grito maior ainda, e caiu junto da esposa.

Aconteceu que, com o rabo preso na ratoeira, uma enorme cobra, furiosa, picou o casal. Bem nesse instante, Bimbo chegou e se apavorou com o que viu, e voltou para casa com a língua fora da boca, falando a todos e a todas sobre o acontecido.

E a bicharada unida, feliz com a volta de Bimbo, chamou os cães que saíram correndo aos latidos, até a casa do vizinho, que veio correndo à casa de Dona Florinda e do Senhor Janjão, para socorrê-los.

No quarto do hospital, ainda em tratamento, o casal fora informado pelo vizinho, sobre quem de fato os salvou: os cães vira-latas com muitos ratos montados nos seus lombos.

A partir deste dia, Dona Florinda e o Senhor Janjão, passaram a tratar todos os ratos da casa, com queijo e outras gostosuras. Quem diria..., logos estes dois que tanto queriam ver os ratinhos mortos na ratoeira. Imagine só, até o Senhor Janjão perdeu o medo de ratos.

Finalmente, bem alimentados, os ratos foram se multiplicando e se espalhando pela cidade. É por isso que eles até hoje, de vez enquanto, dão uma chegadinha na sua casa.

Esta entrou por aquela porta e saiu por outra, quem gostou conte a alguém, quem não gostou que conte outra!

Bruxa da Mata
Enviado por Bruxa da Mata em 21/05/2011
Código do texto: T2985154
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