TIÃO BAIÃO LEVOU O MAR PRO SERTÃO
(TEXTO ORIENTADO AO PÚBLICO INFANTO-JUVENIL)
Conta-se uma história que um homem, com uma sanfona e um caminhão, levou o mar pro sertão nordestino...
Havia um sanfoneiro que era conhecido pelo nome de Tião Baião. Todos os anos, Tião Baião pegava sua sanfona e viajava em seu caminhão pelos vilarejos e povoados mais afastados do interior do nordeste para visitar e levar presentes para as crianças que ali moravam.
Todos esperavam ansiosos pela visita do tal Tião Baião porque sabia-se que aquela sanfona era um instrumento mágico, capaz de adivinhar e realizar os sonhos e os desejos mais secretos escondidos no coração das crianças.
Certa vez, Tião Baião chegou numa pequena vila e encontrou-se com algumas crianças que brincavam na rua. Estacionou seu caminhão, pegou sua sanfona e a criançada foi logo correndo ao seu encontro, formando-se uma fila para descobrirem quais seriam seus presentes.
Vim de longe, vim do leste
Trazendo a sanfona na mão
Quero ouvir o riso e ver a alegria
E levá-los na boleia de meu caminhão
Deixemos de tanta milonga
E comecemos logo com nossa canção
A primeira da fila era uma menina, sorriu-lhe com seus olhos feitos da terra seca do agreste, esperando que Tião Baião adivinhasse seu desejo.
E tocando a sanfona, lá apareceu no caminhão do Tião Baião um delicioso pote de doce de marmelada.
Cozinhei no fundo do tacho
Três marmelos e um limão
Hoje não tem rapadura
Mas há açúcar de montão
Desapareça toda essa amargura
E alimente teu coração
O segundo da fila era um menino daquele tipo de moleque bastante desconfiado. Ele ficou esperando a oportunidade de dizer ao Tião Baião: “Agora com meu pedido, danou-se”!
Tião Baião, com a sanfona na mão, olhou bem pros olhos dele e lhe respondeu:
Teu sonho é grande, grande é teu desejo
Menor que o mundo, maior que esse vilarejo.
Mas não se avexe, meu menino
Porque nasci nessa terra e eu nunca fraquejo.
Nunca se soube que Tião Baião não houvesse realizado um desejo de criança, e aquele dia, não seria a primeira vez.
O sanfoneiro subiu na carreta do caminhão e tomou uma enxada. Sem descanso e sem parar começou a cavar um buraco bem longo e profundo, construindo assim, uma espécie de piscina artesanal.
Quem foi que lhe disse que aquela sanfona mágica não trairia escondida naquele caminhão vários litros de água feito um carro-pipa, alguns sacos de areia de praia e alguns quilos de conchinhas?
Depois de despejar a água na piscina, arrumar a areia em toda sua volta e adorná-la com as conchinhas de mar, Tião Baião, sentou-se ao chão, secou o suor da frente e com sua sanfona começou a cantar aquela canção:
Gota a gota dessa água
Trouxe nesse caminhão
Porque mar também é fé,
Música feita oração
Porque a água nos dá vida
É pedido, é bendição
Um menino desejou
Que o sertão tivesse mar
Não tem peixe, é de água doce
Mas igual é pra nadar
Que as conchinhas sejam sonhos
Pra tua terra transformar
Que tua fé seja o sal
Que tempera a ilusão
Porque o mar está na cabeça
Quem carrega é o coração
Que os livros te acompanhem
Feito guia na procissão
Oxente! Vixe Maria!
E não foi mesmo que o tal Tião Baião, com uma sanfona e o caminhão, levou o mar pro Sertão!
SIMBOLOGIAS USADAS NO TEXTO:
1.Baião: Nome do personagem em referência ao ritmo musical.
2.Açúcar: muitas vezes a única opção de alimento e fornecimento de energia para as crianças que convivem com o problema da fome. Baseado no documental “GARAPA”, do cineasta José Padilha.
3.A água, fonte da vida. “O mais pernicioso dos males nordestinos, isto é, a sede humana”. Roberto Malvezzi.
4. A Fé que acolhe, alimenta e orienta. Não é a aquela que cega, ensurdece e entorpece.
“Temos que levar o mar às nossas crianças, em forma de alimentos e livros. Que a educação, seja a ferramenta para que no futuro esses meninos possam sozinhos saírem em busca dessas águas.”
Se meu personagem Tião Baião pudesse falar, essas seriam suas palavras.