Renato, O Menino Sonhador (Ganhador do Premio Literário Internacional no Chile).
Era uma vez um menino chamado Renato, um menino sonhador. Ele vivia sonhando, mas o que as pessoas não sabiam era que seus sonhos chegavam perto de uma realidade. Poderiam se tornar realidade.
Ele não tinha muitos amigos, era quietinho. Seu melhor amigo era um cachorrinho chamado Bob. Eles brincavam todos os dias e davam muitas risadas. Ao vê-lo rindo por nada, falando com o cãozinho, sua mãe pensava ser aquilo um comportamento estranho. Para ele, não havia nada de estranho naquilo, pois ele dizia fielmente poder conversar com o cachorro, mas ninguém acreditava. Nem mesmo seus coleguinhas na escola acreditavam. Riam dele e o chamavam de sonhador.
Começou, então, a acreditar que o mundo conspirava contra ele. Brigava com seus pais e achava que eles não o amavam. As pessoas não acreditavam nele. Diziam que ele era um bobo contador de histórias. Até que um dia, após o jantar, Renato, zangado, trancou-se no quarto, deitou-se na cama e disse para Deus o quanto gostaria que as pessoas acreditassem em suas histórias, que parassem de fazer chacotas. O menino pediu com tanta força em seu coração, que acabou pegando no sono.
Ao chegar a manhã, que parecia ser como qualquer outra manhã, notou que havia algo de estranho por ali. Em seu corpo, talvez. Mas o que seria? Caminhou até o banheiro para escovar seus dentes e percebeu não conseguia alcançar a pia. Foi para o quarto de seus pais para se olhar no espelho de corpo inteiro que havia lá e o que foi que viu? Que surpresa! Seu corpo agora estava repleto de pelos; suas mãos viraram patas; no seu rosto, havia um belo focinho e atrás, vejam só, um rabinho a abanar. Ele se transformou num cachorro. Não podia acreditar naquilo. Correu para a rua e encontrou Bob, que o reconheceu pelo olhar. Eles se olharam e não puderam se conter: lamberam um ao outro para ver se aquilo era mesmo real. Ficaram tão felizes, que começaram a correr feito loucos para todos os lados. Viram o quanto havia de magia em suas vidas. Mas, em pouco tempo, viram que nem tudo poderia ser só encanto.
Saíram para explorar as ruas um ao lado do outro, mas, como eram cachorros domésticos, não sabiam viver sem seus pais. Viram que a rua podia ser feia e que a briga por um lugar no ponto de ônibus ou numa sombra na calçada poderia ser disputada. Em certos pedaços, havia o domínio dos gatos. Em outros, moravam ratos e baratas. Para comer, tinham que revirar o lixo das calçadas. Quando entravam numa padaria ou sentiam o cheiro gostoso da comidinha caseira do restaurante da esquina e se infiltravam por lá, eram recebidos aos gritos e pontapés pelos humanos. Tomaram chuva, sol, sereno. Passaram fome, frio e medo. Renato, agora Cachorro Renato, começou, então, a sentir falta de sua casa e daqueles que lhe davam leite, pão, carinho, que o cobriam e o davam boa noite e um beijinho na hora de dormir.
Para sua sorte, ele era o Menino Sonhador. Chacoalharam-no: “Acorda, filho, acorda porque esta na hora. Vamos, vamos.” Ele despertou e descobriu que tudo aquilo que presenciara havia sido, na verdade, um sonho. Deu um beijo e o abraço mais apertado do mundo em sua mãe, que ficou surpresa. Mal sabia ela que seu filho havia acabado de descobrir que a maior magia, o sonho mais pleno na vida de uma criança é, na verdade, o amor e o carinho de seus pais.