A princesa de Mildur
Mildur era um reino muito vasto e belo. Estendia-se dos campos louros até as altas montanhas dos magos. O rei se orgulhava bastante de seus domínios, mas temia que tendo somente uma filha pudessem eles se perderem.
A filha do rei de Mildur já havia completado dezessete anos. O rei achava que ela deveria se casar. No entanto, tinha muito medo que o pretendente não fosse um rapaz bom o bastante para herdar seu reino. Passou um bom tempo pensando sobre o assunto e discutindo-o com seus conselheiros, até que um deles lhe desse uma resposta.
A resposta veio do conselheiro mais antigo do reino, ele já estivera com o avô do rei e apresentou a seguinte solução:
- Majestade, não deveis por em risco a nobreza de vosso reino, por isso oferecei a mão de vossa filha ao cavaleiro que vos trouxerdes o presente mais fabuloso.
O rei ouviu, atento, a sugestão do velho mestre e decidiu proceder de tal maneira. Um grande edital sobre a disputa pela mão da princesa foi pregado em todos os muros, e os arautos bradavam por todos os lados a grande novidade.
Muitos rapazes se interessaram pela empreitada, particularmente pelo fato da jovem ser muito bonita, e seu pai um rei. Muitos deles viajaram aos lugares mais longínquos para achar o tão cobiçado presente, aquele que daria a coroa ao vencedor.
Um dos rapazes era o príncipe Guliad, um jovem bem esbelto, corajoso e cortês. Na procura pelo presente, encontrou um mercador que lhe disse possuir a seda mais maravilhosa do mundo, pois ela mudava de cor. Assim, seria como se a pessoa estivesse sempre vestindo roupas novas. Devido a sua riqueza, Guliad comprou a seda e foi presentear o rei.
Outro rapaz era Ermet, filho de grandes senhores do sul, intrépido e destemido, embrenhou-se na escura floresta do lobo para poder escalar o monte azul, onde diziam que crescia a flor azulada, a mais bela de todas. Tinha a certeza de que o rei ficaria espantado quando visse a formosura da flor.
Também outro príncipe, Selef, interessou-se pela disputa. Viajou até o norte, onde conseguiu, com a ajuda de um ferreiro e usando seu notável conhecimento, fazer o escudo mais resistente já visto. Partiu também para Mildur.
O rei achou todos os presentes fantásticos. Porém, encantou-se, sobretudo, pelos dos três jovens mencionados. A seda seria um artefato inestimável; sem dúvida, alguém com a riqueza de Guliad, daria um ótimo marido. A flor, no entanto, pela bravura necessária para consegui-la, era uma mostra do destemor e da força de Ermet, outras grandes qualidade para um futuro rei. Por fim, Selef detinha grande saber, o que se evidenciava pela fabricação do escudo, outra virtude importantíssima para ser rei.
O rei, que achava ter resolvido seu problema no início, criara agora outro: a quem dar a coroa? Outra vez se reuniu com seus conselheiros para decidir o que fazer. Mas, com não chegavam a uma conclusão, os ares começaram a pesar em Mildur. Os três jovens aguardavam já não tão pacientemente a resposta.
A tensão durou até que um dia, o rei viu pela janela de seu quarto, a princesa passeando com o príncipe Luan, e notou que eles pareciam se gostar muito. Pronto. Resolveu-se o problema, Luan foi o escolhido pela própria princesa, assim também seria pelo rei; foi o que se explicou aos três jovens pretendentes. Desapontados, foram tirar satisfação com o rei, mas antes, o sábio conselheiro Ilur, o mesmo que dera a idéia da disputa baseada no melhor presente, lhes deu a resposta:
- Meus jovens, não fiqueis desiludidos nem enraivecidos. O vencedor além de tudo foi escolhido pela princesa, não quereis competir com ele. Acalmai-vos e percebei que o escolhido deu a ela o presente mais fabuloso.
Os rapazes retorquiram a uma só voz:
- Qual?
- Seu coração meus caros, seu coração...