CAÇA AO NINHO
Brisa adora ouvir as histórias que sua mãe conta nos dias que antecedem a páscoa, e agrada-lhe saber que a vovó era ótima cozinheira e produzia quitutes maravilhosos para a família, por ocasião da páscoa. A mãe lhe diz que, apesar de não serem católicos devotos, sabiam do significado da Páscoa, e respeitavam as tradições da época, ao ponto de, na sexta-feira santa, limitarem-se à conversas amenas, em tom muito baixo, além de não poderem rir, ouvirem música, olharem TV ou demonstrarem quaisquer sinais de alegria, pois isto representava um desrespeito ao sofrimento de Cristo, que morrera pela humanidade.
Mas como crianças que eram, sonhavam mesmo, era com o domingo de páscoa, pois sabiam que mesmo sem ter muitas condições, a mãe os encantaria com cestos de caixas de sapato, amorosamente enfeitados com franjas de papel de seda colorido, contendo as guloseimas que tanto apreciavam; balas de goma, ovos de açúcar decorados, alguns de marzipã, e uns raros coelhinhos e ovos de chocolate. Mas a sensação da cesta eram as casquinhas de ovos de galinha mesmo, os quais eram tingidos com papel de seda colorida molhado e recheados com amendoins açucarados. Quando surgiam os primeiros raios de sol as crianças não mais conseguiam dormir e pulavam da cama à procura da cesta de páscoa. A casa se agitava e todos corriam pra lá e pra cá, a mãe dando a "dica" de "tá quente", "tá frio" para ajudá-los na busca. Ninhos encontrados, respiravam fundo e chegavam a sentir o cheiro da felicidade espalhando-se na cozinha de chão batido, o café fumegando no fogão à lenha e os raios de sol infiltrando-se pelas frestas das velhas paredes, a preencher suas vidas com muita luz e amor. Doces dias, dias mais que felizes e que apesar de serem vencidos pela velocidade do Tempo, não se perderam na árdua jornada e continuam vivos na memória de cada um. Brisa sente-se feliz e privilegiada, pois sabe que sua mãe revive a todo ano estas mesmas emoções, e procura reproduzir aqueles momentos lúdicos com ela e seus irmãos.
Já é domingo! Brisa acorda e abraça amorosamente sua mãe, desejando-lhe uma feliz páscoa. Ansiosa, corre à procura da cesta e com a ajuda da mãe a guiar seu sonho, ela entende o por quê de ser uma criança tão amada e feliz, só não entende porque todas as crianças do mundo não têm o mesmo privilégio.
Helena da Rosa
24.04.2010
9;32 hs - domingo