UM DIA AGITADO NO SÍTIO

Havia naquele dia algo estranho no ar. Desde manhã dona Maricota andava pra lá e pra cá toda nervosa. Afinal aquele dia seria muito importante, seus filhotes estavam quase nascendo.

O dia havia amanhecido todo nublado e quase nem havia sol. Ela pressentia que algo errado estaria para acontecer naquele galinheiro. Foi sentar-se em seus ovos para aquece-los. Afinal ainda era Outono e dia ainda está frio não queria que seus filhinhos pegassem um resfriado logo ao nascer. De repente ouviu-se um latido longo deixando Maricota toda arrepiada.

Isso não era bom sinal, algo realmente havia de acontecer naquele dia além do nascimento de seus pintinhos.

Salomé a cadela daquele sítio estava impaciente e foi ter com dona Maricota:

- Comadre Maricota como vai essa ninhada hoje? Vão nascer hoje?

- Ah minha amiga creio que sim, tudo está previsto para mais logo a tardezinha. Mas me conta o que há de novo no sítio? Estou apreensiva e preocupada.

- Não sabe não Maricota? É que logo mais a tardinha vai chegar um novo cão aqui no sítio e pelo que ouvi o patrão falar ele é muito bravo e feroz.

- Mas porque um novo cão Salomé? Você não dá conta do recado direitinho?

- É minha amiga, pelo jeito para eles estou ficando velha e surda, já não ouço quando aparece as raposas, você lembra bem o que aconteceu semana passada? Foi uma confusão só.

- Ainda bem que eu vi aquelas danadas de longe e pude avisar meu patrão, mas mesmo assim elas conseguiram ferir a nossa ovelha Margarida. E depois disso ele começou a ficar pensativo. Me levou ao médico da cidade e ela disse que perdi um pouco da audição. Ainda bem que as vistas estão boas ainda, mas agora tenho que ficar mais tempo atenta e ver se não deixo mais aquelas raposas chegarem aqui perto do sítio.

- Agora vou indo Maricota, logo mais a tarde eu volto aqui para ver se já nasceram essa ninhada de pintos.

- Vá minha amiga que quando eles começarem a nascer eu dou um jeito de lhe avisar.

Salomé saiu caminhando meio cambaleante deixando Maricota ali preocupada com a amiga. Afinal o que estaria realmente acontecendo com ela?

O dia foi transcorrendo até que normal, até que por volta do meio da tarde Maricota percebeu que um ovo estava se partindo, saiu de cima da ninhada e viu um pequeno lutando para sair da sua casca. Ela assistia tudo sem ajuda-lo, afinal isso era tarefa dele, para criar forças.

E outro ovo estava agora se abrindo, e logo toda a ninhada de oito ovos estava finalmente fora de suas cascas. Era uma belezura de se ver.

Maricota ficou toda orgulhosa e cantou para avisar as suas amigas que seus filhos haviam nascido. Agora ela hora de alimenta-los. Ensina-los rápido como se virar ali no sítio.

- Salomé apareceu e deu os parabéns a sua amiga.

- O comadre que ninhada mais linda. A senhora está de parabéns, o patrão vai ficar muito feliz com essa turma toda. E oito de uma vez só. O coisa bonita de se ver.

Maricota estufava seu peito toda orgulhosa de sua prole.

Mas como tudo pode acontecer, eis que de repente chega o tão famoso cão que Salomé havia falado. Ele parece muito bravo e foi logo dizendo:

- Aqui não quero cantos fora de hora e nem muita conversa. Todas as galinhas para dentro de suas casas. Foi falando com autoridade deixando todas muito agitadas. Era uma contrariedade só. Maricota foi juntando seus pintinhos e rapidamente entrou no galinheiro.

- Escuta aqui o seu cão. Foi dizendo a velha Salomé. Aqui quem manda é o patrão e não você.

- Mas agora quem aqui sou eu, e se não gostou a porteira do sítio é logo ali, basta seguir seu caminho minha cara Salomé.

- Salomé ficou toda triste e foi saindo com o rabo entre as pernas, deixando Maricota toda preocupada. Quem pensava que era esse cão, nem bem chegou e já estava dando ordens.

Salomé ficou o resto da tarde muito triste e cabisbaixa. Pensou e pensou e finalmente tomou uma decisão. Iria embora daquele sítio e nunca mais colocaria suas patas ali.

Sentia muito pelas amizades que fizera e por sua grande amiga Maricota. E por isso resolveu que nem iria se despedir dela. E para que? Era bem capaz daquele cão todo empinado estar por ali a dar ordens. Arrumou suas tralhas e foi saindo do sítio, deixando um rasto de muita coisa vivida ali naquele lugar tão lindo que adorava.

As horas foram passando e Maricota estava ficando preocupada com Salomé. Havia muitas horas que ela não aparecia. Era estranho e nem um pouco típico da amiga.

Saiu a porta do galinheiro e lá estava aquele cão todo em pé, parecia um rei.

- O senhor cão? Por favor pode me responder uma coisa?

- Vá lá, mas rápido que não tenho tempo para conversa fiada.

- Onde anda minha amiga Salomé? Ela não costuma ficar muito tempo sem vir aqui dar uma espreitada. E ainda gosta de ficar olhando os meus pintinhos.

- Eu não vi Salomé, vai ver ela caiu em si e se mandou, aqui não tem lugar para outro cão.

- Isso está errado e você é muito arrogante.

- Ora, cale esse bico e vá para dentro que já está escurecendo. E olha o meu nome é Nero.

- Faz bem ao nome mesmo. Disse Maricota. Afinal Nero havia sido um imperador dos tempos de Roma e havia colocado fogo em sua terra.

- Nero não gostou e respondeu a Maricota.

- Se não quer servir de comida pra mim vá dando o fora oh Maricota.

Maricota foi saindo não sem antes dar outra resposta aquele cão tão mal educado.

- Educação vem do berço meu caro. E tu não tem nenhuma.

- Cale-se antes que eu perca minha paciência.

As horas foram passando e a noite caindo Salomé estava já bem longe do sítio e pelo jeito ninguém havia dado conta do seu desaparecimento. Era assim mesmo, tem gente que não dá a mínima atenção aos seus velhos. Nem cão, nem pais, avós, mas esquecem que um dia eles também vão ficar idosos e podem ser colocados de lado pela própria família.

A noite escura seu lua deixa o sítio muito triste e isolado do mundo.

Mas nem todos estão dormindo, Maricota está apreensiva e bem atenta ao menor ruído lá fora. Ela não confia nem um pouco no tal de Nero.

Salomé sem se dar conta havia andado em círculos e de repente se vê em frente ao sítio. Nossa estava ficando velha mesmo. Suas lágrimas caem e resolve ir descansar antes de sair novamente. Estava cansada e com fome.

Foi caminhando lentamente e ao longe ouviu um uivo de cão. Era Nero que mais parecia um cão em desatino. Salomé foi indo em direção ao uivo e parou estagnada quando viu cinco lobos em torno de Nero. Foi caminhando deitada ao solo e percebeu que ele estava muito machucado. Os lobos avançavam cada vez que ele tentava levantar-se.

Salomé então voltou atrás e foi chamar seu dono. Quando chegou ao sítio estava com a língua de fora de tanta sede. Foi beber um pouco d água e depois foi bater na porta da casa.

Raspou com muita força e finalmente seu dono apareceu.

- O que há minha velha Salomé? Que aconteceu? Parece que viu lobos menina.

E Salomé começa a latir e mostrar a direção em que viu Nero. Seu dono falou:

- Salomé, quando voltarmos vou lhe dar um grande filé. Você merece minha menina.

Caminharam bem devagar para não fazer barulho e, finalmente encontraram Nero.

Todo ensanguentado por ter lutado com os lobos. Seu dono ficou muito bravo e viu que uma das patas estava quase arrancada. Ele pensou em sacrificar aquele cão tão belo e altivo, mas Salomé percebendo entrou na frente e mordeu a arma de seu patrão.

- Está bem menina, não vou matar o Nero, mas vamos ter que leva-lo ao hospital agora mesmo. Você fica tomando conta do sítio e não deixe aqueles lobos se aproximarem, principalmente do galinheiro.

Salomé entendendo tudo foi indo a frente do patrão enquanto ele vinha logo atrás carregando Nero. Era de dar dó a situação daquele cão tão majestoso, afinal sua arrogância agora não lhe valia de nada. Que havia adiantado toda aquela arrogância? De nada com certeza.

Nero ficou bom, mas perdeu uma das patas. Levou algum tempo até que pudesse finalmente voltar a andar pelo sítio. Seu dono conseguiu um carrinho que colocado atrás o ajudava a andar. Quando Nero foi pela primeira vez ao galinheiro pediu desculpa a dona Maricota.

- Pra ver Nero nem tudo que fica velho está em desuso e aprendemos muito com eles.

- Espero que tenha aprendido a lição.

-Aprendi sim Maricota, e ainda hoje tenho uma novidade para contar a comadre. E deu um latido de alegria.

- É que sabe o que é Maricota, eu e Salomé vamos juntar nossos trapos e viver ali naquela casinha que o nosso dono fez. Ela cuidou muito bem de mim, e eu percebi que Salomé é uma grande companheira e uma lutadora. E percebi assim como você disse, que nem tudo está perdido e que posso ter uma companheira para me ajudar a olhar pelo sítio.

- Fico muito feliz meu caro Nero, espero que faça minha amiga feliz, ela merece.

- Merece muito mais Maricota, agora eu cuido dela, e ela de mim. Quem sabe ainda poderemos dar uma ninhada de cachorrinhos para o nosso dono. E latiu todo feliz.

Pois é crianças, aprendam uma coisa:

Nem tudo que parece é, e nem tudo que é velho é imprestável.

Afinal todos nós um dia ficaremos velhos. Pensem nisso e cuidem de seus pais, avós com todo o carinho do mundo que eles merecem.

Silvya Regyn@

11/04/2011

LuxSolar
Enviado por LuxSolar em 11/04/2011
Código do texto: T2902472
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