A Lagartixa e o gatinho

- Mamãe ela comeu o meu gatinho!- Desorientada a coitada da mãe levanta indo ao encontro do filho que faz um espetáculo daqueles. Ela que mal acabara de deitar, pensando esticar as pernas, espantar o cansaço e renovar as forças para efetuar as tarefas de sempre...

- Que aconteceu? – Pergunta a mãe. O menino se esgoelando de chorar diz: Ela comeu meu gatinho!

- Gatinho? Que gatinho, menino? E quem é ela? – Pergunta à coitada, mais desperta, mas nem por isso entendendo o que estava acontecendo.

- A ‘assassina’ comeu meu gatinho! Grita o menino e a mãe vai até o lugar apontado e começa a procurar o tal gato.

- Ora, eu não sabia que você tinha um bichano, e quero agora mesmo saber quem foi que comeu esse coitado.

- Mãe, a senhora não entende de nada!- diz o menino todo irritado. – A lagartixa comeu meu gatinho e a senhora sabe que eu tenho um ‘gatoooooo’, pois foi a ‘senhooooooora’ que o comprou pra mim.

- Ah, desculpe-me, sua excelência! Como sou esquecida. Você está se referindo àquele gato de plástico?

- Sim, mamãe! Eu gostava muito dele. – Começou o chororô. A mãe tenta acalmar o filho e diz com voz meiga:

-Olhe, amanhã é dia de feira. Eu compro outro gatinho igual àquele e vai ser melhor porque esse que eu vou comprar vai estar novinho. Afinal, o que a lagartixa comeu estava arranhado, faltando um pedaço do rabo...

Dando uma pausa, pensa em voz alta: - Como é que uma lagartixa pode comer um bicho daquele tamanho? Dando um pinote de susto, ouve uma resposta enrolada:

- Eu Não quero outro gatinho. Eu quero aquele de rabo quebrado.

- Tá, me desculpe filho. Eu pensei que se eu comprasse outro o problema estaria resolvido. Mas, me diga, como é que uma lagartixa pôde comer um gato daquele tamanho?

Arregalando os olhos e gesticulando muito, o menino responde:

- Foi uma lagartixo, com um bocão desse tamanho e eu ainda vi meu gatinho todo encolhidinho dentro da barriga dele...O bichinho estava com as patinhas assim e a cabeça deitada.

- Então se ela conseguiu engolir o gatinho vai morrer logo e a gente recupera o seu gato.

-Como?-pergunta o menino mais animado. A mãe logo mostra a saída: Abrindo a barriga dela...

-Então vamos agora mamãe matar a assassina e salvar meu gatinho! – O menino não dá tempo para a mãe segurá-lo. Sai numa disparada e tenta pegar toda lagartixa que encontra pela frente. Não tendo êxito volta chorando.

- Filho... Venha pro colo da mamãe. Daqui a pouco essa tristeza passa. Chegue... Vou cantar uma musiquinha e você vai começar a sorrir outra vez.

O menino senta no colo da mãe, ri um pouco, deita a cabeça no ombro amigo, e... Volta a cair num pranto desconsolado.

- Mamãe, sabe por que é que eu estou com essa tristeza do tamanho do mundo?-sem esperar resposta, acrescenta:

- É porque ele é o único brinquedo que eu queria guardar de lembrança da minha ‘juventude’, pra mostrar pros meus filhos...

A mãe permanece muda, faz o que tem que fazer: enxuga as lágrimas, as melecas e a baba que se misturam no rosto do filho que permanece inconformado com a morte do gatinho e com raiva da lagartixa assassina.

Ione Sak
Enviado por Ione Sak em 04/04/2011
Código do texto: T2889423
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