O barquinho de papel
Azul. Como uma pintura de caderno, o céu parecia uma aquarela: a tinta azul enchia toda a manhã. Se olhássemos para as nuvens, não as encontraríamos. A impressão era de que o desenho descia até as árvores, sem que se soubesse como, e chegava até o riacho.
O menino fazia um barquinho de papel. Ouvia-se o dobrar da folha: plec-plec-plec! Os bem-te-vis cantavam em festival, com a alegria de um amanhecer cheio de sol...
O vento subia pela copa das árvores e vinha brincar nas águas, num compasso suave, bem perto do menino... Levadas pela leve correnteza, porque não tinham escolha, as folhas secas... As pedras suspiravam quando recebiam uma espécie de onda, crescendo e crescendo...
Mas as águas continuavam numa procissão ao rio...
E o azul, lá em cima, sem dizer nada. Era um guache livre, eram os sonhos infantis do menino, eram os ventos alargando as nuvens do céu.
Respirava-se o sorriso do menino. De cada mãozinha os gestos formavam a arquitetura do barquinho. Todos os sons harmonizados na construção de um brinquedo simples.
E o menino faz a última dobra.
Os pés entram num trecho do riacho. E a criança vai manobrando o barquinho, com seus mistérios de viagem... E de repente o solta na correnteza: vê-se as abas do papel inclinar-se; percebe-se o destino solitário do barquinho arrastado pelas águas, guiado pelo vento...
Mas os olhos do menino eram de um rumor de infinitos cantos, que se ouvia a música, viva, do coração dele.
Para meu amigo Djalma Stüttgen.