SEU ROMPEU

Clarinha estava eufórica.

Desde o natal, só alegria.

A casa cheia de parentes.

Brincadeiras sem fim com os primos vindos de longe.

A avó, todos os dias, após o almoço, contava para os netos sentados no chão em volta da cadeira de balanço, histórias de bíblia.

Há! Os almoços! Que delícia...

As tias se revezando e se auxiliando na cozinha, preparavam batalhões de comidinhas maravilhosas.

A recomendação, hoje, último dia do ano, era que todos deviam dormir após o almoço para poder ver o romper do ano novo.

Clarinha não conseguiu conciliar o sono.

Por mais que fechasse os olhos, o sono não chegava.

Era muita excitação para dormir num dia como aquele.

Depois do jantar com sopinha de batata baroa preparada pela tia Anunciada (tia Anu), o banho, o vestido novo, a meia de croché, o penteado cheio de grampos e o diadema florido.

O sapato branco, que tinha machucado o pé na festa do natal, agora estava amaciado pelos grãos de milho, embebidos no álcool, que a avó tinha colocado.

As horas se arrastavam e, lentamente, Clarinha foi vencida pelo sono.

Despertada pelo ribombar dos fogos de artifício e pelo alarido dos parentes, se abraçando e se beijando, entre risos e lágrimas, Clarinha perguntou em altos brados:

- Seu Rompeu já passou? Heim, mamãe? Mamãe, oh! Mãe... Seu Rompeu já passou?... Seu Rompeu já passou?...

(continua em Soldadinho)