Uma Linda Criança

Uma Linda Criança

As manhãs sempre são as mesmas! Ele toma o seu café ralo e sai pelas ruas com uma bandeja de bolos na cabeça, vendendo pela cidade. A vida de Betinho não é fácil, até os bolos que vendem não consta em seu café da manhã! Cada dia ele aprende com os moleques de rua o “beabá” da vida, mas prefere ser diferente destes, pois aprendera com seu avô que homem sem postura não chega a ser reconhecido.

Bentinho sempre fora apegado ao avô e com ele aprendeu a andar com dignidade e respeitar a vontade da vida, que tem seus preferidos, mas estes preferidos são pessoas que trilharam o caminho da decência.

O menino nunca questionou ao avô o porquê de levar sempre uma vida simples, apenas seguiu seus ensinamentos, prevendo sempre o seu encontro com a vida, como ensinara o pobre velho.

Criado sem pai, a criança sempre teve o velhinho como referência e antes do pobre falecer, bebeu com vontade todos os seus ensinamentos e jurou a si mesmo que um dia ia ter a vida que o pobre homem nunca tivera.

As tardes no pequeno bairro eram muito divertidas ao lado do vovô, que passavam longas horas contando-lhe histórias de homens vencedores, que ficaram ricos, usando sua sabedoria. O vovô André, costumava dar ao neto chá e bolo, enquanto fazia marionetes, que eram usadas para contar as lindas histórias ao pequeno neto, que as ouvia encantado.

Seu André, que era um homem muito solitário, sentiu-se muito feliz quando a filha engravidou e desde cedo suspeitou que a chegada do menino viesse dar novo ânimo a sua vida, por isso, apesar da filha nunca ter revelado o nome do pai do garoto, nunca a tratou com desprezo, mas procurou ampará-la sem fazer questionamentos, apenas aceitou e lutou para que não passasse por dificuldades.

A filha de André sempre foi uma moça sem ação, nunca teve diálogo com o pai, não porque este não o permitisse, mas por índole mesmo da moça, que nascera calada e assim permaneceu por toda vida. Sempre fora estranha e o pai que a criou sem a presença do pai, não questionava, apenas aceitava o jeito estranho da filha.

A falta de diálogo não era apenas com o pai, pois ela também tratava o pequeno Bentinho como se não existisse e se não o maltratava, também não esboçava nenhuma forma de carinho.

Quando o pai morreu, Catarina não sabia o que fazer com o filho e mesmo diante das dificuldades continuou parada, como se nada acontecera. Não chorou. Não compareceu ao enterro. Não agradeceu os vizinhos que pagara as despesas do enterro, apenas entrou em casa e deixou a porta aberta para que o filho entrasse.

O pequeno Bentinho, não voltou para casa neste dia, apenas apareceu no dia seguinte e encontrou a mãe sem ação como sempre! O garoto entrou no quarto do avô e relembrou com lágrimas as histórias fantásticas que o velho André lhe contava e olhando para mesinha viu uma xícara com o mesmo chá e o bolo que o avô fazia, então se percebeu com fome e sabia que a partir dali passaria por mais dificuldades.

Apesar de tudo, sabia que embora fosse criança, tinha que tomar a frente da família, pois a mãe não se importava com o que viria acontecer, vivia como uma morta-viva! Não restou alternativa ao guri, a não ser pilotar o fogão e aprender a fazer o bolo que o velho André fazia e oferecê-lo de porta em porta.

Foi com a venda de bolos que garantiu o seu sustento e o sustento da mãe, mas a comida não conseguiu preencher o vazio de sua alma deixado pela ausência do avô e a indiferença da mãe! Tinha que ser um homem de sucesso, como nas histórias fantásticas que vovô André contava e um dia decidiu partir, porém nada levou de sua casa, saiu com a roupa do corpo sem dizer nada a mãe. Tomou, entretanto, o cuidado de vender muitos bolos para deixar uma boa reserva de dinheiro para mãe e com seus oito anos sumiu para sempre na multidão sem deixar rastro.

A mãe nada reclamou. Não foi à polícia. Não perguntou aos vizinhos. Apenas deixou a porta aberta para quando o filho voltasse, mas este nunca mais voltou. A mulher aceitou, não reclamou nem a Deus nem ao diabo, continuou com sua vida estranha como se quisesse esconder seu interior de si, de Deus e do mundo.

O fim que o pequeno Bentinho levou ninguém até hoje soube. No bairro apenas vive a lembrança do menino adorável que amava o avô e que vendia bolos com decência, querendo ser sempre um homem de bem. Dona Catarina, continua em silêncio, nunca procurou saber quem a envia todo mês um bela pensão, que garantirá até o fim de sua curva uma vida confortável! O filho para era é como se nunca existira! Eh, Bentinho! Onde andarás tu?

Larry Redon
Enviado por Larry Redon em 24/01/2011
Código do texto: T2749573