A ENCRENQUEIRA !
Lana, chegou em casa ofegante e afoita, entrando foi logo dizendo a sua mãe: Sabes o que me aconteceu hoje na escola? Pedro me xingou, disse que eu era chata e egoísta, só por que não quis emprestar meu joguinho de memória pra ele, com raiva, eu o empurrei e fomos nós dois suspenso para a diretoria, a senhora tem que ir lá dizer que eu não tive culpa de nada, o jogo é meu e está acabado, Louise, olhando sério para sua filha de oito anos disse: Lana, por que todo dia briga com alguém? Deste jeito ficarás sozinha, se tornarás uma menina que ninguém quer chegar perto, sendo antipática e encrenqueira, é isto o que queres? Lana sempre tinha uma resposta: Mas mãe, eles é que são chatos, não gostam de brincar comigo, querem tudo que eu tenho, sempre me dizem que sou mimada, orgulhosa e vaidosa, eles é que estão errados, e não eu mãe. Louise, já não sabia mais o que dizer e fazer, pois Lana sempre tinha desculpas para si mesma, e culpa para os colegas, todo dia era uma queixa diferente contra alguém, ou era o Pedro, ou o Paulo, ou a Carla, sua filha sempre era a vítima, o que fazer? Precisava agir, isto não podia continuar, mas como? Já tinha ido conversar com as professoras, no que elas sempre repetiam, Lana implicava com todos, reclamava sempre, vivia querendo chamar atenção só para si, como não conseguia, se fazia de vítima de tudo. Louise pensou em várias alternativas, fazer a filha reconhecer seus erros, levar no médico, lhe dar castigos, mas não achou nenhuma boa.
Louise, trabalhava como enfermeira, e duas vezes por mês, fazia visitas fraternas em um asilo, lá morava João Carlos, um idoso de setenta anos, fora deixado pelos dois filhos, que não souberam lidar com as encrencas e neurastenias do pai, Louise, sempre que chegava bem cedinho no domingo, ia cumprimentar João, perguntando como fora sua noite, onde ele respondia, que tinha tido uma noite de cão,que tudo estava mal, sempre resmungando da comida, dos colegas de quarto, que pegavam seus pertences, ou que falava muito alto, ou que não deixavam ele dormir, ou que escondiam seu lençol, sua rede, sempre culpando os outros idosos, no início, Louise acreditara nele, mas as funcionárias do asilo, contaram a ela, que os outros idosos não faziam nada do que João Carlos dizia, simplesmente ele era habituado a se queixar e colocar culpa em todos, sempre se fazendo de coitado e vítima, ela comparou João, com sua filha Lana, sempre arranjando culpas para todos, e imaginou que se a menina não mudasse suas atitudes, seu jeito voluntarios, seria uma adulta problemática, com aquele seu comportamento. Naquele momento, Louise encontrou uma boa idéia para ajudar a menina, já sabia o que deveria fazer. Chegando em casa, encontrou Lana vendo desenho, Louise sempre pedia para sua irmã Lueni, ficar com a menina, para poder ir nas visitas, conversou com ela sobre sua idéia para ajudar Lana, sua irmã achou ótimo o plano, pois percebia que a cada dia que passava, a menina ia ficando solitária, pois as crianças da vizinhança, já não lhe convidava mais para brincar.
Passado mais uma semana de aula, onde a menina sempre chegava com as mesmas histórias e queixas contra os colegas da sala, chegou o dia da visita, Louise, lhe explicou para a filha, que desta vez, teria que levá-la, pois Lueni, não poderia ficar neste domingo, teria uma prova. As duas se aprontaram e foram para o asilo, chegando lá, Louise como sempre,foi cumprimentar João Carlos, apresentando sua filha a ele, no que ele logo disse, ah... crianças, só atrapalham nossa vida, e começou suas queixas e lamentações, Louise deixando Lana com ele, foi falar com os outros moradores como sempre fazia, tentando atender a todos, No final foi buscar Lana, encontrou a menina com as duas mãos no ouvido, assim que viu sua mãe, saiu correndo de lá, pegando a mão da mãe puxando-a para fora.
Chegando em casa, Louise perguntou se ela tinha gostado da visita e de João Carlos, Lana na hora disse: Eu já não agüentava mais escutar tantas queixas e lamentos do João, ele sempre coloca culpa nos outros, todos encrencam com ele, ou querem seus pertences, ou lhe xingam, nossa que chato, Louise, aproveitou e lhe disse: Assim será você no futuro Lana, se não para com este seu comportamento de vítima de todos. Ficará sozinha que nem ele, por que ninguém agüenta ficar perto de pessoas que só sabem reclamar e se queixar. A menina, ficou olhando para a mãe, surpresa e com medo, começou a chorar, dizendo que não queria ficar sozinha, prometendo para Louise, que iria para de ser deste jeito, encrenqueira. Louise, sorriu feliz e aliviada, enfim, nada melhor do que experimentar do seu próprio mal para se curar.