Criança tem cada uma...!
Criança tem cada uma...!
Fui buscar minha caçula, à época com três anos, na escolinha. Por motivos de força maior cheguei atrasado ao estabelecimento de ensino. Ah! Quando a encontrei estava tão emburrada que me bateu uma pontinha de remorso. Tentei agradá-la, a fim de tirá-la do mau humor em que se encontrava, mas, nada que eu tentasse conseguia arrancar um ingênuo sorriso da pequerrucha. Argumentei sobre o motivo do atraso, porém ela não quis conversa. Continuou com a cara de poucos amigos. Entramos no carro e partimos em direção a nossa casa. Durante a maior parte do trajeto ela continuou embatucada. Nada me respondia. Tampouco me perguntava. Quando já havíamos deslocado mais da metade do percurso, ela se voltou para mim, numa impetuosidade infantil jamais vista, e ameaçou-me:
- Olha meu pai – disse-me em tom profético e ameaçador -, quando eu crescer que você ficar pequenininho (fez a comparação do tamanho que eu ia ficar mostrando-me uma abertura de mais ou menos três centímetros entre os dedos polegar e indicador) e que eu for lhe buscar, vou chegar atrasada pra você ver como é bom!
Intimamente não me contive, ante aquela demonstração de perspicácia. Porém, para não enfurecê-la ainda mais, segurei a vontade de liberar um hilariante sorriso. Se tal ocorresse era o mesmo que cutucar o rabudo com uma vara curta. Continuei argumentando sobre a razão do atraso... A danadinha estava tiririca e não queria conversa. Arrisquei, então, o convite para um regalado lanche. Aí sim. Diante de tão tentadora oferta, seu semblante carregado desabrochou - como a flor que desabrocha para receber os primeiros raios de sol da manhã-, e esboçou um rasgado sorriso! Saboreamos o prometido e apetitoso lanche e demos a pendenga por encerrada.
Conclui, então, que nada melhor que umas boas guloseimas para resolver um impasse juvenil.