Ninho de anum

Já era noitinha quando os três amigos, Ari, Neto e Zé Maria passaram próximos a umas árvores numa pequena floresta a uns quinhentos metros da primeira casa da cidade. Estavam passeando e brincando. Estilingue no pescoço. Calção e pés descalços. Pura brincadeira de menino. De repente viram que das árvores voaram alguns pássaros, viram também que era um ninho, então combinaram de quando anoitecesse de verdade e ficasse bem escuro viriam até aquela árvore onde estava o ninho para pegar, além dos filhotes também as aves adultas que, segundo os seus pensamentos, não poderiam voar a noite e assim ficaria muito fácil pegá-los.

Ari era o mais afoito e não via a hora de ir até o lugar combinado, o Neto era o mais esperto e o Zé Maria era daqueles que de qualquer jeito tá bom, tranqüilo.

Finalmente depois de muita espera, para eles foi muito tempo, chegou o momento esperado. E lá se foram para a árvore onde estava o ninho. Estava bem escuro, eles foram se aproximando de mansinho mata a dentro e chegaram até a árvore. Logo perceberam que se tratava de um pé de caju. Ari mais afoito foi logo subindo, seguido por Neto e o Zé Maria ficou mais embaixo. Cada um queria subir no pé de caju mais rápido para chegar ao ninho primeiro e pegar os pássaros. Com todo o alvoroço as aves adultas voaram, para desapontamento geral, mas não desistiram, foram em frente, afinal restavam os filhotes. Na verdade eles viram no momento em que os pássaros adultos voaram que se tratava de anum preto, pássaros sem nenhum valor e nem sabiam também o que tinha dentro do ninho, mas. Enfim já estava ali e foram adiante. O Ari chegou logo e foi deslizando o pé devagarinho no galho de baixo e segurando no galho de cima, mas não contava que o Neto tivesse a mesma idéia e coragem, assim com o peso dos dois não deu outra, o galho de baixo quebrou, o Ari segurou-se no de cima que também quebrou e a queda foi inevitável! Um estrondo ouvido lá nas casas, uma queda terrível! O Neto não chegou a cair, mas desceu rapidamente e junto com o Zé Maria foi socorrer o Ari que a essa altura estava estendido por debaixo dos galhos, semi-desmaiado. Algumas senhoras que haviam ouvido os gritos vieram para socorrer, jogaram água na cabeça do Ari e o levaram até sua mãe.

Quando chegaram a mãe do Ari que conversava com algumas sobrinhas e com a avó do Ari, ali no terreiro de casa, foi informada do que aconteceu mas nem deu importância. A vó do Ari foi que o levou pra dentro fez um chá pra ele deu um comprimido de AS. Depois de chorar um pouco, Ari adormeceu. Por sorte ele não quebrou nada, estava inteiro!

No outro dia Ari fez questão de ir até o local e ver, com a luz do sol, o estrago. Viu que teve muita proteção do céu, pois havia caído a apenas uns trinta centímetros de uma ponta de árvore que havia sido cortada a pouco tempo e que o espetaria fatalmente se tivesse caído em cima dela. Pensou consigo que nunca mais na sua vida pegaria ninho de pássaros em árvores nem que fossem pássaros valiosos. Agradeceu a Deus por ter livrado-o da morte ou mesmo de não ter ficado paralítico ou coisa assim. Ari também verificou que os filhotes morreram. Ele ficou muito triste por ter destruído o lar dos passarinhos.

Ari tirou uma lição para o resto da vida. É melhor pássaros voando do que mortos no chão.