Abracadabra
Numa noite assim, em que as estrelas ficaram distraídas, alguns vaga-lumes passaram pela velha figueira. Todos muito animados.
O menino deitou-se cedo. A fazenda, segundo os costumes, dormia com as galinhas. E se passam minutos... E a criança sem pegar no sono. Os pezinhos lidam a entrar e a sair do lençol num plic-plic do silêncio do quarto. Os olhinhos a vagar pelas telhas. Começam a buscar um resto de luz pelas frestas do teto... Entre a madeira e a parede... num gosto de lindos sonhos...
... Um pirilampo acendendo e apagando entra pelas aberturas do teto e se dirige para o pequeno... Consegue sentar no lençol e desliza para bem perto do rosto infantil, e se nota o fulgor que basta para todas as sombras se converterem em movimento... ooba!...
... Um chapéu de palhas em cima da mesinha... a camisa no espaldar da cadeira... E a baladeira escorregando nas paredes, fugindo dos seus lugares, mais que alegres... num jogos de luzes...
Um mundo novo encanta o garoto. E ele descobre que quer ser vaga-lume. E, sentando-se na cama, fala ainda sonhando: _ Abracadabra, me transforme num pirilampo!
E foi pelas fendas do teto, ainda no começo da noite, que o menino cruzou a figueira e só me restou dizer: _ Agora é minha vez!