O gato cozinheiro

Júlia abriu os grandes olhos castanhos com lentidão, fechando-os logo em seguida. O sol que entrava pela janela feria sua visão. Por fim, depois de resmungar um pouco, ela sentou-se na cama.

Estranhou a camisola que usava, de um tom delicado de rosa. Não se lembrava de ter aquela roupa. Olhou para a parede e tomou um novo susto: aquele não era seu quarto! Onde estavam suas estrelinhas fosforescentes e sua parede azul clara?! Aquele quarto era todo de madeira, com vasos de tulipas vermelhas e amarelas espalhados nos cantos.

Saiu do pequeno quarto, com uma curiosidade crescente. Onde estava, afinal, e como fora parar ali?

Viu-se num corredor da mesma madeira clara e brilhosa do quarto e foi até o fim dele, indo parar numa cozinha.

Olhou para a grande mesa que havia no centro do cômodo e ficou boquiaberta. Havia sobre ela uma quantidade enorme de doces e bolos. Biscoitos de chocolate, bolos com cerejas e glacês coloridos, tortas, gelatinas... Uma infinidade de guloseimas.

-Bom dia! - Ronronou uma voz, assustando a menina.

Ela olhou para a pia e viu... Um gato! Um gato vestindo uma roupa branca e um chapéu de chef.

-Ah... Bom dia. Quem é você?!

-Meu nome é Tolousse e estou encantado em tê-la em minha casa, senhorita Júlia.

-Mas como vim parar aqui? Ontem à noite eu estava no meu quarto, na minha casa, em Porto Alegre...

-Miau... Sim. Mas agora está aqui. Como chegou não é importante. Ficará aqui por pouco tempo. Então, coma tudo o que quiser.

-Mas... Não posso comer tantos doces. Ainda mais pela manhã! Mamãe me colocaria de castigo.

-Nesse mundo onde você está, tudo isso é permitido. Não existem castigos.

-Que bom... - A menina exclamou e hesitou ainda um instante antes de sentar-se à mesa e começar a comer. Serviu-se de brigadeiros, tortas e tudo o mais que encontrou.

-Como um gato consegue cozinhar? E falar?

-Miau. Nesse mundo pode.

-Que mundo é esse afinal? Quero viver aqui!

-Miau. Esse é mundo dos sonhos e você acordará em breve...

Antes que pudesse assimilar qualquer coisa, tudo o que ela via sumiu na escuridão. Quando abriu novamente os olhos, encontrou o teto de seu quarto azul.

Ouviu um miado fraco, vindo da rua e debruçou-se na janela.

Era apenas um gato de rua qualquer, laranja e magrelo. Mas parecia com o gato de seu sonho.

Ela calçou os chinelos e saiu do apartamento com rapidez. Chegou à rua e parou perto do gato.

-Você é o senhor Tolousse?

"Miau"

-Então eu vou levar você pra casa pra comermos bolinho de chocolate com biscoitos.

E pegou o bichano nos braços, com segurança, antes de voltar a subir as escadas, tranquilamente.