Do outro lado do bodoque
Naquela época eu procurava muralha para bem alto subir no que era um simples cercado. Era por ter visão sobre os lados livres de minha fortaleza, uma simples cabana junto à mata. E como não tinha torre em castelo para mirante, fui guardiã no meu império, desde o mais alto que podia subir em árvore.
Eu criança, também era de uns fascínios pelo Azul, isso desde que alguém revelou em história de encantamento que o Mundo era redondo, redondo... E azul.
E assim teve início um imenso querer, onde tudo começara e agora estando eu no Mundo, Redondo e Azul.
E também foi por esses tempos que descobri que grito, às vezes, funciona por libertação: aquela teve sorte, a raposa passeando distraída, foi direto em armadilha, mas no exato momento em que iria receber ato ação por não mais viver gritei.
Mas gritei um grito tão grande que a bichinha teve tempo e ganhou em átimo pedaço de campo e breve matoléu. E mãe feraz, de tirar vida de bicho, botei ela num susto pra não nunca mais esquecer meu grito e espanto.
De bichos que por lá tinha muito, lagarto era meu medo com riso, porque eu era de ser o seu medo, ele correndo pro mato. E aquela, a raposinha se aprendeu lição para não andar tanto distraída deve passear solta por aí, até hoje no azul.
Era por lá os acontecidos e, naquele tempo havia umas palavras que muito, muito queria esquecer. Assim se fosse de meu poder era por desinventar ESPINGARDA e MATAR. Essa última palavra, depois vi e fui saber, era verbo. Coisa de ação que para mim maldição de fazer sofrer.
Não. Nunca gostando e tanto ter que escutar. Todo dia. De instante em instante para se repetir adiante – Matar. Matar, matar... O que fazer ou como para apagar as letras e composição de Matar!?... Até hoje me desconsola ter escutado tanto a palavra. E lembro, meus ouvidos em negação.
A prática para esta palavra que eu negava começava pelos pequeninos. Insetos, depois os de saltar e tibum na lagoa. Se desse tempo era de se viver um pouquinho mais, se não, tibum.
Cachorro e gato também, muitos tinham que “desistir de viver” antes da hora aprazada do destino. E o meu destino era que, quem eu mais amava (trazia as histórias de meu encantamento), mas era quem trazia também a espingarda.
Domingo, depois da missa e cada menino recebia a sua e munição: espingarda. E eu mais uma vez num desespero sem ter para quem contar um desassossego em mágoa que mal me existia eu em mim.
No fim do dia ou quando sede e fome mandasse a volta pra casa, meus primos traziam a colheita. Todas, aves em cores lindas. Tamanhos vários, mas já sem vôos. Sem pios e cantos que eu tanto escutava. Só me restando desejo de azul.
Eu menina e só. Só desesperação sem palavra, sem ninguém para dizer. Mas ainda bem. Era de uns silêncios, grande. E assim adulto não ficava muito me espiando: fui eu quem bem melhor soube espiar por aqueles tempos. E hoje ainda pratico.
Mas porque lá, o grito nunca me saltava, vômito? Diante daqueles olhos cheios de orgulho? Meu avô se expandia para os seus guris, e eu, e todo o meu sofrer, tão presa dentro de tão maior silêncio. Gritando por azul e que vovô não tinha orgulho.
Aqueles passarinhos, até hoje quando penso, é algo bem maior por não compreensão de minha parte. Eles todos aprisionados em mim, ainda me acordam um ente entristecido, longo de distanciamentos em lembrar.
Céu sem pássaro sobre bosques desaparecidos para se pensar em verde, só restando o azul.
E saudade de passarinho só podia ser algo de se ter muita cor. Principalmente todos os vôos mais os que não tive.
Mas criança era de afeição por coisa de impossível: devia ser por ser de natureza em terra, de viver com os pés no chão.
Agora vivo em flutuar se vejo raro passarinho. Mas ainda me chamam para o Azul.