OS GRILOS DA ZULEIKA = EC
Parece que ela estava fadada a ser sempre a última.
Foi a última filha, acidente de percurso de pais de meia idade com filhos adolescentes, estes sim, planejados, esperados com emoção e recebidos com alegria, mas à essas alturas da vida não estavam nem um pouco entusiasmados em começar tudo de novo, fraldas, papinhas, vacinas, madrugadas insones.
Sua vinda a este mundo foi considerada mais como um transtorno do que como uma benção, mas como sempre acontece, o instinto foi mais forte e a pequena Zuleika acabou sendo muito amada.
Ela, entretanto, sentia-se infeliz por um motivo que podia até parecer uma bobagem, mas que para ela era muito importante. Seu nome sempre era o último nas listas por ordem alfabética e ela não podia entender a razão disso.
- Na escola, quando a professora chama meu nome ninguém me ouve dizer “presente” porque todos já responderam e não estão mais prestando atenção.
- No dia das crianças todos os alunos receberam uma lembrancinha da escola. Quando chegou minha vez, todos já tinham aberto o pacote e sabiam o que era o presente, todo mundo estava cansado de bater palmas e quando fui beijar a professora ela já estava cheirando cuspe de tanto ser beijada pelas crianças.
Isso a incomodava tanto que, se pudesse fazer um pedido ao Aladim da Lâmpada Maravilhosa ela certamente pediria que o alfabeto fosse invertido.
Os colegas perceberam o seu grilo e a amolavam dizendo que ela estava segurando uma lanterna.
Até que um belo dia a Zuleika voltou da escola radiante:
- Mãe, hoje é o dia mais feliz da minha vida!
- Humm, que foi que aconteceu para deixá-la tão feliz?
- Entrou na escola uma menina chamada Zulmira
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Este texto faz parte do Exercício Criativo – A LANTERNA
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