Estação Cigarra: Formiga
Entre a fonte e o pé de jambolão. Depois do canteiro de alcaparras, e que os condes de além cerca espiam de lá. No exato dos três juazeiros, linda e lépida vive. E encanta-se por assistir umas pepitas, o lento desenvolver do fruto-juá. Ela também de ouro. A cigarra.
Ela, a cigarra em ouro-verde-transparente. Aposto para o instante de incandescer da tarde, que para o fim desta as rubras juritis e verde-azuladas saíras, mais jacutingas, serão os donos da festa.
- De que cor é o infinito da cor? Pergunta a formiga, admirando-se de si entre os raios do Sol.
- Na primavera? É cigarra. Responde um tanto malicioso o gafanhoto. E acrescenta: É cigarro, urgente pra namorar antes que termine a estação, comadre!
- O cigarro?... Tem estranhamento a formiga.
- Sim. O namorado da cigarra. Diz o gafanhoto.
E assim transcorria a porção mais quente do dia, quando a formiga fazia intervalo para narrar sobre a vida no quintal. Mas que ultimamente se resumia em falar da cigarra.
- Cigarra é bicho estouvado, logo se vê! Diz a formiga com desprezo.
- Mas essa aí até que é de uns silenciozinhos. Responde grilo e salta para o folharal.
- A gente é de tanto trabalhar, mas essazinha só sabe... Ai, socorro! Por pouco não fui para o brejo. Grita se escabelando toda, a formiga.
Era um tamanduá que se aproximava. Escondido na ramagem aguardava a hora de aplicar o que seria o último susto da formiga. Mas que não a alcançou de língua, que era o seu desejo. Estava gordo e lerdo, o petisco fugiu.
Um pouco arisca e para se recuperar do sobressalto, a formiga vai se resguardar junto à fonte e encontra o louva-a-deus. Este tinha ido às águas por saciar a sede, agora tem pressa por sua rede no quintal.
- Que coisa mais deselegante esses zanzinados de cigarra! Não desiste, a formiga e os pobres ouvidos, louva-a-deus.
- É. Mas se canta os males espanta! E deixe o inverno chegar e verei a vizinha com saudades de cantoria.
- Mas isso é de estourar os ouvidos de qualquer criatura. Insiste a formiga, um tanto ofendida com o comentário.
Todo ano era sempre igual. É chegar a Primavera e a formiga logo começa com a tentativa de difamação contra a cigarra.
A pobre não entendia que a estação mais florida do ano é quando a cigarra afina a voz para a próxima estação: tempo-cigarra.
Verão. E as criaturas, todas que ali viviam a esperavam, à sombra e que afinavam também. Eu a viola, os outros, tantos, os ouvidos.
À sombra e música embalavam-se como eu os bichos. Na varanda, nas bordas dos telhados do galpão e até nas frestinha das cercas.
Um dia um lagarto com insônia ao meio-dia, resolveu resolver a questão cigarra-formiga. E fez descobertas de grande admiração.
A formiga com árdua vida operária, só o que consegue ver da cigarra é seu tempo de cantar. E ela trabalhando seus dias, em obrar deseja silêncio. Mas que para a outra é tempo de se fazer presente a toda gente, pela voz. Aproveitar, afinal a vida é só um tantinho de tempo e ser feliz.
Mas quem era de saber sobre vida, formiga. E de cigarra, que essa tem destino triste.
A sete palmos de terra. Sete anos por sonhar. A cigarra o maior inseto do Mundo, sonha com um imenso de cores e Sol, jardim. E brota para ele, ninfa. Mas quem explode em agudo de tanto canto-cantar é o noivo da cigarra. E ele depois de com muito amor-amar a sua bela noiva, quase morto de felicidade, cai por terra e breve morre.
E ela no susto do cair do corpo-noivo, crava as unhas no tronco de uma árvore. Deposita os frutos de tão breve amor. A cigarra também morre.
E mais lhes digo: a vida é ovo. Larva. Ninfa e cigarra... E que toda criatura foi de amanhecer para a luz. Foi de um existir extrema-estrela. E que há de viver Primavera. E arder num verão...