O AMOR DO MOSCA

O AMOR DO MOSCA

Era um dia quente de verão e lá estava a mosca cercando o varão. Musca domestica, que nome lindo. Toda negra e peludinha e chamada de menina mesmo sendo menino.

Ele naquele estábulo era o rei mesmo tendo nome de rainha, mas um dia passa por ele uma bela varejeira azul. Ela passou rápida e ligeira com sua cor azul. Azul? Ou seria verde?

Não importa, pois ela passava rápido pelo estábulo indo em direção do pasto.

Na mesma hora o mosca se apaixonou, foi como tivesse sido picado por um cupido. Não sabia explicar a dor que sentia no peito, o tremular bobo se suas perninhas e a moleza em suas asinhas.

Ele, aquele monte de estrume tão fresquinho e que tinha um cheiro delicioso e era tão quentinho, acabou perdendo o interesse no seu alimento, pois o mosca queria saber mesmo, quem era a tal verdinha.

Verdinha? Ou seria azulzinha?

E ali no mesmo espaço do mosquinha vivia uma parenta que gostava de chifres, a Haematobia irritans, na mesma hora, o mosca foi até as primas para saber se elas conheciam a tal mosca azulzinha. Azulzinha? Ou seria verdinha?

E mesmo com a irritação do pobre touro, as priminhas souberam de quem o mosca falava, pois elas conheciam a mosca azul que se chamava Calliphora vomitória.

As priminhas falaram que a mosca azul é uma senhora muito gulosa e grandalhona, gosta de comer carne, seja de homem e ou de bicho. E tem ate quem diz que a azulona captura as outras primas e coloca na barriguinha dessas os seus ovos, para não ter trabalho de cuidar de suas crias.

Mas o mosca não se sentiu intimidado, pegou um pouquinho de cocô, fez uma bela bolinha e foi procurar a tal mosquinha.

E saiu em direção ao pasto, passou pelo riacho e lá estava a Aeshna cyanea linda e magrela. Chegou e chamou-a pelo apelido de Libélula.

A libélula num vai e vem todo frenético, pois todos sabem que ela é hiperativa, já veio fazendo convite para o mosquinha:

“- Vem se sentar junto de mim numa folha de junco, pois eu já estou faminta e terei o prazer de ter de refeição uma bundinha de mosca!”

O mosca levou um susto, ai se lembrou que a magrela comia carne de outros insetos e até de girino e de peixinho.

Ele saiu assustado sem olhar para trás. Ele apenas escutou de longe a gargalhada da dona Libélula comentando com o todos o fato que o mosca levava nas mãos, embrulhada em folha de trevo, um montinho de merda de vaca.

No caminho ainda muito assustado esbarrou de encontrão a dona Abelha.

Foi logo se desculpando e a cumprimentando, mas como ela era arrogante, logo falou:

“-Abelha não. Sou uma Apis melliferas para você! Saia de perto de mim, pois você está cheirado à merda, enquanto eu estou cheirando a jasmim”

E o mosca ficou triste novamente, mas logo viu sentada numa flor uma bela borboleta e se chegando a ela o coitado do mosca humildemente foi perguntando:

“-Qual o seu nome bela borboleta de azul da cor do céu?”

E a linda borboleta de cor Azul do céu falou que seu nome era Morpho aega, mas podia ser chamada apenas de Seda Azul.

O seu mosca já todo tristonho pergunta sobre a mosca azul.

A Seda azul mostra alem da cerca uma carcaça de tatu e pousada nela estava à mosca toda azul.

Nessa altura do campeonato estava o maior zunzum no mundo dos insetos, todos já falavam que como podia um mosca tão pretinho, tão peludinho e tão comum estar apaixonado pela bela varejeira azul? E ainda por cima andar de baixo para cima com um montinho de bosta em baixo do braço.

Ali, próximo ao tatu morto, começou a juntar tudo que é inseto, até a Coccinella septempunctata, com seu corpinho de fusca antigo e sua carapaça vermelhinha vôo para cerca para ver a humilhação, pois todos sabiam que a varejeira o que tinha de bonita tinha de arrogante.

Até que chegou à carcaça o pobre mosca, todo cansado, quase comido pela libélula, humilhado pela abelha, ajudado pelas primas e pela borboleta e carregando seu presente embaixo do braço.

O mosca foi chegando humilde para a varejeira, anteninha baixa, coração gritante no peito e asinhas quase congeladas em pleno verão. Pediu licença e estendeu suas patinhas com o pacotinho.

A bela varejeira ao pegar na mão o montinho de cocô, fez cara de nojo e gritou:

“-Quem poderá amar animalzinho que se alimenta de sujeira a não ser outro igual!?”.

Todos os insetos que estavam ali caíram na risada e quanto mais ela xingava e humilhava o coitado do mosca, mais os insetos se aglomeravam, caçoavam e riam do infeliz.

O mosca abaixou as antenas humilhado e sem saber o que fazer começou a chorar baixinho.

Neste instante um trovão no céu limpo ecoou e do nada apareceu o Deus inseto.

Um inseto grande, majestoso, com cara de barata, asas de mariposa e nariz de borboleta. Cada inseto que para Ele olhava, via nele uma característica dele próprio, pois todos sabiam que aquele inseto barbado era o DEUS-INSETO, criador de todos os insetos e dos não insetos inclusive o pior dos bichos, o bicho humano.

O Velho, que de bravo não tinha nada, deu um lindo sorriso e pediu para o mosca voar no seu colo.

Falou com voz de trovão sem mexer por um segundo a sua boca:

“Todos nós somos irmãos, e todos nós temos a nossa função, se não fosse o filho Musca domestica e outros coprófagos já não teria mais terra, vocês com certezas morreriam de fome atolados em tanta merda.”

Assim, todos olharam para o mosquinha e abaixaram as suas anteninhas compreendendo a sabedoria divina e o Pai inseto para o céu voltou num piscar de mil olhos.

O mosquinha estava em estado de graça.

Ele tão apaixonado que estava, de repente viu lá longe uma mosca amarela pousada numa figueira e o seu amor na mesma hora acabou pela varejeira azul, pois agora estava apaixonado por uma mosca amarela que ainda não sabia qual era o nome dela.

E o amor tem dessas coisas, chega num vento e sai num acalento. E quando percebemos lá vem outro vento trazendo consigo um novo alento.

André Zanarella 16-11-2010