A bruxinha Xuda Rela

Naquela noite era o Grande Baile das Bruxas. Na casa de Xuda tudo andava em rebuliço, pois as suas irmãs andavam aos gritinhos pela casa, numa ansiedade febril.

Xuda era uma bruxinha feia, a mais nova de quatro irmãs. Verdade seja dita, ela era quase a reinvenção da Gata Borralheira: naquela casa ela limpava, cozinhava, arrumava, enfim, servia as irmãs como reles escrava. Zera, Nuil, e Karta, as outras irmãs Rela, eram já bruxas experientes, para elas ficavam as artes nobres da bruxaria e da magia. Xuda era a mais nova e a menos feia (eu sei, eu disse que ela era feiinha, mas para as bruxas, feiura é atributo essencial, quanto mais feia, melhor). Por isso, para ela, ficavam as tarefas banais, menos nobres.

E enquanto as suas três irmãs se preparavam para a grande noite das Bruxas, e poupavam o estômago para as iguarias do festim, Xuda choramingava em cima do caldo de patas de aranha que sobrara do dia anterior, e sentia-se a mais infeliz das bruxas.

Infelicidade de bruxa traz ressentimento e sede de vingança, até os humanos, humanos, sabem disso. E daquela vez, Xuda não queria deixar passar mais uma desfeita daquelas, em branco. Ah, não! Elas não a deixaram ir ao baile e riram-se na cara dela!?... pois iam ver se ela não sabia mexer o caldeirão delas!...

Mal Zera, Nuil e Karta saíram a grande velocidade nas suas vassouras, todas aperaltadas com os seus melhores chapéis bicudos e as suas melhores verrugas postiças, Xuda foi logo para o proibido quarto das bruxarias. Puxou de um dos pesadíssimos livros de receitas de magia verde (de raiva!) e deitou mão à obra: ia preparar um caldinho para as irmãs! Quando elas viessem, tarde da madrugada e mortas de cansaço, iria servi-lo, toda cheia de miminhos e denguices, para lhes "assentar o estômago e lhes facilitar o sono"...

Começou a juntar os ingredientes, que já tinha preparado de véspera: 6666 sementes de abóbora-menina, arrancados a dente à meia noite em ponto, caca fresca de coruja, meio litro de óleo de fígado de carapau estragado, tripas de osga e 3 olhos de rato vivo. Ah, e um dente de gato morto, para temperar...

Pronto, já estava. Agora era esperar por elas e dar-lhes o caldinho...

Segundo a receita, aquilo era dose para amansar uma manada de búfalos furiosos e fazê-los lamber-nos os dedos dos pés como gatinhos mal mortos! Então... "era só esperar, e as suas maninhas iriam ser suas aias e fazer dela sua mestra e senhora!" - dizia ela, entre o dente da frente que lhe faltava, e a língua bifurcada, que tinha sido uma vez mordida por uma cobra que ela estava a comer...

Mas... parece que houve um ligeiro engano na dosagem, quer dizer, na contagem das sementes de abóbora! e até correu tudo direitinho: elas chegaram, Xuda serviu-lhe a sopinha quentinha, elas adormeceram...

...só que, ao outro dia, Xuda foi encontrar, em cada uma das camas das irmãs... uma enorme abóbora-menina!

Três enormes abóboras-meninas era o que restava a Xuda como irmãs...

...

Menos mal. Abóboras não fazem de ninguém gato-sapato. E sempre dão uma boa sopa...