Mamãe durona
A mãe de Juninho sempre teve fama de durona, era uma daquelas senhoras carrancudas, fechada, de pouca conversa. Seu pai trabalhava e ficava fora de casa o dia todo e às vezes até viajava a serviço. Assim sua mãe teve desde cedo que ser mãe e pai de Juninho.
Não permitia que ele e seus irmãos brincassem na rua com os coleguinhas e vizinhos. Ela sempre dizia que a rua só ensinava o que não prestava. E dizia mais:
- Desde pequenas as crianças devem ser educadas para serem pessoas de bem na sociedade. Criança que não aprende a respeitar os outros, nunca será um adulto respeitado.
Assim foi criado o Juninho. Não podia fazer a maioria das coisas que ele achava que toda criança podia fazer.
Sua mãe era muito esperta, não tinha estudado muito, mas era muito viva e sempre tinha um argumento na ponta da língua para justificar suas medidas rigorosas.
Mesmo sendo Juninho o mais velho dos quatro irmãos. Brincar na praça sem a companhia de alguém adulto era impossível. Freqüentar a lan house sem uma boa desculpa, também não. Sair à noite desacompanhado era proibido já que seu bairro era muito perigoso. Freqüentar o barzinho da esquina, nem pensar, aquilo era diversão de gente grande.
Juninho via alguns de seus colegas brincarem na rua, soltarem pipa, jogar bola no campinho de terra perto de casa e não entendia porque as mães tinham opiniões diferentes a cerca da educação de seus filhos. E se perguntava:
- Seria necessário todo aquele rigor para garantir uma educação ideal?
- Por que algumas mães tratavam da educação de seus filhos de forma diferente?
Juninho até tentava argumentar, mas não adiantava, sua mãe sempre o lembrava de fato acontecido com alguns de seus coleguinhas:
- Você lembra o que aconteceu com seu colega o Francisco Ricardo? Saiu escondido de casa com a bicicleta do irmão, caiu e quebrou o braço na rua.
- E o Luiz que brigou na rua e chegou em casa todo machucado.
Juninho estudava em uma escola municipal próximo de sua casa. E na véspera do período de férias, era uma segunda feira, a diretora convocou todas as turmas para se dirigirem ao pátio, pois ela iria anunciar duas novidades interessantíssimas.
Na reunião a professora tratou logo de matar a curiosidade dos alunos. E foi logo dizendo:
- A escola foi contemplada com um laboratório de informática (algo sempre desejado por todos, pois a maioria dos alunos era de comunidades carentes) e a implantação de programa educativo com oficinas de dança, música, judô, karatê, teatro e outros. Foi uma histeria geral.
Juninho teve duas sensações. Uma maravilhosa. A possibilidade de ter acesso a certas atividades que só os coleguinhas mais ricos tinham como aula de judô, algo que ele sempre admirou. A outra sensação foi a de ouvir um não de sua mãe.
Ao chegar em casa Juninho educadamente, como sempre, chamou sua mãe em particular e disse:
- Mãe tenho algo muito importante para tratar com a senhora.
- Diga meu filho, seja rápido tenho muita coisa a fazer.
Juninho contou a novidade a sua mãe e disse que gostaria de se matricular logo em música e matemática e claro judô sua grande paixão.
Para sua surpresa sua mãe respondeu:
- Claro meu filho vou dar todo o apoio que você precisar. Lá é uma escola e você estará bem orientado e seguro. Não tenho dúvida de que você se sairá muito bem e será motivo de orgulho para seu pai também.
Juninho começou a entender que todas as mães são iguais. Estão sempre preocupadas com seus filhos. Umas mais, outras menos. Porque sabem o que é melhor para cada um deles, por serem grandinhos e mais experientes para orientarem as crianças pelas quais se sentem responsáveis.
E assim a melhor coisa a fazer é respeitar e acatar as decisões de pai e mãe, pois eles sempre sabem a hora de deixar e de proibir.