Professora durona
Minha professora Carolaine, era um ser humano mal humorado, impaciente e autoritário. Lecionava a disciplina que eu mais gostava história.
Eu adorava viajar pelo mundo através da história. Ia do passado mais antigo na pré-história, com os homens da caverna à antiguidade greco-romana com seus filósofos e gladiadores,
Passava pela idade média dos senhores feudais e seus grandes castelos medievais sempre guardados por cavaleiros de armadura de ferro, espada e lanças, montados a cavalo prontos para o combate.
Daí chegar à modernidade com as grandes navegações era um pulo, Pedro Alvares era para mim o grande descobridor do Brasil, corajoso por navegar tanto tempo em alto mar com sua caravela movida apenas a vento, sem auxilio de um radar ou GPS.
Por fim chegar a contemporaneidade. E constatar que a humanidade já havia promovido duas grandes guerras mundiais. Algo impensável para mim.
Tudo isso pra mim era maravilhoso. Ouvir historias, ler histórias, era uma das minhas atividades favoritas.
Porém não conseguia tirar boas notas na escola. A professora sempre pedia pra gente decorar todo o capitulo do livro para apresentar em forma de seminário na frente de toda a turma.
Isso era horrível pra muitos de nós.
Eu ficava extremamente nervoso esquecia o pouco do texto que com muita luta havia memorizado.
Na hora gaguejava e ficava vendo a professora torcer o nariz, os coleguinhas a se cutucarem e sorrirem de mim.
Pra mim a história não era para ser decorada e esquecida, mas estudada, debatida, questionada e compreendida.
Mais vai falar isso para a professora Carolaine. Ela era capaz de reprovar qualquer um de nós que questionasse seus métodos de ensino.
Daí ninguém nunca ter, se quer reclamado de sua maneira de ensinar.
Certo dia a escola promoveu uma semana cultural o tema era resgatar a historia da comunidade.
Várias pessoas de mais idade da comunidade vieram e contaram fatos e episódios que elas consideravam importantes por terem marcado a historia daquela comunidade.
Algo me chamou a tenção. A professora Carolaine nos ensina história do Brasil e do mundo em diferentes épocas e espaços, mas não sabe sobre a nossa própria história.
De que adianta saber toda a história do mundo e não saber a nossa. É valorizar demais o outro e desmerecer a si mesmo.
Na aula seguinte, levantei a mão e pedi a palavra. Algo que jamais teria coragem de fazer. A professora Carolaine era muito rígida e não nos permitia se dirigir a sua pessoa sem sua permissão previa.
Quando a chamei, ela tomou um susto, curvou–se para frente, arregalou os olhos e não escondeu sua cara de surpresa com a minha coragem e atitude, pois na sua aula ninguém ousava conversar, cochichar e muito menos interrogá-la.
Eu era um dos mais calados da sala, ela não perdeu tempo foi logo perguntado com ironia: - diga meu filho o que você quer?
De pé e com voz firme falei: - Quero lhe pedir uma coisa bastante simples, mas muito importante para nossa aprendizagem professora!
Ela ficou mais surpresa ainda com a elaboração e argumentação de minha pergunta. Olhava-me como se dissesse a si mesma: eu nunca imaginei que ele fosse capaz de tanto.
Professora carolaine, gostaríamos de aprender um pouco mais sobre a historia de nossa comunidade, bairro, cidade, região antes de estudarmos a historia do mundo.
Vermelha como um tomate, espantada que só alguém que viu uma alma penada no espelho do banheiro, me olhava com furor e desprezo.
Puxou o fôlego levantou o queixo, respirou fundo, soltou o ar dos pulmões, engoliu um seco, apontou o dedo trêmulo na minha direção e esbravejou:
- você agora é o coordenador da escola que vai me ensinar a como dar uma boa aula?!
Calado estava e assim permaneci.
Todos riram não da minha pergunta creio eu, pois não a entenderam, mas da resposta que a professora me dera.
Ela, mais aliviada prosseguiu, quando você for o professor, você poderá fazer da forma que achar melhor.
Fui enviado à direção por ela. E ameaçou:
- o mesmo irá acontecer com quem ousar fazer perguntas desnecessárias.
No dia seguinte o cúmulo do absurdo aconteceu. Minha mãe fora chamada pela direção à vir a escola para ser admoestada a cerca de meu comportamento e a se explicar.
Quando retornou para casa. Da porta mãe me gritou em pavorosa:
- Venha cá, nunca mais me faça essa vergonha, comporte-se e procure o seu lugar. A professora esta lá para ensinar e você para aprender. Eu e seu pai mantemos você na escola com o melhor que podemos para você estudar e ser alguém na vida e não para dar trabalho na escola.
Apesar de tudo, no dia seguinte a direção junto com a professora organizou uma aula passeio pelo bairro com destino final o museu na praça do centro da cidadezinha ribeirinha.
Foi uma aula inesquecível. Lá vimos objetos antigos, alguns utilizados pelos nossos avôs na pescaria artesanal.