O lápis*
Era uma vez um lápis que esperava por uma criança para com ele escrever as primeiras palavras. Enquanto aguardava, ele imaginava que lindas palavras poderiam sair de seu grafite. No local onde ele estava, ouvia muitas histórias e via bloquinhos lotados de anotações. Também via umas notas de dinheiro e se admirava do quanto elas eram procuradas. Todos os dias havia renovações na gavetinha do caixa onde elas ficavam.
Um dia ele perguntou a uma nota de R$ 1,00 que acabava de chegar, o motivo por que tantos procuravam por aquelas notas que, como ele, eram feitas de celulose. A nota sorriu desdenhosa e respondeu que elas realizavam os sonhos das pessoas, diferentemente de um lápis, com o qual, muitas vezes se escrevem dívidas que desfazem as esperanças de ver sonhos se realizarem.
Ele não pensava em anotar apenas dívidas, mas sabia que, anotando-as poderia estar ajudando na organização do orçamento de alguém que sonha. Além disso, ele também tinha os seus próprios sonhos, singelos, que não careciam de orçamentos caros.
O sonho daquele lápis era encontrar uma criança em fase de alfabetização. Seria maravilhoso poder ajudá-la no aprendizado de suas primeiras letrinhas. Ajudá-la a formar palavras e registrá-las em papel.
Ás vezes ele queria ser levado por um casal que trocaria cartas e mensagens apaixonadas. Lindas palavras de amor seriam gravadas por ele. Talvez elas pudessem durar uma vida inteira. Passados os anos, o casal, já velhinho, ainda poderia ler o que foi escrito com a ajuda de um simples lápis.
Aquele lápis só imaginava boas palavras para serem escritas. Um dia, no entanto, o comércio onde ele estava sendo vendido foi assaltado. Ele ouviu palavras duras, ameaçadoras e teve muito medo de ser levado por um criminoso que, com ele, escrevesse pedidos de regate e ameaças a pessoas bondosas. Ele nunca antes havia imaginado servir para uma vil função.
O bandido chegou bem perto dele, pois ele estava exposto próximo ao caixa. O lápis sentiu um tremor em suas fibras de celulose, mas o bandido esticou o braço e abriu rapidamente o caixa, retirou de lá outros tipos de celulose, mais maleáveis que ele, ou seja, as notas de dinheiro e se foi.
O lápis então, ficou aliviado e percebeu que, na sua humildade, ele também poderia servir para realizar sonhos. As notas que agora estavam sendo levadas se tornaram a causa de um pesadelo.
* Kelly Vyanna. Membro da ACEIB/DF.
Disponível em: www.aceib-gremioliterario-df.blogspot.com
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