DOUTOR PIRRALHO
Pirralho era como o apelido deixa claro, o pirralho da turma.
Todos nos seus 11, 12 anos, mesma turma da mesma escola.
Seu nome de verdade era Bruno. Apesar de pequeno, o menor da turma, Pirralho era respeitado. Todos gostavam dele porque era divertido e zoava muito. Mas ninguém tirava farinha com ele. Carregava escondido um canivete, e certa vez, cortou o braço de um moleque que achou que Pirralho era otário.
A turma zoava muito. Todos zoavam todos e na sala de aula zoavam os professores. E riam quando eles não conseguiam dar aula.
Mas engraçado... Pirralho não. Na sala ele ficava calado. Não ia contra os colegas, mas não participava da bagunça. Zoação pra ele era no recreio e fora da escola.
Pode isto parecer estranho, mas Pirralho prestava atenção principalmente na professora de Português. Ela falava sobre os livros e Pirralho ficava encantado.
A biblioteca da escola Pirralho era dos poucos que frequentava. Lá, naquele raro silêncio em sua vida, debruçado em livros, viajava na imaginação. Nas histórias de aventura era o herói destemido, nas de suspense queria logo chegar ao final, ficção científica, contos de cavaleiros de antigamente ou de adolescentes de hoje em dia, tudo ele lia. Todo um mundo e tantos mundos... Pirralho por alguns momentos esquecia seu próprio mundo.
O tempo passou e a maioria dos colegas de Pirralho daquela turma ficou pelo caminho. Há muito largou esquecido num canto qualquer, o canivete enferrujado.
Pirralho tornou-se Doutor Bruno, advogado bem sucedido com escritório no centro da cidade e larga clientela. Ele aprendeu muito na vida. Não foi uma vida fácil e as conquistas vieram com trabalho e trabalho. Agora os livros que lê são os livros das leis.
Mas Pirralho, quer dizer, Doutor Bruno, sempre tem tempo para ajudar a quem precisa. Hoje mesmo lá está ele visitando um presídio. Um cliente especial o espera. Dele nada será cobrado. Pirralho tem uma dívida a saldar. É justamente o garoto que um dia teve seu braço cortado pelo velho canivete.
FIM