O ninho do bem-te-vi

Era estio. Árvores do cerrado adornavam a estrada, os quintais, o caminho do riacho e a entrada da fazenda. O sertão no calor do vento e sem muitas novidades.

Ao lado da porteira do curral, num galho de cajueiro, um bem-te-vi, muito satisfeito, fazendo seu ninho. O sol no cair da tarde entregando os pontos nos raios cintilantes.

Era mês de agosto. As flores do cajueiro balançando-se ao sopro de uma brisa leve, entre o branco e o vermelho, caiam aos pés do gado, numa quase brincadeira: floc. Floc, floc!... e depois ali deitavam num tom castanho.

E a noite veio. Um silêncio encheu a árvore. Depois veio uma lua branca passeando num salão escuro e, se ouviu, saindo da varanda, o latido de um cão.

O bem-te-vi ergueu a cabecinha, rompendo a calma das asas.

_Quixote! Vem cá! _ gritou um menino de uns seis anos na direção do curral.

De pescoço intrépido, o pássaro seguiu os passos do menino. E ficou apreensivo.

O cachorro, porte de caçador, principiou a farejar.

Cheio de curiosidade, o menino pôs-se pé ante pé e, rondando o lugar, perguntou ao amigo:

_Que foi? Onça no curral?

O cão, sem nada falar, apenas continuou com o focinho no ar.

Bem-te-vi, firme no ninho, baixou as asas, com medo do cão, tornou a se sentar nos ovos, o coração subindo e descendo: ti bum, ti bum, bum, bum...

Guiado por Quixote, o menino chegou ao ninho da ave.

_Olha, Quixote! Um ninho de passarinho! _ exclamou numa euforia. _ Aqui, aqui neste galho!

E bem-te-vi sentiu uma pontada aguda no peito, como se lhe tirassem o chão.

Quixote espigou o corpo (não conseguia ver ainda), espigou um pouco mais, até que seus olhos pousaram no ninho.

_Que bicho pequeno e colorido, tão sem graça! _ e analisou a alegria do menino. _ Era apenas um pássaro escondido na árvore! Por que seu amigo achava uma maravilha?!_ E olhou melhor _ Oh, pobrezinho! Estava encolhido de medo!

_Meu ninho de bem-te-vi. _ falou contente o menino _ Nascerão pequenos filhotes!

O bem-te-vi, cravou os olhinhos bem brilhantes no rosto aceso de alegria do menino e repetiu baixinho, para si mesmo, até dormir:

_ Os filhotes são meus, os filhotes são meus...

E durante a noite não se soube mais de barulho no ninho... Mas bem longe já se ouve a chegada no vento nas noites do sertão.

Teresa Cristina flordecaju
Enviado por Teresa Cristina flordecaju em 04/08/2010
Reeditado em 04/08/2010
Código do texto: T2418412
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