O VELHO HOMEM E O VELHO CARVALHO

CERTA MANHÃ, QUANDO AS FOLHAS VERDES DA MATA AINDA ESTAVAM COBERTAS PELAS PEQUENAS GOTAS DE ORVALHO EMBRANQUECIDAS PELO FRIO DA MADRUGADA, UM SENHOR DE RUGAS NO ROSTO E OLHOS PUXADOS, ENTROU MATA ADENTRO E SE PÔS A OBSERVAR AS ÁRVORES.

NO INÍCIO TODAS AS ÁRVORES FICARAM APREENSIVAS, DESCONFIADAS, AMEDRONTADAS.

DEPOIS, CADA UMA, SE PÔS A MURMURAR SOBRE SUAS OPINIÕES:

- EU ACHO QUE ELE PROCURA POR UMA ÁRVORE VELHA E SECA QUE SIRVA DE LENHA PARA FORNO...

- FORNO? NÃO SEI! PRA MIM, A LENHA É PARA LAREIRA...

- POIS EU VOU ME ESTICAR TODA, PORQUE, COM TODA A CERTEZA, ELE PROCURA ÁRVORES GRANDES, PARA VIRAR BARCOS, COMO O PAI DO “PINHEIRINHO”...

E O MURMURINHO CONTINUAVA E SE ESPALHAVA POR TODA A FLORESTA.

ÁRVORES GRANDES, MAIS TÍMIDAS E AMEDRONTADAS, SE ENCOLHIAM TENTANDO PARECER MAIS VELHAS E FRACAS, ENQUANTO AS MAIS EXIBIDAS, ESPERANDO UM DESTINO GLORIOSO NAS MÃOS DAQUELE SENHOR, SE ESTICAVAM E FAZIAM BROTAR FOLHAS NOVAS, ENQUANTO INFLAVAM SEUS TRONCOS PARA SE APRESENTAREM MAIS ROBUSTAS E FORTES.

UMA DESSAS, MUITO INTROMETIDA, QUANDO VIU QUE O VELHO PASSAVA POR ELA, ESTICOU UMA RAIZ E O FEZ TROPEÇAR, DEPOIS, ESTICOU UM GALHO PARA QUE ELE SE APOIASSE PARA SE LEVANTAR, DIZENDO:

- O SENHOR DEVE TOMAR CUIDADO QUANDO ANDA NA FLORESTA, PODE TROPEÇAR E ATÉ SE MACHUCAR.

- SIM... SIM... EU SEI, MAS É QUE...

- OH! PARECE-ME QUE O SENHOR ESTÁ PROCURANDO POR ALGO ESPECIAL, NÃO É MESMO?

- AH, SIM! PROCURO POR UMA ÁRVORE E...

- OH! UMA ÁRVORE! POIS VEJA QUE COINCIDÊNCIA! EU SOU UMA ÁRVORE.

O POBRE SENHOR TENTA SE EXPLICAR:

- SIM, MAS É QUE EU...

MAS A ÁRVORE O INTERROMPE E COMEÇA A SE GABAR:

- POIS OLHE BEM PRA MIM. SOU UMA ÁRVORE ROBUSTA, DE TRONCO FORTE E GALHOS GROSSOS. TENHO FOLHAS TÃO VERDINHAS... QUE REVELAM MINHA TENRA, TENRA IDADE...

- SIM, SIM. VEJO QUE É REALMENTE UMA ÁRVORE BEM TALHADA PELA NATUREZA! UM PRIMOR DE PERFEIÇÃO – elogia o velho – MAS... NÃO É O QUE PROCURO...

A ÁRVORE EXIBIDA FICA MURCHA, MURCHA. SEUS GALHOS E SEU TRONCO, CAÍDOS, CAÍDOS.

O VELHO SEGUE PELA FLORESTA E ENCONTRA UMA ÁRVORE MUITO, MUITO MAIS VELHA DO QUE ELE. COM SEU TRONCO COBERTO POR CASCA GROSSA E CRAQUELADA. ALGUMAS FOLHAS AINDA LHE RESTAM, MAS JÁ SECAS E QUASE SE SOLTANDO DOS GALHOS.

A POBRE E VELHA ÁRVORE, AO VER O HOMEM SE APROXIMAR SE ENCOLHE TODA E SE PÕE A TREMER E TREMER. O VELHO SENHOR PERCEBE O TEMOR E SE APROXIMA AINDA MAIS E A VELHA ÁRVORE SE ENCOLHE AINDA MAIS:

- PORQUE ESTÁ COM TANTO MEDO VELHO AMIGO?

- ORA, COMO DISSESTE, SOU VELHO, SOU O VELHO CARVALHO. MINHAS RAÍZES ESTÃO PRESAS A ESTE CHÃO HÁ TANTAS ERAS QUE NEM ME LEMBRO QUANTO TEMPO FAZ E ME PARA A SEIVA QUANDO PENSO QUE UM HOMEM QUE MAL VIVEU ALGUMAS DÉCADAS, VENHA AQUI E ME ARRANCA AS RAÍZES, SEM SE QUER TENTAR SABER DE MINHA HISTÓRIA...

- PERDOE-ME VELHO CARVALHO, MAS SE DESEJAR, EU GOSTARIA DE OUVIR SUA HISTÓRIA...

E O VELHO CARVALHO SE PÔS A CONTAR QUE HÁ TANTAS ERAS, QUE ELE NEM SE LEMBRAVA, SUA SEMENTE ACABOU CAINDO NAQUELAS TERRAS E PROTEGIDA POR ÁRVORES VIZINHAS, LOGO COMEÇOU A BROTAR. COM O PASSAR DOS ANOS, SEUS GALHOS SE ESTICAVAM DE MANEIRA MAJESTOSA E SUAS FOLHAS OS COBRIAM COM FARTURA E ABUNDANCIA. DAQUELAS TERRAS FÉRTEIS, SUAS RAÍZES LHE PROVIAM A SEIVA MAIS DOCE E A NATUREZA CUIDAVA DO PEQUENO CARVALHO COM MUITO CARINHO E ESMERO.

OS ANOS SE PASSAVAM E O CARVALHO, AO CRESCER, RETRIBUÍA OS CUIDADOS QUE A NARTUREZA TINHA POR ELE, POIS LOGO, ELE TAMBÉM JÁ PODIA DORNECER SOMBRA PARA PROTEGER OS NOVOS BROTOS E SUAS RAÍZES SEGURAVAM MAIS UMIDADE PARA ESSES NOVOS BROTOS. SEUS GALHOS, JÁ UM POUCO MAIS CRESCIDOS, SERVIAM DE APOIO PARA OS NINHOS DE PASSARINHOS, ENQUANTO SUAS FOLHAS OS PROTEGIAM DO VENTO, DA CHUVA E DO SOL FORTE.

AS DÉCADAS FORAM PASSANDO, PASSANDO E O VELHO CARVALHO VIA, OUVIA E VIVIA MUITAS COISAS NAQUELA MATA E FOI POR CAUSA DE UMA DESSAS COISAS É QUE O POBRE TINHA TAMANHO MEDO DE HOMEM.

CERTA VEZ, QUANDO O VELHO CARVALHO, AINDA ERA UM JOVEM CARVALHO E AO SEU REDOR VIVIAM MUITAS VELHAS ÁRVORES, ENTÃO, ELES CHEGARAM... OS HOMENS!

A FLORESTA NUNCA HAVIA VISTO COISA TÃO BIZARRA... ESQUISITO!

BICHO ESQUISITO!

USAVAM UMA PELE, QUE QUANDO TOMAVAM BANHO NO RIO, TIRAVAM A TAL PELE E DEIXAVAM NA MARGEM. O JEITO DE ANDAR... AQUILO QUE CHAMARAM DE MÃOS... TUDO, TUDO MUITO ESTRANHO.

LOGO, LOGO OS TAIS HOMENS SE INSTALARAM NA MATA. ERGUERAM UMAS COISAS QUE O VELHO CARVALHO NÃO SOUBE EXPLICAR SE ERAM CAVERNAS OU NINHOS ONDE SE ABRIGAVAM... TUDO, TUDO MUITO ESTRANHO, MESMO!

POUCO TEMPO DEPOIS, OS HOMENS MOSTRARAM SUAS GARRAS.

TROUXERAM CONSIGO UNS MONSTROS DE COURO MAIS DURO QUE PEDRA E DENTES MAIORES QUE DE UMA ONÇA BRAVA (eram máquinas e tratores). TAMBÉM LEVAVAM NAS MÃOS UNS GALHOS COM UM DENTE GRANDE E QUADRADO (que eram machados), COM OS QUAIS COMEÇARAM A “MORDER” OS TRONCOS DE ÁRVORES...

COM A DESTRUIÇÃO DAS ÁRVORES E DA MATA, OS ANIMAIS TAMBÉM ACABARAM FERIDOS, OU PERDERAM SEU LAR. OS RIOS COMEÇARAM A SECAR, PORQUE SUAS NASCENTES FORAM MACULADAS. DESMATADAS, PISOTEADAS POR AQUELES MONSTROS ENFURECIDOS E DUROS...

ENTÃO, TODA A MATA SE UNIU CONTRA O BICHO HOMEM E SEUS MONSTROS E DENTES.

DURANTE A NOITE OS INSETOS, AQUELES PEQUENINOS, PEQUENINOS, PEGARAM CADA UM, UM PEQUENO TORRÃOZINHO, NA VERDADE UM PEQUENO GRÃO DE TERRA E EM UMA GIGANTESCA FILA, ONDE SE MISTURAVAM FORMIGAS, JOANINHAS E TODA A SORTE DE PEQUENINOS INSETOS E LEVARAM OS GRÃOS PARA OS “ESTÔMAGOS” DOS MONSTROS. DE MANHÃ, QUANDO OS HOMENS FORAM ACORDAR OS BICHOS, ELES RONCARAM, RESMUNGARAM, MAS NADA DE COMEÇAR A MORDER A FLORESTA, ACHARAM ATÉ QUE ELES ESTIVESSEM MORTOS, MAS QUAL NADA, O BICHO HOMEM, MECHENDO DAQUI, MECHENDO DE LÁ E UM POUCO ACOLÁ, ACABOU FAZENDO OS MONSTROS ANDARAM OUTRA VEZ, PARA DESESPERO DA MATA...

ENQUANTO O VELHO CARVALHO FALAVA, SUAS POUCAS FOLHAS DESPENCAVAM DE SEUS GALHOS E SUA VOZ FICAVA CADA VEZ MAIS FRACA, MAS ELE CONTINUAOU A CONTAR DA LUTA DA MATA CONTRA O BICHO HOMEM.

ENTÃO ELE CONTOU QUE DEPOIS DA TENTATIVA SEM SUCESSO DOS INSETOS, FOI ENTÃO A VEZ DAS ÁRVORES AGIREM. QUANDO OS MONSTROS SE PRONTIFICARAM A DERRUBAR AS GRANDES ÁRVORES, ELAS SE APROVEITARAM DE SUAS RAÍZES, QUE JÁ SE IAM LONGE SOB A TERRA, E, MUNIDAS DE TODA A FORÇA QUE A NATUREZA LHES DEU, COMEÇARAM A ERGUER TAIS RAÍZES E CONSEGUIRAM DERRUBAR OS GRANDES E DUROS MONSTROS... MAS FOI AÍ QUE AS COISAS FICARAM AINDA PIOR...

QUANDO OS GRANDES MONSTROS CAÍRAM, DERRAMARAM SEU SANGUE NO CHÃO DA MATA E DE SUAS VEIAS, FAÍSCARAM PEQUENOS RAIOS QUE INCENDIARAM O TAL SANGUE E O FOGO SE ESPALHOU PELA MATA.

NÃO QUE A MATA NÃO TENHA VIVIDO OUTROS INCÊNDIOS, POIS VEZ OU OUTRA, UM RAIO MAIS FURIOSO, DURANTE UMA TEMPESTADE, ACABAVA CAUSANDO PEQUENOS FOGARÉIS AQUI E ALI, MAS NADA TÃO CONSUMIDOR QUANTO AQUELE INCÊNDIO, CAUSADO POR AQUELE SANGUE.

ATÉ OS TERRÍVEIS BICHOS HOMENS TENTARAM APAGAR, MAS NÃO CONSEGUIRAM E FUGIRAM DEIXANDO TUDO PARA TRÁS E MAIS UMA VEZ, OS BICHOS, AS PLANTAS E TODA A MATA SE UNIU PARA APAGAR O GRANDE INCÊNDIO, CENTENAS DE PÁSSAROS TRAZIAM GOTINHAS DO RIO E “PINGAVAM SOBRE O FOGO, OUTROS BICHO CAVAVAM E JOGAVAM TERRA PARA TENTAR ABAFAR O FOGO, ATÉ QUE O PRÓPRIO CÉU DECIDIU AJUDAR E DERRAMOU UMA FORTE TEMPESTADE QUE, ENFIM, FEZ COM QUE O FOGO DEFINHASSE, DANDO LUGAR A TERRA MOLHADA.

E O VELHO CARVALHO FAZ UM APELO AO VELHO HOMEM:

- SEI QUE MINHA SEIVA JÁ NÃO CORRE MAIS SOB MINHA GROSSA CASCA E SE QUER POSSO SENTIR O VENTO CONTRA MEUS GALHOS, E POR ISSO LHE FAÇO UM PEDIDO QUE SERÁ MEU DERRADEIRO... PESSO QUE NÃO TRAGA MAIS SOFRIMENTO A ESSA MATA, MAS SE ESSE FOR O SEU DESEJO, PENSE QUE CADA MATO, CADA ÁRVORE, CADA BICHO É UMA VIDA PENSE SE O SEU OBJETIVO É ASSIM, TÃO MAIS IMPORTANTE QUE A EXISTÊNCIA DE TAIS E TANTAS VIDAS...

DEPOIS DESSAS PALAVRAS, A VOZ DO VELHO CARVALHO SE CALOU PARA SEMPRE.

O VELHO HOMEM BAIXOU A CABEÇA E CHOROU A PARTIDA DA VELHA E SÁBIA ÁRVORE. DEPOIS SE LEVANTOU E RETIROU DO BOLSO UM PAPEL ONDE DIZIA QUE AQUELA MATA HAVIA SE TORNADO UMA RESERVA PROTEGIDA, EM QUE NENHUM BICHO HOMEM PODERIA MAIS LHE FAZER NENHUM MAL.

O VELHO HOMEM SE VIROU PARA DEIXAR A MATA, QUANDO OUVIU UM RESMUNGO BAIXINHO, E UM LEVE MOVIMENTO EMBAIXO DE ALGUMAS FOLHAS SECAS DO VELHO CARVALHO, ENTÃO ELE SE ABAIXOU E MEXEU NAS FOLHAS, TENTO UMA GRANDE SURPRESA. SOBRE UMA DAS RAÍZES GROSSAS E CASCUDAS DA VELHA ÁRVORE, HAVIA NASCIDO UM BROTINHO.

O VELHO HOMEM AJEITOU O PEQUENO BROTO E DEPOIS SE FOI, COM A ESPERANÇA DE QUE UM DIA, TODOS OS BICHOS HOMENS APRENDESSEM A OUVIR E A RESPEITAR A VIDA, COM TODOS OS SEUS DIFERENTES SERES E ASSIM, QUEM SABE, ESSE MUNDO SERIA PERFEITO...

Maryluz
Enviado por Maryluz em 31/07/2010
Código do texto: T2409827